Tenho poucas certezas, mas uma delas é que pênalti não é coisa de Deus

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  • Miro Palma

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Tenho poucas certezas na vida, mas uma delas é que o pênalti não é coisa de Deus. Uma tarefa tão angustiante como essa não teria sido planejada em apenas seis dias. Foram precisos milênios, desde os chineses do século III a.C., que resolveram bater uma bolinha feita de couro de animais, até o ano de 1891, quando o goleiro irlandês William McCrum sugeriu a criação da penalidade máxima. Desde então, a bola parada há 11 metros da linha do gol vem atormentando a todos que ousam desafiá-la dentro e fora dos gramados.

Na quarta-feira (3), assistimos tricolores perdendo as unhas, alguns fios de cabelo e até a sanidade durante as 12 cobranças que definiriam quem seguiria adiante para as quartas de final da Copa Sul-Americana. O futebol é assim, amigos. Se chegou na sua vida, não vai sair mais. E se você se apaixonou por algum clube, pior ainda. Ele vai influenciar diretamente nas suas emoções diárias.

Acompanhei o jogo ao lado de um tricolor fanático. Logo percebi a desconfiança dele ao ver que o Botafogo impôs o ritmo dentro de casa, no primeiro tempo. O alvinegro gostou tanto da levada que abriu o placar com Rodrigo Pimpão, aos 25 minutos.  O grito de alívio do meu amigo veio apenas sete minutos depois, quando Edigar Junio, bem servido por Gilberto, igualou o marcador.

Mas aí ele perdeu o prumo, afinal, a zaga do Bahia voltou a vacilar feio. Matheus Fernandes mandou a bola certinha e Luiz Fernando, sem obstáculo, fez Douglas de gato e sapato, aumentando para os cariocas. Aí o bicho pegou. Até a mãe ele deixou falando sozinha no grupo da família, no WhatsApp, para ficar completamente concentrado na frente da televisão. A tensão estava no ar.

Não vou nem lembrar aqui que esse mesmo cara duvidou de Douglas desde que o goleiro foi contratado pelo Esquadrão. Mudou de opinião rapidinho. Ah, Douglas, se você tivesse visto a cara dele. Fez o sinal da cruz, fechou os olhos, abriu de novo, rezou, bateu no sofá e gritou feito um louco na hora das cobranças de pênaltis. Se os vizinhos estavam dormindo, pouco importava, pois o Bahia estava em campo.

Só existe uma verdade em toda essa odisseia, anote aí: ele já sabia o que iria acontecer. Tanto é verdade que esqueceu o passado de críticas e profetizou antes das cobranças: Douglas será o herói. Não deu outra. Numa das cobranças, a trave até ajudou o goleiro tricolor. Na outra, o camisa 1 fez a sua parte. Fim de jogo e coração aliviado. O Bahia está nas quartas de final da Sul-Americana.

E você quer mais uma verdade, nua e crua? É a primeira vez em três décadas que o tricolor baiano chega entre os oito melhores em uma competição internacional. A última vez que alcançou esse feito foi em 1989, quando chegou nas quartas da Libertadores da América.

Não é pouco não, meus caros. É muito e, esperamos todos, há muito mais ainda para alcançar nessa competição. É mais que o suficiente para justificar qualquer uma das atitudes acima e, sabe-se lá, quantos outros devaneios que só a bola parada é capaz de despertar nos mais diversos torcedores. Impossível não ter escutado alguma história parecida.     No entanto, o meu amigo tricolor segue negando que se transforma durante os 90 minutos ou um pouco mais de uma partida de futebol. Para todos os efeitos, segundo ele, isso é apenas invenção. Será mesmo? 

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras