Tem de tudo: com quase 50 mil moradores, Boca do Rio consolidou um comércio forte

Bairro receberá Festival Virada a partir de sábado (28)

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  • Thais Borges

Publicado em 25 de dezembro de 2019 às 05:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Pense em um lugar que tem de tudo. Lojas, mercados, hotéis – e, claro, casas. Essa é a descrição de gente como a gerente de loja Adriana Machado, 36 anos, que, há cinco anos, escolheu a Boca do Rio para morar. Para ela, a Boca do Rio é uma pequena cidade. É quase uma ‘mini Salvador’ dentro da própria Salvador. 

De fato, se olharmos as estatísticas, é como se a Boca do Rio fosse uma amostra do resto da cidade. Com pouco mais de 48 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade dos moradores se define como parda (50,48%). Em toda Salvador, esse percentual é de 51%.  

A autodeclaração de raça segue nos mesmos moldes com pretos (29% no bairro diante de 27% na capital), brancos (ambas com 18%) e amarelos (as duas com pouco mais de 1%). A maior parte deles tem idades entre 15 e 74 anos. Na Boca do Rio, esse índice chega a 74%, enquanto em todo o município é de 73%. Ou seja: praticamente uma Salvador. “Quando vim morar aqui, não tinha ligação nenhuma com o bairro. Vim do Cabula, mas não me arrependo. Aqui tem tudo perto. Comecei a trabalhar aqui e isso também fez diferença, porque não tenho nem o transtorno de pegar ônibus”, conta Adriana, que é gerente de uma loja de artigos de festa. Nos últimos tempos, tem notado seu bairro mais movimentado. Desde que a Boca do Rio virou o palco do Festival Virada Salvador, em 2017, foi como se despertasse a atenção de forasteiros. “Muita gente não conhecia e ficou curiosa, veio conhecer. Todo fim de ano, você vê muita gente nova. Já conheci até gente que veio morar ou que virou cliente, de tanto que gostou”, diz.

A partir de sábado, 28, mais pessoas devem conhecer o local: a expectativa de público para o Festival Virada 2020 é de dois milhões de pessoas durante os cinco dias de evento, que vai até o dia 1º de janeiro do ano que vem, segundo a Empresa Salvador Turismo (Saltur). Em 2020, a inauguração do Centro de Convenções de Salvador também deve trazer os olhos de turistas para o bairro.

Comércio forte

Mesmo antes do evento, a movimentação no local já parece ter crescido, aos olhos de quem mora por ali. “Tem mais gente diferente”, acredita o auxiliar de serviços gerais Josafá de Jesus, 33. Funcionário de um mercadinho especializado em frios, ele mora no bairro há sete anos. “E tudo isso que está acontecendo dá destaque ao comércio, ajuda a população”.  Josafá e José elogiam a variedade do comércio perto de casa (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A proximidade dos serviços também está no topo da lista do balconista José de Jesus Santos, 27, colega de Josafá. Ele também se mudou para a Boca do Rio há menos de dez anos. “Qualquer lugar daqui tem um comércio perto de sua casa, tem lugar para trabalhar e ainda tem uma praia por perto”, brinca. 

A vendedora Lucimara Santos, 33, lembra de quando chegou à Boca do Rio, há 27 anos. Quase não havia lojas – pelo menos, não tanto quanto hoje. Agora, o comércio tem tantas opções que ela até acha que a concorrência atrapalha. Mesmo assim, no ano passado, as vendas na loja de roupas femininas em que trabalha cresceram em torno de 50% na época do Réveillon.  Para esse ano, ela acredita que devem ficar no mesmo patamar.“O povo sempre deixa para o último dia, então a gente vende para quem tá indo para o Festival Virada, mas também vendemos moda praia para quem vai viajar. Aqui é um bairro com cara de bairro, mas com comércio forte”, afirma. É tão movimentado que tem gente que sai de outros bairros só para comprar na Boca do Rio. O fonoaudiólogo Carlos Coelho, 38, mora no Stiep, mas elegeu o bairro vizinho como ponto de compras há 12 anos. Cozinheiro por hobby, conheceu primeiro a feira livre da região, que fica no fim de linha. 

