Temer muda estratégia de defesa e quer rapidez no inquérito

Defesa do presidente pede ao Supremo que libere a investigação e contrata perito Ricardo Molina para fazer análise da gravação feita por Joesley Batista

  • D
  • Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2017 às 07:03

- Atualizado há um ano

A defesa do presidente Michel Temer desistiu ontem de pedir a suspensão do inquérito instaurado contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa. As acusações se basearam na delação premiada do dono da JBS, Joesley Batista. O pedido para paralisar a investigação havia sido protocolado pelos advogados do presidente no último sábado, quando Temer fez um duro pronunciamento desqualificando as provas levantadas contra ele no processo.O advogado Gustavo Guedes afirmou na tarde de ontem que a defesa de Temer entrou com um novo pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o inquérito contra o peemedebista seja mantido. A declaração foi dada após um encontro com o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte. Segundo Guedes, a defesa se sentiu atendida com o deferimento do pedido para que fosse realizada uma perícia no áudio da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista. “Eu vim dizer (a Fachin) que, diante desse deferimento, não víamos mais a necessidade de suspender o processo e que o presidente quer que esse assunto seja resolvido o mais rápido possível”, disse.Segundo ele, Temer quer que o processo siga o curso normal e que fique comprovado a inocência do peemedebista. “O presidente quer dar essa resposta ao país o mais rapidamente possível”, disse.Guedes afirmou ainda que a equipe que defende Temer no caso encomendou uma perícia particular do áudio e que foram constatados cerca de 70 pontos de “obscuridade” na gravação. O perito Ricardo Molina, contratado pela defesa, disse ter certeza de que a Polícia Federal vai identificar falhas técnicas no material e que, do ponto de vista técnico, a gravação não pode ser considerada autêntica. “Eu tenho certeza de que a Polícia Federal vai ver isso”.'Não renunciarei', disse Michel Temer em pronunciamento após gravação (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)O novo pedido protocolado no STF muda a estratégia de defesa de Temer. Inicialmente, o julgamento dessa questão de ordem estava marcado para amanhã. O julgamento era esperado com ansiedade pela classe política. A base aliada de Temer aguardava o resultado e o posicionamento dos ministros para decidir se permanece ao lado do peemedebista.Perito de TemerContratado pela defesa de Michel Temer, o perito Ricardo Molina disse ontem que a Procuradoria-Geral da República (PGR) é “ingênua” e “incompetente” ao utilizar a gravação de uma conversa entre Joesley Batista com o presidente como prova para abrir um inquérito contra o peemedebista.Segundo o perito, o gravador usado pelo empresário da JBS é “vagabundo” e “não é possível” garantir que a gravação seja “autêntica”, portanto, argumenta Molina, o áudio não pode ser utilizado como prova judicial.“O que tem no laudo [da PGR sobre a gravação] é coisa de gente que não sabe mexer em áudio”, disse o perito. “Não vou citar nomes, mas conheço quem assina e, se colocarem eles aqui na minha frente, vão começar a gaguejar”, afirmou.No documento apresentado pela PGR é dito que a gravação foi analisada de forma “preliminar, submetido a oitiva sob a perspectiva exclusiva de percepção humana”. “Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi verificar se os diálogos existentes nos áudios estão inteligíveis e, se numa análise meramente perfunctória, os arquivos possuem ou não características iniciais de confiabilidade”, afirma a Procuradoria Geral da República.Molina disse que o áudio está “contaminado por inúmeras descontinuidades”, com diversos pontos “inaudíveis” e de “possível edição”, o que, para ele, seriam “suficientes” para “jogar a gravação no lixo”.O perito, no entanto, não é assertivo ao responder se há ou não edição no áudio. Perguntado diversas vezes por jornalistas se não era possível ser definitivo sobre o tema, o perito concluiu: “Se você está me colocando na parede, eu diria que sim, que houve edição”.Gravação A Polícia Federal informou, ontem, que ainda não recebeu o gravador usado pelo executivo  da JBS para gravar a conversa com o presidente Michel Temer na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu. Os peritos criminais federais que vão analisar o áudio dizem ser “fundamental” examinar o equipamento usado.A PF pediu à Procuradoria-Geral da República que providencie a entrega do gravador. Os áudios dos diálogos de Joesley e de outros executivos da JBS com os alvos da Operação Patmos já estão na PF, que já recebeu os quesitos apresentados pela Procuradoria-Geral da República e pela defesa do presidente.“Em análise técnica preliminar, o Instituto Nacional de Criminalística apontou que é fundamental ter acesso ao equipamento que realizou as gravações originais. Por esse motivo, a PF oficiou à Procuradoria, solicitando o aparelho”, destacou a PF, em nota divulgada no domingo.O advogado do empresário Joesley Batista, Francisco Assis, disse que o gravador está fora do país e chegará hoje pela manhã e será encaminhado para a polícia.

Temer: ‘Se quiserem, me derrubem’

Mala  entregue a aliado de Temer está desaparecida

A mala com R$ 500 mil de dinheiro da JBS recebida pelo deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) está desaparecida.  O parlamentar foi filmado pela Polícia Federal em uma ação controlada (planejada para flagrar delitos) carregando a bolsa ao sair de uma pizzaria em São Paulo às pressas.

Rocha Loures havia se encontrado no local com Ricardo Saud, lobista e delator do frigorífico, para pegar o dinheiro. Segundo o Ministério Público Federal, o pagamento era por uma ajuda prometida pelo deputado para defender os interesses da empresa no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Loures é ex-assessor do presidente Michel Temer. Em uma conversa gravada, Joesley Batista, um dos donos da JBS, ofereceu propina em troca de que o parlamentar interviesse em uma disputa envolvendo preço de gás. Segundo Joesley, em depoimento da delação premiada, Loures foi indicado por Temer para tratar de assuntos do interesse da JBS. 

Ainda segundo a delação, havia promessa de que, se resolvido o imbróglio, Rocha Loures poderia receber semanalmente até R$ 1 milhão, dependendo do lucro. A mala teria sido levada, de acordo com a investigação, para a casa do pai do deputado, em um primeiro momento.

Na operação deflagrada na última quinta (18), que contou com busca e apreensão em diversos endereços, a bolsa não foi localizada. 

Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) disse a aliados que não sabia que havia dinheiro na hora da entrega da mala, segundo informações publicadas pela jornalista Andréia Sadi.  Nas conversas com auxiliares de Temer, Loures diz que o presidente da Republica não teve a ver com o recebimento da mala de dinheiro, segundo ela.

Pedido de Temer só será julgado no STF após perícia nos áudios, diz Cármen Lúcia

[[saiba_mais]]