Só para no Carnaval: Santa Bárbara é pontapé inicial para festas populares

De dezembro a março, Salvador irá receber  3,7 milhões de turistas atraídos pelas festas e pelo Verão

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  • Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva / CORREIO

O cheiro de alfazema no ar e o tapete de pétalas vermelhas que cobrem as ruas do Pelourinho anunciam a chegada oficial das festas populares em Salvador. É com a Festa de Santa Bárbara, nesta terça-feira (4), que o ciclo de festividades se inicia, passando ainda pela Conceição da Praia, no próximo dia 8, Lavagem do Bonfim (17/1) e Festa de Iemanjá, em 2 de fevereiro. Agora, o calendário de festas populares só termina daqui a quatro meses, em março, com o Carnaval. 

Há 10 anos considerada Patrimônio Imaterial da Bahia, a Festa de Santa Bárbara, a padroeira dos bombeiros, já soma mais de 300 anos, sendo comemorada sempre no dia 4 de dezembro. A celebração tradicional é o pontapé para um período de grande movimentação na cidade - inclusive econômica.

De dezembro a março, Salvador irá receber  3,7 milhões de turistas, estima a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult). O número é 8% maior que o registrado em 2017, quando aproximadamente 3,4 milhões de turistas desembarcaram na capital. Sinal de hotéis cheios, comércio, bares e restaurantes movimentados e ainda de possibilidade de trabalho para vendedores ambulantes, que podem se cadastrar para atuar durante as festas no site www.sca.salvador.ba.gov.br.“As festas populares evidenciam o nosso patrimônio cultural, religioso e o sincretismo, que fazem de Salvador um destino único”, diz o secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Claudio Tinoco.Embora a temporada de festejos comece, oficialmente, com a alvorada às 5h desta terça (4), os preparativos para saudar Santa Bárbara começaram bem antes. Conhecida por proteger os devotos durante as tempestades, Iansã, como é chamada no candomblé, recebe homenagens em vários pontos da cidade.

Eparrei, Oyá! Dona Isabel Batista, que há 20 anos está à frente do Mercado de Santa Bárbara, na Baixa dos Sapateiros, não só começou os preparativos mais cedo, como até antecipou parte da programação. O caruru, servido sempre no dia 4 de dezembro, este ano foi antecipado para o dia 2.“Passam por aqui mais de 10 mil pessoas, que se amontoavam para conseguir um prato. Era tanta confusão que decidimos antecipar”, contou Dona Isabel.No mês de dezembro, a rotina no Mercado de Santa Bárbara fica diferente, movimentada. Todos se voltam aos preparativos da festa, desde a decoração da capela até o caruru, que é sempre distribuído pelos comerciantes.  Dona Isabel é filha de Iansã e garante: só tem a agradecer (Foto: Marina Silva/CORREIO) Filha de Iansã, dona Isabel só tem a agradecer. “Por cinco vezes, eu morri e revivi. Por isso hoje agradeço todos os dias a ela. Eu, hoje, não tenho nada a pedir”, contou. Ainda segundo a fundadora do espaço, “os comerciantes passam por dificuldades e os festejos de Santa Bárbara, além de serem um reflexo da fé, servem também para dar visibilidade ao mercado”. 

Assim como dona Isabel, muitos fiéis já começaram a acender velas, fazer pedidos, agradecer e alimentar a fé. Um deles foi Edvaldo Alves dos Santos, 62, que nesta segunda-feira (3) mesmo foi à capela rezar, depois de comprar sua vela vermelha. “Eu sou devoto desde que nasci e todos os anos venho acender a vela e acompanhar a procissão do dia 4. No final, termino o dia em uma festa de candomblé, ouvindo os batuques”, afirmou.

A vela de seu Edvaldo é uma das que enfeitam a capela do Mercado de Santa Bárbara. Além dela, há muitas flores e arranjos, tudo organizado minuciosamente pelo decorador Osvaldino Bonfim Costa, 58, há 35 trabalhando na organização de eventos religiosos. “Eu sou instrumentista industrial e formado em contabilidade, mas a fé me trouxe até aqui”, disse. Ainda segundo ele, decorar o altar da santa é um dom. “A gente se concentra e a inspiração vem, porque não pode ser de qualquer jeito”, contou.

