Sucesso teatral baiano dos anos 90, ‘Os cafajestes’ é remontado

Peça acontece a partir de sexta, 21h, no Teatro Módulo, em temporada até novembro

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  • Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2009 às 09:53

- Atualizado há um ano

A mulher ideal para eles seria Amélia. Sim, aquela mesma, disponível, sem vaidades e toda amorosa. Onório, Alencar, Estevão e Alfredinho representam quatro faces do mais descarado machismo e não têm, nem por um segundo, vergonha de assumir isto para o público. Protagonistas do musical Os cafajestes, eles cantam, dançam e extravasam suas emoções a partir de sexta, 21h, no Teatro Módulo (Pituba), em temporada até novembro.

Os cafajestes é um dos maiores sucessos do teatro baiano da década de 1990. Com texto de Aninha Franco e direção de Fernando Guerreiro, encantou o público baiano e de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo por sua capacidade de tirar sarro dos estereótipos do machão brasileiro. Revigorado e com novo elenco, volta à cena apostando no poder sedutor do clube do bolinha. O alvo, claro, é sempre a mulher.

Os machões: Renato Fechine, Rafael Medrado, Daniel Rabelo e Marcelo Timbó Foto: Divulgação/Sora Maia

“A peça é um grande deboche. Pode parecer defesa do machismo, mas na verdade a gente mostra o ridículo”, afirma Fernando Guerreiro. Ele diz que,entre seus muitos trabalhos teatrais, Os cafajestes tem lugar especial. “Eu gosto muito deste espetáculo e me divirto fazendo ele”, reforça Guerreiro, que decidiu remontá- lo por dois motivos: o pedido do público, principalmente o feminino, e o desejo de investir nos musicais.

OS MACHÕES Os cantores Renato Fechine e Marcelo Timbó e os atores Rafael Medrado e Daniel Rabelo são os machões da hora. Foram escolhidos para dar o equilíbrio entre o lado musical e o dramatúrgico, como explica o diretor musical Marquinhos Carvalho. No projeto desde a primeira montagem, ele diz que texto e canções vão se casando para falar do universo machista. “É um espetáculo divertido e glamuroso”, diz.

A trilha sonora foi gravada em estúdio e, segundo Marquinhos, com todo o requinte da produção de um disco. “Montamos uma grande banda, com baixo, teclado, guitarra, bateria e afins. Poderíamos até lançar um CD, se fosse o caso”, completa. No palco, os atores-cantores executam a seleção ao vivo, ora sozinhos, ora em grupo.

Fernando Guerreiro diz que o público feminino pedia a remontagemFoto: Evandro Veiga 

O roteiro inclui clássicos de vários períodos como Ai que saudade de Amélia (Mário Lago), Um homempra chamar de seu (Erasmo Carlos e Roberto Carlos), Elegia (Caetano Veloso) e Chocante (Eduardo Dusek). Músicas como Sílvia(Camisa de Vênus) e Nega na pia (Gilberto Gil) ficaram de fora, pois foram consideradas politicamente incorretas além da conta. Mas o diretor diz que evitou mexer muito na concepção, pois quando se trata de clássicos, as pessoas querem “assistir à mesma peça que viram antes”.

Atores estreantes, os cantores Marcelo Timbó e Renato Fechine aceitaram o desafio de pronto. “Nunca pensei que iria virar ator a esta altura, mas Fernando Guerreiro é uma grife”, justifica Fechine, acrescentando que sempre utilizou elementos de humor em suas apresentações. Já Timbó, vocalista do Batifun, destaca o profissionalismo da empreitada. “Não imaginava que ser ator dava tanto trabalho. São seis, sete horas de ensaio diários”, conta o músico, que pretende seguir com sua agenda de shows. “A única coisa que me preocupa é a grande expectativa das pessoas”, diz o rapaz, que assume o personagem que, no original, foi de Daniel Boaventura.

Peça teve destaque nacionalQuando resolveram montar Os cafajestes, em 1994, Fernando Guerreiro e Aninha Franco vinham do sucesso Oficina condensada (1993). O monólogo interpretado por Rita Assemany falava sobre a história das mulheres ao longo dos séculos, e, obviamente, não poupava os homens.

Com o fim da temporada, o diretor encomendou à autora um texto que falasse do machismo à brasileira.O resultado foi Os cafajestes, apresentado no formato teatro musicado, comum a de seleção - de músicas e tiradas - de deixar qualquer mulher arrepiada.

Colocar uma lente de aumento em traços típicos do homem brasileiro - como o desejo de ter uma mulher lhe paparicando dia e noite - rendeu ao texto o Prêmio Sharp de melhor musical brasileiro em 1995. Já o público, adorou a mistura em clima de cabaré e com muita interação com a plateia.

O quarteto que deu vida aos machistas da montagemoriginal, de 1994Foto: Divulgação 

“Depois da peça, reforcei um ponto de vista meu: tem muita mulher que não gosta de homem certinho. Algumas adoram um bom cafajeste, daqueles mais elegantes, cheios de lábia e charme, ele sé que fazem sucesso com elas”, afirma Aninha, acrescentando que os homens se identificam muito com o quarteto e ficam “alucinados” ao perceber que muitos por aí pensam como eles.

A montagem original trazia no elenco os atores George Vassilatos, Osvaldo Mil, Fábio Lago e Daniel Boaventura e a peça ficou seis anos em cartaz, sendo vista por mais de 250 mil pessoas, em Salvador e em várias cidades do país.

Ano passado, o espetáculo teve uma nova montagem em São Paulo, também dirigida por Fernando Guerreiro. O quarteto macho trazia novamente os atores Osvaldo Mil e Fábio Lago, em parceria com os cantores Juan Albo e Leo Jaime.