Sulacap aposta em atividades culturais para reviver tempos áureos

Nova gestão do edifício histórico anuncia novidades como café bistrô, apresentações artísticas e galeria de arte

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  • Da Redação

Publicado em 10 de março de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Era domingo de Carnaval e várias luzes começaram a acender no Edifício Sulacap. Cores, projeções e artistas se colocando nas janelas da varanda para o evento que ficou batizado como Paredão Tropical, reunindo nomes como Brown, Gaby, Xanddy, Lia de Itamaracá e blocos afro naquele prédio que é referência na festa e também na cidade.  Cada luz acesa iluminava também alguma memória no espaço onde os famosos encontros de trios aconteciam e também a chama de um prédio que nasceu para ser símbolo de uma era de modernidade em Salvador, que enfrenta tempos difíceis mas que que tenta se reerguer. Ações como o Paredão Tropical, patrocinado pela Devassa, tentam usar elementos como a cultura para revitalizar o prédio, que já virou alvo de brigas judiciais e ainda enfrenta problemas estruturais. 

CONHEÇA O CORREIO AFRO Síndico do Sulacap desde abril do ano passado, Adson Improta afirma que o grande objetivo da gestão é mudar a ideia de que o prédio é abandonado. Desde que assumiu, aposta em ações como programações alinhadas a diferentes períodos do ano, a construção de uma identidade de comunicação, eventos culturais e a própria revitalização dos espaços. Música, moda e rapel - O Paredão Cultural foi uma espécie de cereja do bolo. Antes disso, o prédio ganhou uma nova cafeteria, no térreo, iniciou a reestruturação de espaços físicos. Os próximos passos, conta, é a abertura de mais um café bistrô e uma galeria de arte no terraço do prédio, com vista para a Baía de Todos os Santos. Adson Improta é síndico do Sulacap desde abril do ano passado (Foto: Marina Silva/CORREIO) Nesta quinta (10), o local recebe um desfile de moda promovido por um de seus condôminos, Ualisson Costa, dono da Ual Produções - empresa que trabalha com agenciamento de modelos oriundos da periferia. No Sulaverão, 10 modelos vão desfilar coleções da temporada feita por lojistas parceiros da agência. "A partir daí, temos vários projetos. Desfiles de moda, apresentação de canto lírico e também de rapel, segurança e salvamento, para mostrar uma parte educativa, cultural, esportiva. Estamos com a possibilidade de trazer um evento gastronômico nacional", enumera Improta. Tempos áureos - Obra remanescente de Art Decó, o Sulacap foi inaugurado em 1946, quando a cidade pensava em criar uma nova ambientação para o seu centro econômico, que girava entre a Praça Castro Alves e a Rua Chile. O historiador Rafael Dantas explica que Salvador ainda tinha um ar muito colonial e tentava fazer um projeto semelhante ao que o Rio de Janeiro viveu nos anos 1920, com uma série de reformas em sua estrutura física, novas construções e a busca pela chamada modernidade. "Na década de 1940, o Sulacap é inaugurado, com Salvador buscando uma cidade moderna, na contramão de uma cidade antiga. Por isso é um prédio grande, um prédio de escritórios", afirma Rafael. Após viver anos de auge, o prédio iniciou um processo de decadência nos anos de 1970. Foi quando o então governador, Antônio Carlos Magalhães, construiu as chamadas Avenidas de Vale - como Bonocô, Nazaré, Canela e Barris - que direcionaram o crescimento da cidade para regiões do Iguatemi e Paralela - consolidado entre os anos 1990 e 2000, levando a pompa comercial para essas regiões. O prédio é tombado desde 2008 pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) desde 2008. Segundo Improta, há um projeto de captação para continuar com os reparos e a gestão aguarda a oportunidade de se reunir com o prefeito de Salvador, Bruno Reis, para pedir apoio nas intervenções de recuperação. Ainda de acordo com o síndico, um novo projeto arquitetônico e de estrutura será divulgado na primeira quinzena de abril. Mestrando em Cultura Material e Iconografia pela Ufba, Rafael Dantas avalia que obras no prédio, por si só, não são suficientes para uma revitalização do espaço: "O Sulacap, sozinho, passando por tudo isso, não vai suportar e alcançar vitórias. É preciso que, com as galerias, cafés, projetos ligados à cultura, todo o entorno também seja pulsante. Assim como era quando o prédio foi inaugurado", acredita Rafael.