Termine seu relacionamento, mas, depois, vaze!

por Flavia Azevedo

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Publicado em 19 de maio de 2018 às 13:23

- Atualizado há um ano

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Aprendi a terminar relacionamentos por telefone e dane-se a etiqueta. Ou então em lugares públicos. E a ficar ligada no comportamento do ex, depois do fim da relação. E a nunca mais dormir no mesmo ambiente com ele, e a não aceitar nenhum convite do tipo "só nós dois".   

Nenhum deles matou alguém, que eu saiba. Mas seguro morreu de velho e a coisa mais comum é homem que "sempre foi muito calmo", mas agride (ou mata, quando dá) a ex porque "não se conformou com a separação". Podemos ser amigos? Sim, se for o caso. Mas só um tempo depois. De preferência, quando ele estiver namorando com outra e eu não for mais uma questão. "Você não tá sentindo nada?", um deles me perguntou, e esse foi pelo whatsapp. "Sim", eu devia ter respondido. Mas não era hora de manifestar alegria por poder contar com a força do meu instinto de autopreservação.   

Esse, que também esteve presente quando tive que receber (por motivos práticos) um ex que tava bem nervosinho. Ele veio na minha casa, mas eu só abri a porta depois que meu amigo, que é policial, também chegou e ficou a postos. À paisana, mas armado. 

Nesta semana, foram três mulheres só aqui na minha região. Duas morreram, uma está toda arrebentada. Todas pelo mesmo motivo: não querer mais o homem que se sente dono, por estar casado. Um deles, já era agressivo. O algoz de Clara. Os outros dois, eram caras "pacíficos" que "se descontrolaram". A ira dos machos rejeitados não respeita filhos, álbum de casamento, nível de instrução ou status social. Acredite, seja você quem for, a sua história não lhe protege. Você não está a salvo.

Nem eu. Nem qualquer uma de nós. E nem a justiça, pra falar a verdade, está muito do nosso lado. Ainda somos nós, as "culpadas". Sempre há uma nuance, alguém que diz, em cada caso: "mas ela também fez por onde". Ainda somos as que "enlouquecem" esses seres tão "frágeis".

De forma que, há uma luta coletiva e alguns avanços. Há as medidas protetivas, a exigência de punições, os processos judiciais. E, obviamente, o fato de que não ficamos mais caladas. Mas há a necessidade urgente de que cada uma de nós entenda: a gente vive num mundo que ainda permite que esse cara, todo lindo, deitado aí no sofá da sua casa, te mate. Para alguns é apenas questão de "motivação" e oportunidade.

Ele pode nunca fazer isso, mas você precisa perceber que, numa estrutura social machista, mulher é propriedade. E que, ao se sentir rejeitado, o "amor da sua vida", o pai dos seus filhos, pode decidir que você não vai ficar com mais ninguém. E que na justiça brasileira isso tem muitas chances de não dar em nada. 

Não, você nunca será a culpada. Nem merece ter a responsabilidade de prever e evitar o seu próprio assassinato. Mas, é questão de sobrevivência: se ainda se sente a salvo, procure conhecer as histórias. Na maioria delas, as pessoas exclamam "nossa, ele sempre foi um ótimo cara!". E entenda que, muitas vezes, andar numa rua escura pode ser mais seguro do que dormir uma noite a mais, com ele, no seu próprio quarto.   

Mesmo que isso doa, mesmo que te chamem de maluca, se ligue: para a sua segurança, acredite no que parece inacreditável. Desconfie sim, do seu marido ou namorado. Ele que prove o contrário. E se achar que uma história já deu, termine seu relacionamento, mas, depois, vaze!

(E fale para as pessoas, procure ajuda, exponha o cara, denuncie, se ele parecer muito "inconformado")