Taxa de letalidade do coronavírus pode ser menor, diz infectologista

Em casos com sintomas brandos, pacientes infectados nem sempre recorrem ao sistema de saúde

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  • Da Redação

Publicado em 8 de março de 2020 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Rocha/ESTADÃO CONTEÚDO

Já são 19 casos confirmados do novo coronavírus no Brasil, dos quais dois são da Bahia. Apesar de assustar, a taxa geral de letalidade do SARS-CoV-2, o tipo de vírus que causa do Covid-19, é de cerca 3,4%, o que é considerada baixa, de acordo com a infectologista Melissa Falcão. Entretanto, o índice pode ser ainda menor devido à subnotificação da enfermidade.“Existem pessoas não diagnosticadas. Como muitos casos são leves e com poucos sintomas, é possível passar despercebido. Esse é o grande risco porque essas pessoas podem transmitir o vírus”, explica.A taxa é menor, inclusive, que a de outras epidemias causadas pelo coronavírus pelo mundo. A Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que causou surto na Ásia em 2003, teve uma taxa de letalidade de quase 10%. Originária na Arábia Saudita em 2012, a Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), apresenta índice superior a 34%.

Para os idosos, entretanto, a taxa de mortalidade do Covid-2019 aumenta. De acordo com Falcão, o índice chega a 14,8% em pacientes com mais de 80 anos.“A quantidade de pacientes com complicações é pequena e varia de acordo com a idade ou uma comorbidade -  uma doença capaz de complicar o caso, como a diabetes”, explica.A orientação é que as pessoas que estiveram em países com a transmissão ativa, ou seja, dentro do território, prestem atenção a qualquer alteração em seu estado de saúde.

Apesar da taxa de letalidade ser passível de redução devido à subnotificação, isso também significa que doentes com sintomas brandos ou assintomáticos podem disseminar a doença sem que o serviço de saúde ou os próprios tenham conhecimento.“A primeira paciente da Bahia está praticamente assintomática. Ela só tinha uma dor na garganta e se ela não tivesse tido procurado um serviço de saúde para fazer o exame passaria despercebido”, afirma a médica.Por esse motivo, Falcão ressalta que é necessário monitorar os casos suspeitos da doença para reduzir as chances de transmissão ativa - ou seja, quando o paciente não se infecta com o vírus no exterior, mas pega a doença de algum enfermo dentro do país. 

Esse é o caso da segunda paciente com confirmação da enfermidade na Bahia. Segundo o secretário da Saúde do Estado da Bahia, Fábio Vilas-Boas, a segunda infectada com a doença trabalha como doméstica e teve contato com a primeira paciente do estado com COVID-19 quando esta ainda estava sintomática.

No Brasil, o número pacientes suspeitos de terem a doença caiu de 768 para 674 pessoas. Outros 602 casos foram descartados.

Medo A infectologista ressalta que o número de casos de coronavírus no Brasil é menor que o de dengue. “As pessoas veem as notícias sobre os número de casos e número de pessoas que morreram, mas quando pegamos o geral não é tão significativo se for comparar com dengue, que registrou cerca de 1,5 milhão de casos no Brasil”, diz.

Para a médica, é necessário possuir informações verídicas sobre a doença para reduzir a preocupação da população. O pânico, inclusive, pode ser prejudicial. Casos de escassez de máscara cirúrgicas já podem ser observados, o que compromete a precaução de pessoas que necessitam do objeto.

“Não há indicação do uso de máscaras para pessoas sem sintomas. O indicado é para profissionais de saúde ou pessoa que tem queixas respiratórias, principalmente porque a máscara dá uma falsa sensação de segurança”, diz.

Para quem não está infectado, não basta apenas usar a máscara. É necessário ter cuidado e manter uma etiqueta de higiene, com uso do álcool em gel, higienização constante das mãos e o uso de lenços para tossir e espirrar.

Em pacientes que não viajaram para a América do Norte, Europa e Ásia, a principal hipótese em casos de sintomas parecidos com os do COVID-19 é um caso de H1NI1, a gripe. Por esse motivo, a médica ressalta a necessidade da vacinação contra a gripe. O Ministério da Saúde adiantou a campanha de vacinação contra o vírus para o dia 23 de março.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier