Sob um céu que nos protege

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  • Kátia Borges

Publicado em 6 de setembro de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

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O mestre no I Ching aconselha voo baixo. O hexagrama mostra um pássaro que sobe em direção ao céu. Seu corpo frágil, a aerodinâmica de suas asas, enfrentando o azul, essa cor que os seres humanos inventaram. Na infância, eu costumava sonhar recorrentemente que o Universo podia ser visto a olho nu. E olhava para o alto.

Dentro do meu sonho, eu via a trajetória dos cometas no espaço interplanetário, o escuro sem fim onde se alojam os satélites e planetas, os asteroides rondando a atmosfera terrestre, abrindo-se em meteoros em rota direta, sobre nossas cabeças. E a minha mente de criança ficava aterrorizada sem o anteparo do azul.

Um neuropsicólogo cognitivo diz que há uma tribo na Namíbia que sequer tem uma palavra para descrevê-la. Nem mesmo a reconhecem entre outras. Leio na BBC que os gregos não a mencionam nos seus relatos mais antigos. Homero, por exemplo, habitava um mundo psicodélico, com mares cor de vinho e ovelhas lilases.

Há descrições incríveis daquele período nos registros sobre a natureza, relatos de pessoas que, ao olhar o céu, enxergavam apenas a escuridão do Universo. Coube aos egípcios a primazia do primeiro pigmento. E o nome se fez cor, e sílica, e os olhos humanos o perceberam. Devemos aos egípcios as telas de Van Gogh em sua fase azul.

Física é poesia, ao explicar como os nossos olhos percebem as cores a partir de uma espécie de prisma forjado pela atmosfera terrestre, que divide o espectro da luz em sete filamentos. Assim, o modo como vemos a cor das coisas oscila entre o seu reflexo e a dispersão do comprimento de ondas eletromagnéticas.

O azul é a cor mais próxima à frequência da ressonância dos átomos, leio em um artigo sobre física para crianças. E fico mesmo espantada quando o pesquisador mostra como a luz azul movimenta os elétrons dentro das moléculas. Por ser mais curta, essa é a onda com maior capacidade de se espalhar sobre todas as coisas.

Não encontro uma autoria precisa para a frase “não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos”. Alguns dizem que deriva de uma máxima do filósofo Simeão. Dispersão e reflexo. Assim pousam as cores nas coisas e os pássaros se lançam aos céus. E nossos olhos alcançam o azul, protegidos da escuridão do Universo.