Sobrinho de ex-Bahia e cliente de Uéslei: conheça o xodó Ramires

Meia pegava baba em Águas Claras e cresceu ouvindo Edson Gomes

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  • Vitor Villar

Publicado em 22 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Felipe Oliveira / EC Bahia

Ramires marcou o primeiro gol como profissional antes da sua primeira entrevista coletiva. Isso diz muito sobre a trajetória meteórica do garoto de 18 anos, nova revelação do Bahia. Foi uma escalada de 16 dias: contra o Sport, no último dia 5, estreou. Contra o Palmeiras, dia 16, deu passe para gol de Gilberto.

Na quinta-feira (20), o menino balançou a rede, de canhota, contra o Botafogo. E na sexta-feira falou com os jornalistas pela primeira vez. “Tá sendo tudo muito rápido, né (risos)? Muita mensagem, Instagram ‘bombando’. Mas não pode se deslumbrar com isso”, diz.“São os 15 dias mais felizes da minha vida. Nunca pensei que seria assim o começo. Acho que ganhei uns 10 mil seguidores no Instagram (risos). Fui no shopping dia desses e um cara me viu, pediu para tirar foto. É muito gratificante”, conta.Ramires planejou a comemoração do primeiro gol durante anos. Na hora, não saiu bem como pensava: “Falei para mim mesmo que, quando fizesse gol, ia comemorar dançando reggae. Mas na hora deu aquela euforia e eu não consegui”, lembra o autor do primeiro gol tricolor na vitória por 2x1 contra o Botafogo, pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana.

A "euforia" foram os colegas cercando Ramires para enchê-lo de tapas, o trote que sempre acontece com os atletas lançados da base. “Quando alguém sobe e faz o primeiro gol rola isso. Engraçado que Clayton fez o primeiro gol dele (no Bahia) e os caras não pegaram ele (risos)”.

O reggae tinha um motivo especial:“Perdi meu pai com 16 anos. Faz dois anos. Ele era fã de reggae, escutava sempre lá em casa. De manhã cedo, eu costumava acordar com ele ouvindo Edson Gomes bem alto. Por isso, fiz a promessa. Infelizmente não deu, mas ele sabe que sempre vou ter ele no meu coração”.O pai, Edson, faleceu quando Ramires já era jogador da base tricolor. Foi durante um jogo pelo sub-17. O garoto ficou sabendo da fatalidade quando estava no ônibus, deixando o estádio.

Ramires até cantou na entrevista coletiva um trecho da música favorita dele. Liberdade, de Edson Gomes: “Vamos amigo lute / vamos amigo lute / vamos amigo ajude, senão / a gente acaba perdendo o que já conquistou / ê-a!”.

Para sempre na memória

Eric dos Santos Rodrigues, o Ramires – ou Eric Ramires, como ele prefere – nasceu no bairro do Uruguai, na Cidade Baixa, no dia 10 de agosto de 2000. Com dois anos, mudou-se para São Paulo. Voltou com 11 anos a Salvador. Fez testes no Vitória, mas acabou rejeitado. No Bahia, passou só na segunda tentativa.

Hoje, sua família – mãe e irmã – mora em Águas Claras. Ele, no Fazendão. O garoto confessa que tem ido pouco em casa.“Com tantos jogos, concentração, não estou tendo tempo de ir no meu bairro. Fui só uma vez depois da estreia, bem rapidamente. O pessoal todo me chamou, quis tirar foto. E eu procuro atender todo mundo que esteve comigo desde o começo”, explica.O garoto diz que lembrará para sempre do primeiro gol: “Ainda mais por ser numa competição internacional, título que o Bahia ainda não tem. Sensação inexplicável, com a Fonte lotada. Jogar no Esquadrão é um sonho de criança. Mas é isso, não pode se deslumbrar”.