Dali para a frente, começou a desbravar outros estabelecimentos. Não parou mais. Nesta terça-feira (24), quando encontrou o CORREIO, no início da manhã, já tinha passado em um mercado especializado em frios, em uma loja de artigos de festas e seguia para o açougue. “Para mim, é sinônimo de Comércio. O custo-benefício é ótimo. Compro tudo em três quarteirões. Em outro bairro, não seria assim”, explica.  Carlos mora no Stiep, mas há 12 anos faz compras na Boca do Rio (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Nesses doze anos em que frequenta o comércio da Boca do Rio, ele viu a paisagem mudar. Ao longo do último ano, o intenso fluxo de veículos circulando pelas ruas chamou sua atenção. “Na Orla não tem muita coisa, então as pessoas vêm para cá se hospedar. Muita gente vem para cá, ainda mais quem mora em Salvador e sabe que existe a Boca do Rio”. 

Turismo

Para os hotéis da região, a Boca do Rio parece ter ganhado fôlego. A ocupação do Hotel Salvador Mar, que fica perto da Orla, está na casa dos 70% para o período de fim de ano – o mesmo que em 2018.

“Quando não tinha festa aqui, podia até chegar a esse número, mas demorava para fechar. Como não acontecia nada aqui, a gente não sabia nem o que recomendar aos clientes para fazer na noite de Réveillon. Agora, muita gente já chega perguntando a distância até lá”, diz o recepcionista Danilo Sanches. 

Para o secretário municipal de Cultura e Turismo, Cláudio Tinoco, após o fechamento do Centro de Convenções da Bahia, em 2016, a Boca do Rio viu o esvaziamento de atividades e começou a perder oportunidades de negócios e empregos. 

"A chegada  do Centro de Convenções de Salvador e a instalação do Festival Virada na Boca do Rio resgatam a vocação daquela região para recepcionar grandes eventos, que atraem o público local e os turistas para esse ponto da cidade, movimentando toda a cadeia produtiva associada ao entretenimento e ao turismo", analisa.

Segundo a Secult, a previsão é que, em média, os turistas que vierem para o Festival Virada gastem R$ 872,05 ao longo dos cinco dias de festa. Os maiores gastos estão relacionados a alimentação (35%), transporte na cidade (28%), compras (18%), hospedagem (14%), espetáculos em geral (5%), guias e excursões (2%). "A maioria desses gastos são feitos ao redor da festa, movimentando toda a economia do local", completa Tinoco. 

Previsto para janeiro, Centro de Convenções traz promessa de movimentação econômica da Boca do Rio 

O Centro de Convenções de Salvador, novo equipamento para eventos da cidade, será inaugurado para o público em geral no dia 26 de janeiro, na Boca do Rio. Antes disso, no dia 23 de janeiro, haverá uma abertura para convidados da concessionária, a GL Events. 

Entre os eventos já confirmados estão o Congresso Nacional de Hotéis, em maio de 2020, e o Equipotel, feira do setor de hotelaria. O primeiro evento anunciado, em setembro deste ano, foi a Bienal do Livre, que foi realizada pela última vez na Bahia em 2013. Já em novembro do ano que vem, acontece o AfroPunk, o maior festival de cultura negra do mundo. 

"No Centro de Convenções, a simples presença do equipamento no local já movimenta a hotelaria, o receptivo, os restaurantes do entorno e toda uma cadeia dos mais de 50 setores do turismo, gerando emprego e novos negócios na proximidade. Tudo isso com uma nova composição do ambiente e o seu cenário, que contribuem para melhorar a projeção de toda aquela região da cidade", defende o secretário municipal de Cultura e Turismo, Cláudio Tinoco. 

Na avaliação de representantes do trade turístico, a vinda do centro deve contribuir para o desenvolvimento da economia da Boca do Rio. 

Para o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa, o equipamento vai ser uma espécie de “mola propulsora” para os negócios da Boca do Rio.“Restaurantes vão se instalar, hotéis da redondeza farão retrofit (modernização) e teremos uma nova movimentação do bairro”, opina Silvio Pessoa. Já o vice-presidente da Asssociação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-Bahia), Jorge Pinto, afirma que é possível desenvolver uma cadeia produtiva no entorno do centro – tal como existia no antigo Centro de Convenções da Bahia, que desabou em 2016. 

“Isso gera negócios que vão desde o ambulante até bares e restaurantes próximos. Mas digo que não vai ser só o bairro da Boca do Rio, porque é uma importância imensurável que pode alcançar bairros próximos, como Pituba e Itaigara”, opina.