Em segredo Para católicos, candomblecistas e umbandistas, a celebração oficial começa cedo para festejar Santa Bárbara e Iansã. Tudo começa com a tradicional queima de fogos, às 5h, seguida pela missa campal, o ponto alto da festa, que acontece na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho.

O que muita gente não sabe é que tudo é feito ‘a sete chaves’, em segredo, e nem o padre Lázaro, responsável pela Igreja do Rosário dos Pretos, pode saber dos detalhes.“Os dois decoradores fazem tudo e a gente só pode ver a decoração no dia 4. É uma surpresa não só para os fiéis”, disse. Osvaldino é um dos responsáveis pela decoração da Igreja do Rosário dos Pretos (Foto: Marina Silva/CORREIO) Ainda segundo ele, a temática deste ano é a luta por justiça, paz e amor. Nesta segunda-feira (3), o que dava para ser visto eram as flores, levadas por fiéis que se anteciparam para homenagear Santa Bárbara. Nos degraus da Igreja estava seu Edmilson Santana da Silva, que vende flores há mais de 15 anos no local. “Eu sou devoto de Santa Bárbara e aqui todos me conhecem. A festa, além de renovar a minha fé, é o meu ganha pão”, destacou.

Edmilson acompanha todo o calendário de festas populares, sempre vendendo flores: “De amanhã a oito, você me encontra na Conceição, depois Santa Luzia e eu só paro em Iemanjá”, afirmou.

Quem também ajeitava os detalhes era o Quartel dos Bombeiros. A imagem da padroeira dos bombeiros entra no quartel, onde há uma capela para a santa, e abençoa a equipe e o local. Igreja dos Bombeiros sendo preparada para festa (Foto: Marina Silva / CORREIO) Além disso, são servidos mil pratos de caruru para os devotos. O coronel Marquezine contou que o Corpo de Bombeiros procura preservar a tradição e respeitar o sincretismo. “Hoje em dia, por falta de estrutura, a comida é preparada de forma terceirizada, mas a distribuição acontece no quartel”, disse.

Com o fim da procissão e o retorno da imagem à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, começa a parte profana. A tradição de Santa Bárbara está fortemente ligada à cultura do povo negro, por isso a cidade fica repleta de rodas de samba, toques de atabaques e muita dança. O Largo do Pelourinho vai ter uma programação musical a partir de 14h30 desta terça-feira (4).

Confira a programação da Festa de Santa Bárbara:

Largo do Pelourinho Alvorada de fogos - 5h Repique de Sinos - 6h Missa Campal - 8h Procissão - Logo após a missa Jorginho Commancheiro - 14h30 Samba Chula de São Brás - 16h Conexão Negra - 18h30 Claudya Costta - 21h

Quartel do Corpo de Bombeiros Missa do Corpo de Bombeiros - 8h30 Tradicional Caruru - 12h

Largo Tereza Batista Samba na Fé de Santa Bárbara Atrações: 100% Samba e Chinelo de Couro Quando: 4 de dezembro, das 14 às 18 horas

Largo Quincas Berro D’água Samba de Oyá – Vou com Fé Atrações: Samba Fogueirão e Samba Jaké Quando: 4 de dezembro, das 15 às 21 horas

Largo Pedro Archanjo Samba Trator, Samba Simpatia e Pagode do Vinny Quando: 4 de dezembro, das 16 horas até a meia-noite

Calendário das festas populares:

As festas populares da Bahia começam nesta terça-feira (4) com a comemoração para Santa Bárbara 8 de dezembro é celebrado o dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia A festa de Santa Luzia acontece no dia 13 de dezembro De 31 de dezembro a 1º de janeiro acontece a  Procissão do Nosso Senhor dos Navegantes - Festa da Boa Viagem No dia 6 de janeiro de 2019 acontecerá a festa de reis no bairro da Lapinha  No dia 17 de janeiro de 2019 acontecerá a Lavagem do Bonfim.  No dia 21 de janeiro de 2019 acontecerá a 'Segunda-Feira Gorda' da Ribeira  Dia 31 de janeiro de 2019 tem festa para São Lázaro na Federação  Dia 2 de fevereiro é dia de saudar Yemanjá, a rainha do mar  A lavagem de Itapuã acontecerá no dia 21 de fevereiro  De 27 de fevereiro a 5 de março acontecerá o Carnaval. 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier