Suspeito de matar assessor transferiu dinheiro para estelionatária

Segundo a polícia baiana, Jéssica Mattos é investigada em São Paulo por golpes

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  • Gil Santos

Publicado em 23 de novembro de 2018 às 18:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

A mulher para quem Gabriel Bispo dos Santos, 24 anos, transferiu R$ 59,5 mil antes do assassinato do assessor da diretoria da Companhia de Processamento de Dados da Bahia (Prodeb) Michel Batista Santana de Sá, 35, está sendo investigada em São Paulo por estelionato. De acordo com o responsável pela investigação do caso, delegado Delmar Bittencourt, Jéssica da Silva Mattos tem envolvimento em golpes similares ao que Gabriel aplicou em Michel. 

O comprovante no nome da mulher foi apresentado pouco depois do crime pelo então advogado de defesa de Gabriel, Udson Dantas - ele, que não representa mais Gabriel, afirmou que o cliente matou Michel, após sofrer um golpe. 

A polícia baiana ainda não sabe se Jéssica tem alguma ligação com o assassinato do assessor, mas afirmou que ela já é investigada por golpes em São Paulo. Questionado durante apresentação nesta sexta-feira (23), Gabriel não comentou sobre a relação dele com a mulher. Procurada pelo CORREIO, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo  (SSP-SP) não confirmou as informações. 

O documento, com data do dia 16, mesma quinta-feira, informa que a transação foi feita por volta de 13h13. Segundo a defesa de Gabriel na época, Jéssica seria esposa do 'verdadeiro estelionatário'. Comprovante da transferência (Foto: Reprodução) Em entrevista ao CORREIO dez dias depois do corpo de Michel ser encontrado, a defesa de Gabriel afirmou que Jéssica seria esposa de um estelionatário que teria clonado o anúncio de Michel e estaria se passando pelo assessor. Na versão da defesa, Gabriel transferiu o dinheiro para Jéssica depois de receber uma orientação do bandido que se passava por Michel. 

Gabriel ainda não tem um novo advogado e preferiu não falar na coletiva à imprensa - não se sabe, portanto, se mantém essa versão dos fatos. Ao negar ter cometido o crime, ele já mudou parte da versão apresentada à epoca - que teria matado Michel após ser vítima de golpe. 

A família da vítima questionou essa versão na época dizendo que o comprovante de depósito na conta de Jéssica foi previamente pensado como álibi. Os familiares argumentaram que o documento apresentado por Gabriel ao assessor na hora da compra do carro estava em nome do próprio Michel, porque era um comprovante falso. A intenção era que o assessor acreditasse que tinha recebido o depósito e entregasse o carro.  Vítima deixou esposa e filho recém-nascido (Foto: Arquivo) Entenda o caso Tudo começou quando Michel anunciou em um site a venda do carro dele. Gabriel fez contato com a vítima e disse estar interessado na compra. O jovem foi preso nesta quinta-feira, três meses depois do crime, e contou para os delegados que já aplicou outros golpes similares pela internet, em seguradoras e pessoas físicas.

Depois de alguns encontros e negociações, no dia 16 de agosto, os dois oficializaram a compra e venda do carro em um cartório. Depois seguiram para o Salvador Shopping, onde Gabriel deveria fazer o pagamento de R$ 59,5 mil. 

Segundo o delegado do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP) responsável pela investigação do caso, Delmar Bittencourt, o valor foi depositado, mas na conta de Jéssica. 

"O comprovante estava em nome da vítima, mas era falso. Estava com a grafia errada do nome da vítima. Na verdade, o valor tinha sido transferido para outra conta. Quando Gabriel apresentou o documento, Michel encaminhou o comprovante para um irmão dele que confirmou que tinha alguma coisa errada", contou o delegado. 

Incialmente, Michel pensou que Gabriel tinha sido vítima de um golpe. Na última ligação dele para a família, o assessor dizia que estava indo a uma delegacia com Gabriel para que o jovem pudesse registrar queixa. O corpo do assessor foi encontrado no dia seguinte em uma rua atrás do Shopping Paralela.

CRONOLOGIA E QUEBRA-CABEÇA [POR ARNANDO LESSA] Março: Michel anuncia carro na internet por R$ 73 mil  Agosto: Michel e Gabriel se conhecem e passam a negociar veículo  Agosto: Michel e Gabriel têm pelo menos quatro encontros no trabalho, na casa da vítima e em shoppings 16 de agosto - Dia do crime 11h - Michel vai ao cartório com Gabriel 12h - Dupla sai do cartório, no carro de Michel [já transferido legalmente para Gabriel], e vai até o Salvador Shopping13h - Michel encontra esposa para almoço em shopping. Gabriel se afasta do casal.13h - Gabriel vai até a agência do Banco do Brasil e deposita R$ 59 mil em espécia na conta de uma mulher 15h - Michel e esposa, já com Gabriel, vão até estacionamento e transferem pertences do carro vendido para o veículo da mulher da vítima. Michel permanece no shopping para receber pagamento15h30 - Gabriel apresenta o TED a Michel, que envia para o irmão [gerente de banco] e é alertado da falsidade do documento16h - Imagens monstram Michel, Gabriel, ao lado do pai [Maurício] e do motorista [Itazil] saindo do Salvador Shopping no carro de Michel16h30 - Vítima faz contato com a esposa e, em seguida, com pai. Michel afirma aos familiares que o comprador de seu carro sofreu um golpe e que ele precisa ajudar Gabriel a prestar queixa19h - Gabriel aparece sozinho, em imagens obtidas por Arnando, descendo escadaria do Salvador Shopping20h30 - Celular de Michel é desligado e família inicia buscas21h - Michel é assassinado  17 de agosto  6h30 - Corpo de Michel é encontrado atrás do Shopping Paralela10h30 - Carro da vítima é encontrado próximo ao estacionamento do Shopping Bela Vista 20 de agosto - Gabriel, por meio de advogado, confessa que matou Michel - sem revelar motivo - e que vai se apresentar à polícia, mas não aparece 19 de novembro - Gabriel é preso em Santa Catarina. Em depoimento, ele negou ter matado Michel, mas afirmou ter presenciado o crime

Detalhes1. Segundo Arnando, nas imagens em que Gabriel aparece no Banco do Brasil, ele está acompanhado de um homem que não é Michel.2. O rapaz aparece com camisa diferente da que está vestindo quando esteve no cartório com a vítima.3. Arnando acredita que pai de Gabriel e motorista já aguardavam no shopping, após analisar horários de filmagens.4. Arnando afirma que o filho devia estar rendido no carro com comparsas de Gabriel, enquanto suspeito principal fazia compras.5. Ao receber mensagens de Michel, irmão afirmou que CPF que constava no TED era de uma pessoa de Goiânia e o alertou sobre golpe. Arnando acredita que a descoberta tenha despertado fúria de Gabriel.6. Arnando ouviu de testemunhas, onde corpo foi encontrado, que tiros ocorreram por volta de 21h7. O professor defende que o filho sequer viu o comprovante em nome da mulher, em valor que não corresponde ao anunciado por Michel na venda do carro. Que o depósito em dinheiro foi feito para Gabriel apenas para, posteriormente, ser usado como álibi. 8. TED enviado por Michel ao irmão tinha nome da vítima escrito errado9. Polícia chegou a três mulheres que abrigaram Gabriel por meio de GPS de dois Iphones que o suspeito comprou no dia do crime com o cartão de crédito de Michel. 10. Arnando Lessa afirma que Maurício Lucas responde a processos por estelionato e roubo.