Sobe para 30 o número de mortos no final de semana

Felipe foi baleado na noite de sábado (9) em São Cristóvão; SSP não reconhece morte

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 12 de junho de 2018 às 02:00

- Atualizado há um ano

O final de semana que registrou o maior número de mortes em Salvador este ano foi ainda mais sangrento do que o que mostra o boletim da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP). O CORREIO conversou nesta segunda (11) com familiares do jovem Felipe Alberto Silva Matos, 27, que seria o 30o morto durante o final de semana. A Secretaria lista 29 homicídios entre 0h de sábado (9) e domingo (10). No entanto, os familiares informaram que Felipe morreu em decorrência de tiros que recebeu pouco antes da 1h da manhã de sábado (9) para domingo (10). 

"Ele tava indo pra uma festa com um amigo. Um policial desceu de um carro pra revistar os dois. Em seguida, mandou eles correrem e atirou". O amigo de Felipe, segundo familiares, era Genilson de Freitas Santana, 23, que consta no boletim da SSP.  Felipe Matos foi baleado no último sábado (9) em São Cristóvão e morreu na tarde de domingo  (Imagem: Divulgação) Genilson morreu no local, no Conjunto Ceasa, em São Cristóvão, e Felipe teria sido internado ainda com vida no Hospital Menandro de Faria, levado para o Centro Cirúrgico, mas acabou morrendo na tarde do último domingo (11).

Fontes do hospital confirmaram a presença de Felipe na emergência cirúrgica, mas não informaram se o paciente havia morrido. A SSP não confirma a morte do jovem. 

Morte Felipe trabalhava em um lava-jato e tinha uma passagem por roubo em Aracaju. "Mas isso faz muito tempo e nada justifica a morte", disse o amigo, que pediu para não se identificar. Eles acham que porque o PM foi morto, eles têm o direito de atirar e matar todo mundo".

"Os meninos estavam na moto, indo pra festa, e aí [policiais] se acharam no direito de tirar a vida deles. Foi policial", lamenta o amigo.

Funcionários de funerárias que atuam dentro do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML) relataram que poucas vezes viram tantas mortes em um curto período. "Ontem eu estava cansado de ir e voltar. A gente nunca viu tanto morto assim, só quando PM morre", diz um funcionário.

Retaliação Parentes e amigos das vítimas atribuem as mortes no final de semana ao assassinato do policial militar Gustavo Gonzaga da Silva, 44. O PM foi torturado antes de ser morto por três traficantes no bairro de Santa Cruz, na noite da última sexta (8)."Foi uma limpa nesse final de semana. Essa semana vai ser toda assim. E o policial era querido, aí que eles vão atrás mesmo... desce quem deve e quem não deve", conta um funcionário do IML.  "A Secretaria da Segurança Pública informa que este último final de semana (9 e 10 de junho) foi atípico e com um número de morte violentas em Salvador e mais 13 municípios da Região Metroplitana acima da média de 2018, que é de 10 casos. Lembra que recentemente, na semana entre os dias 28 de maio e 3 de junho, em SSA e RMS, foram contabilizados apenas 10 crimes contra a vida, número mais baixo se igualando a uma semana do ano de 2012", afirmou a secretaria em nota.

Felipe será enterrado às 11h desta terça (12), no Cemitério Municipal de Simões Filho. 

Rotina No velório do PM Gustavo Gonzaga, colegas reclamaram da situação dos policiais militares no estado.

"A gente é massacrado pela sociedade, tem umas escalas doidas, tem que fazer bico pra complementar a renda porque ganha pouco, vive estressado, é ameaçado... é complicado", reclamou um colega de Gustavo ao CORREIO.

"Nem pro aniversário de meu pai eu pude ir, porque pra entrar na rua os indivíduos pedem os documentos da gente. Se for PM eles matam", contou outro.

 O sepultamento de Gustavo ocorreu na manhã do último domingo (10) no cemitério Campo Santo e foi marcada pela comoção e revolta de amigos, familiares e integrantes da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil. Mais de 300 pessoas compareceram à despedida.

 *sob supervisão da editora Clarissa Pacheco