SP tem banco de dados de 732 estupradores que inclui até esperma para identificar crimes

Material ajuda investigare comprovar crimes mesmo anos depois

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  • Da Redação

Publicado em 18 de dezembro de 2017 às 08:01

- Atualizado há um ano

O Estado de São Paulo possui um banco de dados que contém dados genéticos, incluindo espermas, de 732 estupradores. As informações estão guardadas dentro do Instituto Médico Legal (IML) localizado dentro do Hospital Pérola Byington, localizado no Centro de São Paulo, e que é referência ao atendimento de mulher vítima de violência doméstica.

De acordo com o G1, as informações são utilizadas para a validação de estupros e também para a confirmação da identidade de suspeitos, além de permitirem comprovar se o suspeito já realizou outros crimes, como no caso de estupradores em série.

As informações recebidas pela polícia, a partir do relato das vítimas sobre o modo de ação do criminoso, são confrontadas com os vestígios recolhidos nas vítimas, como esperma, retirados pelos peritos do IML. Esses dados servem, por exemplo, para que seja comprovado que o suspeito cometeu o crime e eventualmente seja condenado pela Justiça.

Maníaco

São esses dados que ajudam a resolver casos como o do "maníaco do Ibirapuera", como ficou conhecido um homem preso em setembro pela Polícia Civil investigado por ter realizado ao menos 30 estupros na Zona Sul de São Paulo.

O auxiliar de limpeza Claudio Aquino dos Santos Mariano, de 44 anos, foi identificado visualmente por pelo menos seis vítimas que haviam sido estupradas na região em que o criminoso agia. O modo de ação do criminoso era sempre semelhante: abordar a vítima na rua com uma arma, levar para dentro de um carro e estuprar. Em um mesmo dia, o criminoso estuprou três mulheres: a primeira foi por volta das 18h no Morumbi; a segunda, às 20h, na Vila Olímpia; e a última, uma adolescente, no Sacomã, à meia-noite.

O médico e obstetra Jefferson Drezett, responsável pelo atendimento das mulheres vítimas de violência sexual no Pérola Byington, explica que a mulher que procura a delegacia para denunciar um caso de estupro é levada ao hospital em uma viatura policial, acompanhada de um investigador. No hospital, ela passa por exames no IML, onde os resquícios do estupro são recolhidos e analisados. O atendimento é feito exclusivamente por peritas mulheres.

Perfis genéticos

Segundo a Superintendência da Polícia Técnica-Científica do Estado de São Paulo, o banco de dados de coleta de vestígios biológicos em casos de violência sexual começou a ser criado em novembro de 2015. "Atualmente, o sistema conta com 732 perfis genéticos extraídos de vítimas. Esses dados são arquivados e cruzados com os perfis de suspeitos desse tipo de crime".

Toda vez que uma mulher vítima de estupro chega ao Pérola Byington, ela passa pelo Núcleo de Atenção Integral à Mulher em Situação de Violência Sexual (AVS), que funciona 24 horas por dia.

No local, a mulher vítima de violência sexual recebe, além de atendimento médico, psicológico e social, prevenção para gravidez, infecção de HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis e tratamento genitais. O hospital também realiza atendimento de pedidos de aborto por gravidez forçada e indesejada decorrente de estupro.

"Não há um único caminho para a mulher dentro do hospital, cada caso é analisado individualmente de acordo com as circunstâncias da violência. Para receber atendimento de saúde, não é necessário apresentar boletim de ocorrência. Algumas mulheres nos procuram porque querem atendimento de saúde, contra gravidez forçada indesejada, mas não desejam procurar a polícia por qualquer motivo pessoal, e isso é respeitado", explica Jefferson Drezett.

Já as mulheres que chegam ao hospital por outra forma, porque procuraram uma delegacia, são encaminhadas para acessar aos procedimentos do IML especializado com requisição de um delegado ou autoridade policial.

"Para passar no IML, não precisa fazer nenhum tipo mais de narrativa lá dentro do hospital, ela (a vítima) é encaminhada direto para o exame, que tem por função obter provas, elementos materiais para identificação e responsabilização do agressor", afirma o obstetra.

"Os dados ficam arquivados aqui no IML à disposição da mulher, que decide se quer representar ou não contra o abusador, independentemente de ela querer representar ou não, já que ela não é obrigada a realizar o processo [criminal], é uma opção dela", explica Drezett.

As mulheres que realizam exame no IML são encaminhadas, em seguida, para o pronto-socorro, onde podem realizar exames clínicos e receber a medicação contra doenças sexualmente transmissíveis.