Sucupira é aqui

Por Aninha Franco

  • D
  • Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A ficção brasileira está menos irreal que sua realidade, exceto em personagens como Odorico Paraguaçu (Dias Gomes, Salvador, 1922/1999), tão próximo do cotidiano nacional que mostra a política contemporânea. A candidatura de Lula da Silva, condenado e preso por corrupção e, portanto impedido de candidatar-se à Presidência pela Lei da Ficha Limpa que ele mesmo assinou, com holograma e mote de que o preso voltará “para fazer o Brasil feliz”, é a atualização de Odorico Paraguaçu. Menos genial.

As declarações de Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil, ex-combatente à ditadura, de Gleisi Hoffman, presidente do PT, senadora do PT pelo Paraná, de Jaques Wagner, ex-ministro de várias pastas, ex-governador da Bahia, sobre a candidatura Lulista são sucupirentas. São de um Brasil que nunca conviveu com um momento tão irreal na sua história pós-invasão europeia quanto agora. E diante dessa trilha, escuto Odorico esbravejar que “isto deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta.”

Mas com a “alma lavada e enxaguada”, consumidora da “imprensa lida, olhada e escutada” desde a juventude, colunista dela desde os anos 1970, declaro perplexidade diante de tudo isso que “nunca antes na história desse país”, senão na ficção de Dias Gomes. Porque quando Odorico foi criado por Gomes era apenas o símbolo de uma política de municípios atrasados do Nordeste, que dispunham como projetos inaugurações de cemitérios, obras de prefeitos multiplicados no Brasil - só na Bahia há 417 – para sustentar a política estadual dos governadores.

Política horrível e hilariante que nunca havia dominado o país, espelhando o Sudeste rico no Nordeste miserável, mostrando um Brasil sem rumo, confluente de dezenas de partidos inúteis, e de um partido que fez a melhor oposição que já houve no país até chegar ao poder, e nele permanecer nas últimas quatro presidências. Esse partido que ameaçou incendiar o país se seu grande líder - Lula da Silva - fosse preso, hoje estima reunir 2 mil pessoas na cidade de Contagem, em MG, para lançar a candidatura de um preso por corrupção, num estado de um governo petista ameaçado de cair por corrupção, pela presidente do partido investigada por corrupção.

Que Sucupira é essa em que o Lulismo se transformou? Aliás, a partir de agora deixarei de usar o termo lulopetismo porque inexiste petismo. Só existe o Lulismo messiânico e conselheirista trazido ao século XXI pelo holograma.

O Congresso Nacional que, em 2018, disporá de um orçamento de R$ 10,5 bilhões para manter 513 deputados federais e 81 senadores, R$ 6,1 bilhões para custear as despesas de 513 parlamentares e 3.344 servidores ocupantes de cargos efetivos e 12.456 servidores ocupantes de cargos comissionados é, por si só, o Legislativo de Sucupira, quase 100% “larapista”, “maucaratista”, e sem nenhuma “merecência”.

O que dintingue o Brasil de Sucupira é seu Poder Judiciário que, se tem Gilmar Mendes, que parece incumbido de defender arduamente a mentalidade sucupirense de que o que é bom para Odorico Paraguaçu é bom para o Brasil, tem Sérgio Moro, que desde 2014 promete fazer da obra de Dias Gomes apenas ficção.

Que os orixás o protejam!