Stalkers: o prazer de observar o outro pelas redes sociais

O hábito de stalkear é bem antigo, mas as redes sociais o intensificaram

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 06:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustração: Morgana Lima

Que o ser humano sempre se interessou pela vida alheia, isso não é nenhuma novidade. Num passado não muito distante, se um rapaz se interessava por uma garota, ligava para uma amiga dela e pedia informações. Procurava saber onde ela estudava, quem eram seu amigos, onde trabalhava... Agora, com as redes sociais, tudo ficou mais fácil.

Encontrar informações sobre alguém, espionar a vida alheia e, em casos extremos, perseguir virtualmente outra pessoa está ao acesso de todos. Em inglês, a prática se chama stalk, que, a rigor, seria “atacar à espreita”. Em português, a palavra foi adaptada para stalkear.

Antes da popularização da internet, o termo era usado apenas para casos extremos, em que a vítima era perseguida ou até ameaçada pelo seu algoz. No cinema americano, há um exemplo clássico: o filme Atração Fatal (1987), em que Dan Gallagher (Michael Douglas) tem um romance extraconjugal com Alex Forrest (Glenn Close). Ele decide pôr um fim no caso, mas a amante não se conforma e passa a ameaçá-lo. Alex revela-se uma psicopata e chega ao ponto de enviar à esposa do amante um coelho morto.

Espiando o ex

Hoje, no entanto, o termo stalker vale também para aqueles que perseguem alguém no mundo virtual. Principalmente entre os jovens, é muito comum visitar o perfil de um ex-namorado ou ex-namorada para saber como anda sua vida. É fácil descobrir por onde anda viajando, em que restaurante esteve ou onde está passando as férias.

A estudante Mariana*, 21 anos, depois que passou pelo término de um namoro, passou um bom tempo stalkeando o ex. “Eu fazia mesmo por curiosidade, mas não ia além disso. Não o perseguia fora do mundo virtual. No meu caso, usava mais o Instagram, porque ele postava mais ali”, conta.

Mariana diz que passou cerca de dois meses visitando o perfil do ex-namorado praticamente todos os dias: “Isso foi logo que terminei. Ficava querendo saber com quem ele estava saindo, se estava indo para uma festa, se estava em casa...”.

Ela tinha consciência de que a prática não lhe fazia bem e até lhe deixava ansiosa, mas não conseguia se controlar, como recorda: “Quando você termina um relacionamento e ‘apaga’ a pessoa de sua vida, fica bem mais fácil esquecê-la e até encontrar outra pessoa. Eu sabia que iria sofrer menos se parasse de stalkear, mas, mesmo assim, não conseguia evitar”.

Agora, três anos depois, Mariana tem outro namorado. Porém não costuma stalkeá-lo. Mas não é por falta de desejo: “Ele não usa as redes sociais, infelizmente”, diz, em tom de brincadeira.

Outra jovem, de 23 anos, Maria*, prefere o Facebook para stalkear, porque acha que nessa rede social é mais fácil encontrar a pessoa procurada. “Por exemplo, se eu conheci um cara na rua e ele me deu o primeiro nome, além de ter me dito onde estuda, é fácil achá-lo”, assegura. 

Maria diz que stalkear é um hábito comum entre seus conhecidos. “Outro dia, uma amiga viu uma foto de um menino que ela achou bonitinho, começou a investigar umas coisas e conseguiu encontrar o perfil dele. Ficaram amigos, mas pararam aí”.

Ansiedade

O psicólogo paulista Leonardo Goldberg, 28 anos, doutorando em Psicologia pela USP e especializado em redes sociais, diz que, após fins de relacionamentos, as pessoas estão mais suscetíveis a angústias e isso pode gerar a prática de stalkear. “É natural que um sujeito, em momentos de maior ansiedade, como no fim de um relacionamento, esteja mais interessado em saber o que o outro está fazendo. Sobretudo quando o relacionamento era intenso e ocupava parte do cotidiano do casal”.

Leonardo confirma que o hábito de stalkear é bem antigo, mas as redes sociais o intesificaram. Ferramentas como Facebook e Instagram facilitaram o trabalho dos stalkers, segundo ele: “Aquela figura que era obcecada por outra, que vivia telefonando, indo ao endereço ou mesmo espiando a vida dos outros, como o voyeur da literatura e do cinema, hoje tem ao seu alcance um dispositivo simples para acessar, de forma repetitiva, a localização e diversos conteúdos que a figura pela qual ele é obcecado deixa nas redes”.

Segundo o psicólogo, a vítima dos stalkers nas redes sociais dificilmente saberá que está sendo perseguida. Por isso, se você não quer ser espionado, deve tomar medidas preventivas: “A pessoa que prefere manter o anonimato deve desligar suas opções de público para desconhecidos e seus compartilhamentos de localização dos aparelhos móveis”. 

* Os nomes dessas entrevistadas foram alterados para preservar a identidade delas