Subúrbio 360 oferece atividades para 500 alunos de escolas públicas

Equipamento ainda terá cursos e atividades de saúde

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  • Nilson Marinho

Publicado em 5 de março de 2018 às 04:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

O grande perigo está na ruas. Pode parecer naquele tempo ocioso entre a escola e o caminho de casa, ou surgir num convite aliciador de alguém que já faz parte de um mundo de falsas promessas onde a linha da vida costuma ser curta demais. Estar em qualquer lugar que não seja esse é o grande alívio dos pais, da mãe solteira, da avó-mãe, de todos que pensam em um futuro de oportunidades para as próximas gerações. Essas são realidades que preocupavam a dona de casa Lea Mirian dos Santos, 60 anos, mas que mudou no último mês depois que ela passou a frequentar com a família o espaço Subúrbio 360, equipamento municipal que reúne atividades de educação, qualificação e lazer na  Rua da Paz, em Coutos,  no Subúrbio de Salvador. 

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É lá onde está instalado o equipamento que o neto da dona de casa,  Iago das Virgens, 8, tem passado todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, realizando atividades de conteúdo educativo, aprendendo sobre inovação e tecnologia e usufruindo dos aparatos tecnológicos da Escolab, projeto de parceria entre a prefeitura de Salvador e a empresa Google. 

“Meu neto sente alegria porque ele tem contato com outras crianças. Até a comunicação melhorou dentro de casa. Melhorou também para mim porque eu fico menos agitada, menos preocupada sabendo que ele não está nas ruas. Não tenho condições financeiras para pagar os cursos que são oferecidos na Escolab. Mas aqui é garantido e seguro”, conta. 

A Escolab é um dos projetos do complexo que tem mais de 10 mil metros quadrados. Por lá, nos próximos meses, outros cursos vão começar a funcionar como os profissionalizantes que serão oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), os de artes como teatro, grafite e produção cultural ministrados no Espaço Boca da Brasa e os serviços oferecidos pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). A expectativa é que até o final deste semestre todos os cursos já estejam sendo oferecidos. Com isso, 1,5 mil pessoas passarão a utilizar o espaço. 

Atualmente, na Escolab que funciona no espaço 525 alunos da Escolab, divididos em dois turnos, recebem toda a atenção durante o período oposto às suas aulas.  Muitos chegam já fardados para no fim das atividades partirem para suas escolas de origem com a ajuda de ônibus municipais.

No momento em que permanecem na Escolab, além das aulas, eles também fazem duas refeições. São servidos todos os dias cerca de 1 mil refeições, entre lanches, almoço e jantar. 

A procura pela Escolab é tão grande que nas escolas da região do Subúrbio já há lista de espera para que os alunos possam ter a educação em tempo integral. Em média, cinco pais, procuram o espaço diariamente para matricular seus filhos, mas a única forma de conseguir uma vaga é procurando a instituição onde o aluno está matriculado para que a direção possa fazer o encaminhamento. 

A preferência também são para aqueles alunos que moram no entorno do complexo. A dona de casa Rose dos Santos, 27, tem dois filhos matriculados na Escolab. O Samuel, 7, e o David, 10, chegam às 8h antes das aulas regulares na Escola Municipal Álvaro Vasconcelos, em Alto de Coutos. A mãe, dias depois da inauguração, procurou o local para se informar como matricular os filhos.

“O espaço veio para melhor a comunidade, melhorar o dia a dia das crianças que não tinham nada para fazer em casa depois da escola. Ter um espaço para aprender naquele período em que eles ficariam em casa faz com que os meus filhos se esforçem mais. Eu tenho algumas amigas que não têm com quem deixar seus filhos. Para elas, eu recomendo o Subúrbio 360”, disse.

Em março, a direção do complexo deve fazer um balanço para saber a frequência dos alunos. Aqueles que estiverem faltando ao projeto serão excluídos da lista de matriculados e novos alunos serão convocados. 

Retribuição  Certamente o dançarino Uz Cavalcanti, 24, verá sua trajetória sendo refeita por outras pessoas. Isso porque Uz, que foi selecionado aos 15 anos para o maior escola de balé do mundo, o Bolshoi, nasceu no Subúrbio. É lá também que há quatro anos ele ajuda crianças a galgar os primeiros passos no mundo da dança. 

Uz procurou de forma voluntária o Subúrbio 360 para ministrar suas aulas de balé e dança urbana. Ganhou da direção não apenas uma permissão, mas como também um espaço com tudo que é preciso para formar um grande artista.  “Eu também participei de um projeto social e treinei com cadeiras quando pequeno. Esse espaço é enriquecedor porque dessa vez as coisas estão acontecendo de maneira diferente. As oportunidades se concentram no centro. E, agora, ela nasce aqui, no Subúrbio, feita por pessoas e para pessoas da região”, comenta. 

