Spike Lee denuncia o racismo no premiado filme Infiltrado na Klan

Com música inédita de Prince, filme é baseado na história real do primeiro policial negro de Colorado Springs, nos anos 1970

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 22 de novembro de 2018 às 06:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Adam Driver e John David Washington, filho de Denzel Washington: policiais infiltrados na racista Ku Klux Klan (Foto/Divulgação)

No tempo da Guerra Fria, existia a piada do espião americano que se preparou durante anos para uma missão secreta na União Soviética, aprendendo a língua e os costumes russos com o máximo rigor. Porém, mal pisou o território inimigo, foi desmascarado. Era negro. Spike Lee dirigindo Topher Grace e Adam Driver em Infiltrado na Klan, ganhador do Grande Prêmio do Júri de Cannes 2018 (Foto/Divulgação) História semelhante passou-se nos Estados Unidos dos anos 1970, mas com um desfecho diferente. Um agente infiltrado negro conduziu uma investigação, conseguindo, inclusive, tornar-se membro da Ku Klux Klan, organização supremacista branca.  Não foi desmascarado, pois não chegou a cruzar com os elementos da brigada da  extrema-direita: mantinha contatos apenas por telefone, havendo um outro agente, branco, para representar o seu papel em carne e osso.

Hilariante, esse episódio verdadeiro é agora retratado no cinema por Spike Lee, 61 anos, em Infiltrado na Klan, filme em que um dos mais incisivos cineastas americanos recupera o fulgor político e social de outros tempos e que ganhou o Grande Prêmio do Júri de Cannes 2018.

Filho de Denzel Washington - O cineasta combina a história de Ron Stallworth (John David Washington, filho de Denzel, que colaborou com Lee em quatro filmes) com uma investigação ao movimento Panteras Negras, algo que, na realidade, não existiu, mas que serve de contraponto para criar os dilemas morais do personagem.

Expande-se, também assim, o discurso dos movimentos negros a dois níveis diferentes, ambos importantes: um mais radical e revolucionário, dos líderes dos Black Panthers e, concretamente, de Patrice Dumas (Laura Harrier); e um moderado, reformista, defendido pelo próprio Ron Stallworth, que quer mudar as coisas pelo lado de dentro.

No filme (que tem uma música inédita de Prince: Mary Don't You Weep) fica clara a ideia de que, apesar de vencer uma importante e muito localizada batalha, Ron não conseguiu vencer a guerra. E as questões levantadas são hoje mais pertinentes do que nunca com os EUA  governados por Trump.

Aliás, as ramificações para a situação política atual dos EUA são mais do que muitas e nada sutis: como o uso dos slogans “America first!” ou “Make America great again!” por parte da odiosa Ku Klux Klan; a conversa sobre o ramo político do KKK, que opta por uma via menos violenta, que trará frutos mais à frente, ou o epílogo com imagens reais dos acontecimentos de Charlottesville, em 2017, onde uma ativista contrária à extrema-direita morreu atropelada. 

“Como poderia eu fazer um filme acerca da Ku Klux Klan e deixar a política de fora? Tínhamos acabado de filmar e estávamos fazendo a montagem quando aconteceu aquilo em Charlottesville. Inicialmente,  o final ia ser numa queima de cruzes da Klan, mas quando vi as imagens da reportagem na CNN decidi colocá-las no filme”, declarou Lee em Cannes.

Há quem critique Lee pela inclusão das imagens reais de Charlottesville, acusando-o de fazer ativismo panfletário. O certo, entretanto, é que os EUA (e não só eles, claro), ainda não aprenderam direito com a História nesse assunto de racismo. 

COTAÇÃO: ÓTIMO

Em exibição no Espaço Itaú Glauber Rocha Sala 1 (leg): 13h (sábado tem sessão gratuita para professores já cadastrados), 15h30, 18h, 20h30; Cinemark Sala 2 (leg): 18h30 (exceto quinta e terça), 21h (terça), 21h40 (sexta, domingo, segunda e quarta), 21h50 (sábado);  Cinemark  Sala 4 (leg): 23h40 (sexta), 23h50 (sábado)

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