'Tem muito táxi clandestino sendo feito no Brasil', denuncia especialista

Anac abriu processo administrativo para apurar possíveis irregularidades em relação à operação do avião que matou Gabriel Diniz

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  • Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O avião que transportava o cantor Gabriel Diniz, 28 anos, não podia realizar táxi aéreo, informou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A  aeronave, de matrícula PT-KLO, da fabricante Piper Aircraft e de propriedade do Aeroclube de Alagoas, estava registrada na categoria instrução, destinada a voos de treinamento para emissão de licenças de piloto, e não poderia prestar serviço fora da sua finalidade, o que inclui o transporte remunerado de pessoas.

“O serviço de táxi aéreo é autorizado e fiscalizado pela Anac, razão pela qual só pode ser prestado por empresas que cumpram uma série de requisitos que tornam esse transporte o mais seguro possível”, explicou a Agência, em comunicado. A Anac abriu um processo administrativo para apurar possíveis irregularidades em relação à operação do avião fabricado em 1974 e verificar em quais condições estava sendo feito o transporte de passageiros.

Segundo dados do Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), o avião acidentado estava com o Certificado de Aeronavegabilidade (CA) válido até fevereiro de 2023 e a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) em dia, até março de 2020. O piloto comercial Abraão Farias e o piloto privado Linaldo Xavier, que morreram junto com Gabriel, estavam com as licenças válidas para o tipo de aeronave, segundo informações fornecidas pelo Aeroclube de Alagoas para a Anac.

Monomotor com capacidade máxima de três passageiros, mais a tripulação, totalizando quatro assentos, esse modelo de avião registrou 26 acidentes de 2009 a 2018, com quatro mortes. As informações são do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), ligado ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica.

As investigações sobre as causas do acidente estão sendo conduzidas pelo Segundo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa II), de Pernambuco (PE), órgão regional do Cenipa.

Clandestino “Tem muito táxi clandestino sendo feito aqui no Brasil. São aeronaves com simplificação de processo de controle muito grande, como se fosse um carro privado, um tipo de ‘táxi mais barato’ que muitos artistas estão usando”, denuncia, ao CORREIO, uma fonte ligada à Anac que pediu para não ser identificada.“Se você vai pilotar um táxi, o órgão de trânsito exige carteira profissional, melhores condições de carro, etc. Quando é seu, você está por sua conta e risco”, compara.O especialista destaca, ainda, que no táxi aéreo todas as aeronaves têm um rigor maior em relação à experiência dos pilotos e à frequência das vistorias. “Muitas pessoas têm aeronaves privadas e, para baratear os custos que são altos, alugam para transporte”, critica, enquanto cita casos de personalidades que foram vítimas de aeronaves não-certificadas para o transporte de pessoas.

Entre elas estão o jornalista Ricardo Boechat, que morreu em um acidente de helicóptero em fevereiro deste ano, e a cantora Claudia Leitte, que estava no avião cujo piloto foi detido por táxi aéreo irregular no momento em que a aeronave pousou. Esta foi a segunda vez que a artista foi vítima: em 2018, um piloto foi preso pela mesma razão, mas, dessa vez, antes de decolar com Claudia.

A Anac informou ao CORREIO que já identificou irregularidades em aviões que transportavam os artistas Anitta, Marília Mendonça, Amado Batista e Maiara & Maraísa. Em todos os casos, os cantores disseram que não sabiam da irregularidade. No caso de Gabriel Diniz, a Anac suspendeu cautelarmente as operações do Aeroclube de Alagoas e interditou as nove aeronaves da empresa.

Resgate  Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o resgate dos corpos de Gabriel, Abraão e Linaldo, feito em uma área de mangue de difícil acesso em Porto do Mato (SE). Encontrar os destroços e os corpos das vítimas só ficou mais fácil porque moradores da região ouviram o forte estrondo do acidente.

Terceiro vocalista da banda Cavaleiros da Forró a morrer de forma trágica, Gabriel estava a caminho de Maceió para fazer uma surpresa para a namorada, a psicóloga alagoana Karoline Calheiros, que completou 25 anos anteontem. A princípio, o cantor ficaria mais um dia na Bahia, após o show que fez em Feira de Santana, mas decidiu antecipar a viagem por causa do aniversário.

A conta de Karoline no Instagram foi apagada cerca de uma hora após a confirmação da morte do artista, mas o perfil foi reativado e pulou de 40 mil para 111 mil seguidores, antes de ser fechado  para amigos. Em entrevista ao programa Cidade Alerta, o pai de Gabriel, Francisco Diniz, desabafou sobre a perda precoce do filho: “A gente pensa que está vivendo um pesadelo, mas é realidade. Estou até anestesiado. O velório será aberto aos fãs pois o Gabriel sempre teve uma relação muito próxima a eles e não faria sentido não deixá-los participar”.

* Colaborou Gabriel Moura