Suspeitos de matar irmãos em Dom Avelar se entregam à polícia

Os três irmãos eram procurados pela Polícia Civil desde o dia do crime

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  • Tailane Muniz

Publicado em 14 de novembro de 2018 às 17:35

- Atualizado há um ano

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Dois dias após assassinarem a tiros os mecânicos Marcos Antônio Cruz de Souza, 43 anos, e Clóves Cruz de Souza, 49, os irmãos Alan Silva Menezes dos Santos, 30, Carlos Luís Menezes dos Santos, 22, e Luís Carlos Menezes dos Santos, 26, se apresentaram à polícia, na tarde desta quarta-feira (14). O crime aconteceu segunda-feira (12), no bairro de Dom Avelar, em Salvador.

Acompanhados de dois advogados, eles chegaram juntos à sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro da Pituba. De cabeça baixa, o trio entrou correndo na unidade.

Os suspeitos tinham mandados de prisão em aberto, que foram cumpridos quando se entregaram. O advogado deles não quis falar com a imprensa. Por meio da assessoria, a Polícia Civil informou que os três estão no sistema prisional, onde ficam à disposição da Justica. Alan, Carlos e Luís vão responder por homicídio duplamente qualificado - por motivo torpe e sem chance de defesa às vítimas.

As irmãs das vítimas, Andreia de Souza, 38, e Débora de Souza, 33, além da sobrinha, Caroline de Souza, 21, e do tio, Juraci Cruz, 49, se desesperaram no momento em que os suspeitos desceram do carro, na frente do departamento policial. "Assassinos, vocês acabaram com minha família, vocês mataram meus tios. Vocês não têm que ter proteção, nós é que temos direito a isso. Vocês são bandidos", gritava, em prantos, Caroline. Muito exaltada, ela precisou ser contida por agentes civis.

Ao CORREIO, Juraci reafirmou que os sobrinhos foram mortos porque uma chave de fenda da oficina de Alan sumiu e ele culpou o filho de Marcos."Eles não prestam, espancaram o filho do meu sobrinho e mataram dois. Por pouco, não mataram três. Eles são monstros covardes", desabafou.Além dos irmãos mortos, o caçula da família, Rodrigo Cruz de Souza, 35, também foi baleado, passou por cirurgia e continua sedado no Hospital Geral do Estado (HGE). 

Embora a família acredite que Alan é o mentor do crime, por ser o proprietário da oficina e dono da chave de fenda que teria motivado o duplo homicídio, Juraci disse que uma testemunha relatou que tanto ele, quanto Carlos e Luís testavam armados. 

"As pessoas não falam porque têm medo. Todo mundo sabe do terror que eles tocavam lá no bairro. Andavam armados, não tinha o menor problema com isso. Alan costumava gritar que era PM, sendo que todo mundo sabe que é mentira", completou o tio das vítimas, acrescentando que sua irmã, a aposentada Creuza de Souza, 67, continua à base de medicamentos.

"Minha irmã e meu cunhado, que inclusive foi agredido depois do crime por socos na barriga, estão lá, inconsoláveis, enquanto eles se apresentam aqui, numa boa, com advogados e proteção da polícia".

Relembre o caso Os irmãos Marcos Antônio e Clóves foram assassinados na porta da casa dos pais, na manhã de segunda-feira (12), no bairro de Dom Avelar, em Salvador. Baleados pelas costas, eles morreram ali, na Rua dos Franciscanos, onde nasceram e foram criados. Já o irmão caçula, Rodrigo Cruz de Souza, 35, que acompanhava os dois e também foi baleado, passou por cirurgia e continua sedado no HGE.

Suspeitos da autoria do crime, os mecânicos e também irmãos Carlos Luís, 22, Luís Carlos, 26, e Alan Menezes dos Santos, 30, foram motivados pelo sumiço de uma de suas ferramentas de trabalho. Conforme o aposentado Juraci Souza Cruz, 48, tio das vítimas, os irmãos – vizinhos da família das vítimas há mais de 30 anos –, deram falta de uma chave de fenda."Eles pegavam coisas com os meninos, e meus sobrinhos pegavam ferramentas com os três. Eles acusaram o filho de Marcos de entrar na oficina e roubar uma chave, mas ele nega", afirmou ao CORREIO.Embora tivessem uma boa relação com Clóves, Marcos e Rodrigo, que também eram mecânicos e proprietários de outra oficina na mesma rua, Alan tinha fama de brigão. Logo após dar falta do objeto, chamou os irmãos e, segundo Juraci, espancou o filho de Marcos - um jovem de 20 anos, que nega o furto.

Comoção A motivação do crime é o que menos importa, ao menos para o agente financeiro Clóves Filho, 23, que leva o mesmo nome do pai morto. 

"Eu já não estava acreditando, mas parece que tudo está pior. Eu escolhi a roupa, ajudei a vestir ele no IML, coisas que nunca pensei que fosse passar. É como se a ficha não caísse nunca", afirmou o jovem.

A revelação ocorreu durante o sepultamento de pai e tio, na tarde de terça-feira (13), no Cemitério Bosque da Paz. Cerca de 200 pessoas, entre amigos e familiares, foram prestar as últimas homenagens às vítimas.

Mãe dos irmãos mortos, a aposentada Creuza de Souza, 67, chegou a entrar na capela mas, após passar mal, precisou ser levada até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região.

O mesmo quase aconteceu com a irmã dos mecânicos, a auxiliar de serviços gerais Andreia Cruz, 39. Amparada por outros familiares, ela chorou durante o cortejo fúnebre. "Volta, Marquinhos! Volta, Cói", repetia ela, que precisou ser medicada durante a cerimônia.

Premeditação "Eles foram pra matar. Eles bateram no filho do meu sobrinho e eles é que foram tirar satisfação. Mas a ideia era matar os três e quem mais tivesse na hora. Fizeram tudo de caso pensado, limparam a casa. Levaram a mãe, a irmã, os móveis e deixaram apenas o cachorro", completou Juraci Cruz.

Sem se identificar, um morador da Rua dos Franciscanos afirmou à reportagem ter presenciado o crime. Segundo a testemunha, Clóves e Marcos já caíram mortos, um de cada lado."Eu não sei dizer, ao certo, se os três estavam armados, não vi bem. Mas estava na hora, eu saí de perto pra não ficar na frente", contou o homem, acrescentando, ainda, que os suspeitos estavam em duas motos.Depois do crime, entretanto, um carro foi usado na fuga, afirmou a testemunha.

O tio das vítimas chegou a afirmar que a perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT) encontrou, na casa dos suspeitos, distintivos falsos. A informação, no entanto, não foi confirmada pela Polícia Civil.