Tema e criação

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  • Cesar Romero

Publicado em 4 de maio de 2020 às 20:54

- Atualizado há um ano

. Crédito: .
. por Alfredo Volpi/Divulgação

Só existe a crítica de arte porque anteriormente existe o artista. Sem o artista, não haveria o crítico. Mas, para validar qualidade, existe a crítica de arte que muitas vezes vê coisas que o artista não viu, e abrem-se caminhos. O trabalho do artista visa uma invenção de linguagem, um abecedário próprio, intransferível um jogo de armar. A função do artista é resolver equações visuais.

Quando se diz que um artista pinta casarios, logo vem o preconceito. Casarios? Isso é coisa de quem não sabe criar, copia a natureza, o óbvio.

Tem que se ver primeiro, depois falar, pois Alfredo Volpi (1896–1988), nosso maior pintor, criou a sua série “Fachadas” (ver galeria), que eram casarios e muitos críticos de arte consideram-na melhor que as “Bandeirinhas”. Os casarios de Volpi, em sua bidimensionalidade, trazem paredes, janelas e portas, como figuras geométricas, chapadas, que, com suas pinceladas e cores, nos dão a ilusão de profundidade, tremulam em suas composições harmônicas e seus elementos plásticos e formais. Nestas “Fachadas”, o caráter construtivo de sua pintura evidencia sua singularidade. Volpi construía um espaço indeterminado e tinha uma aguçadíssima inteligência visual.

Aqui fica provado que o tema não importa para a pintura, é apenas um pretexto. Aos 12 anos, tornou-se pintor de parede, foi marceneiro, encadernador e entalhador. E, aos 47, começou seu trabalho autoral, até atingir a estrutura de gênio.

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Outro artista também considerado gênio foi o sergipano Arthur Bispo do Rosário (1911–1988), que era esquizofrênico. Galgou este prestígio por seu talento. Era pobre, afrodescendente, sem documentos, semianalfabeto, uma figura estranha à estética da norma. Sua história passa pela Colônia Juliano Moreira, instituição para doentes mentais no Rio de Janeiro, onde permaneceu por 50 anos. Falava que estava fazendo coisas para o Dia do Juízo Final. Esse era seu programa teórico. Produziu no manicômio objetos oriundos do lixo e da sucata.

Entre seus temas, navios, estandartes, faixas de misses, objetos domésticos, garrafas e passou longos anos para realizar sua obra prima, O Manto da Apresentação, que deveria vestir no dia do Juízo Final. Recusava remédios e buscava na convivência com os colegas subsídios para elaborar sua obra. Foi marginalizado e excluído, até ser consagrado como referência da Arte Contemporânea brasileira. 

Dois exemplos lapidares de artistas, pobres, semianalfabetos, sem amigos e familiares importantes, incultos, muito longe dos lugares glamorosos e palácios. Nunca deram entrevistas, eram tímidos. No entanto, produziram obras de enorme importância nacional. Referências.