As matrículas do professor Uz, assim como para todos os cursos, exceto a Escolab, formalmente ainda não começaram, mas de acordo com a direção do complexo, foi preciso fazer uma lista de expectativa devido a grande procura da população. No momento, para o curso do dançarino, existem 150 inscritos, contabilizando um total de 645 inscritos em 14 opções de cursos como karatê, moda e futebol. 

Mudança na rotina Quem mora em locais dominados pela criminalidade sabe onde pisar. Todos têm o conhecimento que existem linhas imaginárias criadas por facções que determina até que ponto o morador pode chegar. Visitar bairros vizinhos de facções rivais, por exemplo, pode ser um caminho sem volta. Mas é algo que aparentemente tem mudado.

Pelo menos é o que acha o professor de vôlei José Paranhos, que há duas semanas recebeu a missão de ensinar o esporte para cerca de 70 pessoas, de Coutos e de bairros próximos.  Trabalhando com crianças de seis anos até adolescentes de 16, o professor conta que, mesmo em pouco tempo, a mudança no comportamento dos alunos é visível.  Crianças que antes nunca imaginavam entrar em uma quadra de vôlei ou no bairro vizinho, hoje recebem as aulas em espaço todo equipado tendo a chance de interagir com outras pessoas. 

 “A maioria está tendo o primeiro contato. Na verdade, meu sonho sempre foi trabalhar em alguma comunidade com uma estrutura dessas porque temos muitos talentos que amanhã podem estar representando o nosso país, além das aulas servirem como ferramenta para tirar essas crianças da situação de risco e auxiliar na formação dos jovens. Às vezes podemos não ter um aluno com bom rendimento, mas teremos bons cidadãos”, diz. 

Aprendendo À medida que nos aproximamos da sala de linguagens é possível escutar o barulho de risos que ecoa de dentro. De longe, à primeira vista, não conseguimos acreditar que naquele espaço crianças, além de correr e pular, também aprendem contéudos de português. O aprendizado na Escolab acontece de uma forma mais lúdica e agradável que o ensino convencional. 

Nada de criança sentada na cadeira durante horas. Por isso o frenesi da criançada que tentava formar palavras com letras espalhadas pelo chão de maneira rápida. A brincadeira, de acordo com a professora Ivana Magalhães, estimula às crianças a fixar os contéudos, sem tanta pressão, tampouco cobranças.

“É exatamente essa proposta, na cabeça dos alunos eles estão brincando, mas nós temos o objetivo de facilitar e alcançar a construção do conhecimento”, explica a professora. 

Deve ser por isso que quando alguém pergunta para as irmãs Bianca, 11, e Bruna Ribeiro, 9, o que elas mais gostam de fazer na Escolab, a resposta vem sem muito pestanejar: “Brincar. Aqui a gente brinca. Não é como na nossa escola que temos que ficar sentados fazendo o dever”, conta Bianca.

Talvez, se não fosse na Escolab, as duas irmãs nunca teriam a chance de aprender de uma outra forma que não fosse aquela oferecida pelas escolas tradicionais.  “Por isso que eu sempre gosto de citar aquele autor que diz assim, ó, : 'Feliz do professor que transforma a matéria em brinquedo e convida o aluno a brincar”, completa a professora, antes de voltar a conduzir o ensinamento ‘disfarçado’ de brincadeira. 

VAI LÁComo se inscrever Quem estiver interessado em um dos cursos deve procurar o Subúrbio 360, às terças, das 9 às 11h, e as quintas, das14 às 16h, portando RG e comprovante de residência. O equipamento fica na  Rua da Paz, s/n, em Coutos (a antiga sede da Fundação Cidade-Mãe). Centro Especial de Reabilitação (CER)  O serviço é oferecido pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e tem capacidade de atender até 400 jovens com deficiências: física (200) e intelectual (200). O centro funcionará em abril.Espaço Boca de Brasa     São 120 vagas para oficinas de teatro, grafite, produção cultural, filmagem em celular, dança e home studio. As inscrições para as oficinas devem começar na primeria quinzena de março.

Cursos profissionalizantes  Na cozinha industrial, serão ministrados cursos em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) . Cada curso oferecerá  20 vagas por turma, pela manhã e tarde. Começa a funcionar na primeira quinzena de março.Escolab A procura pela Escolab é tão grande que nas escolas da região do Subúrbio já há lista de espera para que os alunos possam ter a educação em tempo integral. Em média, cinco pais, procuram o espaço diariamente para matricular seus filhos, mas a única forma de conseguir uma vaga é procurando a escola onde o aluno está matriculado para que a direção fazer o encaminhamento.