'Sou contra feminicídio', diz acusado de matar corretora

Aidílson Viana de Souza, 44 anos, diz que cometeu o crime em legítima defesa

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  • Milena Hildete

Publicado em 14 de novembro de 2017 às 22:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr/CORREIO

Vítima de mais um caso de feminicídio, a corretora de imóveis Janaína Silva de Oliveira, 42 anos, já tinha pedido uma medida protetiva contra o ex companheiro, Aidílson Viana de Souza, 44 anos, que se apresentou no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no início da tarde desta terça-feira (14). Janaína foi morta a facadas no apartamento onde morava, no bairro do Barbalho, na última quinta-feira (9). 

Em depoimento à polícia, Aidílson diz que agiu em legítima defesa. Ele afirma que Janaína o atacou uma faca. “Eu estava saindo na garagem quando fui surpreendido pela facada. Eu tentei segurar a mão dela e entramos em luta e aí ela foi atingida. Não achei que ela fosse morrer por causa do ferimento. Eu sou contra feminicídio e o que aconteceu foi uma fatalidade ”, conta ele, que afirma fazer pós-graduação em Direitos Humanos.

De acordo com a delegada responsável pelo caso, Patrícia Marques, a corretora pediu a retirada do processo no final de 2014. “Ela pediu a medida protetiva, mas retirou. Os dois se agrediam mutuamente ”, informou ela. A vítima também tinha registrado três ocorrências por conta das agressões de Viana. A primeira delas foi em abril de 2014 e o acusado chegou a ficar detido na 23ª Delegacia (Lauro de Freitas). A segunda foi registrada em  abril de 2017, na 26ª Delegacia (Vila de Abrantes) e a terceira na 6ª Delegacia (Brotas).  O ex-companheiro da vítima se apresentou à polícia na tarde desta terça-feira (14) (Foto: Betto Jr./CORREIO) Amigos da família e vizinhos do casal contam que ex-companheiro da corretora era um homem ciumento, e que as brigas entre eles eram conhecidas no bairro. “Numa briga que eles tiveram, ela (Janaína) mudou a fechadura e ele não tinha mais a chave. Mesmo assim, ele ficava indo lá”, disse a filha da corretora, ao CORREIO, na manhã de domingo (12), quando o corpo de Janaína foi sepultado, no cemitério Campo Santo. Priscila, de 27 anos, era a única filha da corretora. 

O acusado, no entanto, contesta a versão. Segundo ele, a maioria das confusões ocorria por causa do uso de bebidas da mulher. O casal estava junto há cinco anos. 

O suspeito disse que foi até a delegacia do bairro após o crime, mas desistiu de se entregar. "Comecei a ter problemas na respiração, vi sangue na minha perna", diz. Depois, ele conta que foi ao hospital Menandro de Farias, em Lauro de Freitas, para receber atendimento médico.”Eu fiquei na porta da 2ª Delegacia tentando me recuperar e me recompor, mas decidi ir pro hospital, porque estava sem conseguir respirar”, contou.  Segundo o acusado, a vítima o atingiu com uma facada (Foto: Betto Jr./CORREIO) Ainda conforme Viana, ele e Janaína tinham acabado de tomar três caixas de cerveja quando iniciaram a discussão. “A gente estava bebendo, mas ela começou a dizer que eu ia pra rua procurar outra mulher”, conta. Ele diz que tinha comprado passagens para viajar com a ex-companheira no feriado de 15 de novembro para Praia da Forte.

Acusação Aidílson se apresentou acompanhado de um advogado e teve o mandado de prisão temporário cumprido. Ele será submetido a exames de lesões corporais e encaminhado para a carceragem da Delegacia de Furtos e Roubos. A delegada informou que o inquérito vai considerar o histórico de agressões. 

Homenagem Uma amiga da vítima, Luanda Mata, prestou uma homenagem a ela nesta terça. "Ela não conhecia o mal. Para ela só existia o bem no mundo. Ela acreditava nas pessoas. Ela acreditava na vida! Ela era feliz, alegre, vaidosa!", relembra. Leia o texto na íntegra:

Nunca pensei em usar meu face para divulgar uma atrocidade com uma pessoa da minha família! Sim! Ela era da minha família desde o dia em que a conheci e eu tinha apenas 12 anos! Ela entrou e permaneceu na minha vida até a última sexta-feira! Ela carregou meu filho no colo quando ele nasceu! Ela era doce, meiga uma boa mãe, uma boa filha, uma boa irmã! Ela era amada pela família, amigos e todos que a conheciam! Ela nunca conviveu com a violência. Ela não conhecia o mal. Para ela só existia o bem no mundo. Ela acreditava nas pessoas. Ela acreditava na vida! Ela era feliz, alegre, vaidosa! Ela gostava de roupas, de reuniões com a família e com os amigos. Ela gostava de forró! Ela gostava de natura, de bolsa, de batom igual todas nós! Ela era mulher! Ela amava incondicionalmente! Ela acreditou que o ciúme era amor, ela acreditou que ele ia se curar com amor! Ela era o próprio amor porque era isso que ela emanava! Ela era alegria! Ela abraçava a todos! Ela acredita no bem, na gratidão. Ela era gordinha! Sim, ela era gordinha e era a beleza em pessoa! E ela foi menosprezada por isso. Ela foi envolvida em um jogo psicológico depreciativo que a fez acreditar que ela não seria amada por mais ninguém além dele! Ela foi afastada da família, dos amigos! Ele não só depreciava ela, ele cuspia no rosto dela! E você deve estar se perguntando porque ela voltava pra ele, mas agora acho que você já sabe. Porque ela era amor! E acho que isso explica tudo. Ela era minha amiga, ela era minha irmã. Ela não gostava de apanhar. Ninguém gosta de apanhar! Ela não pode ser culpada pela violência física e psicológica que sofria. Eu não vou deixar que isso aconteça eu não vou permitir que isso seja feito com uma pessoa que só sabia o que era amor. Não pergunte porque ela voltava com ele. Pergunte onde está o assassino. Pergunte como uma pessoa é capaz de fazer isso com uma flor! Pergunte como pode existir tanta maldade nesse mundo. Não culpe a vítima. Culpe seu algoz! Encontre o criminoso para ele pagar pelo que ele fez pelas leis dos homens! Porque pelas leis de Deus ele já está pagando! Ele é o suspeito e deve ser encontrado! Mas ela vai continuar morando aqui dentro do meu coração para todo o sempre! Entreguem ele a justiça!