Terra sem lei com dias contados?

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  • Hugo Brito

Publicado em 13 de novembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Quem é um pouco mais vivido acompanhou, lá atrás, o surgimento da internet, ainda como um simples canal de diversão. Paralelamente viu também o amadurecimento das chamadas mídias tradicionais. No passado era comum, por exemplo, ver na tv crianças acendendo cigarros para entregar aos pais ou tomando a posição de impor a eles pedidos de compra como “não esqueça a minha bicicleta” ou algo parecido. Bebidas e outros produtos mais adultos podiam ser expostos em qualquer horário também. Tudo sumiu pela regulação que veio protegê-las, mais frágeis que são.

Depois de ser testemunha ocular de um processo como esse nós, os mais velhinhos – friso aqui que sou adepto do ditado que velho é o mundo, que fique bem claro – ficamos naturalmente com uma pulga atrás da orelha, uma desconfiança de que a anarquia tão festejada na internet teria seus dias contados. E estávamos, ainda bem, certos. Começou pela Europa e agora chega ao Brasil o advento das leis de proteção de dados, por aqui já sancionadas e em atividade em no máximo 18 meses, com penas duras – podendo chegar a multas de até 50 milhões de reais - para quem as descumprir. Leis que vão forçar uma reinvenção dessa já não tão nova mídia.

Liberdade?

Lembro de várias discussões nesse sentido onde alguns, mais jovens e apaixonados pela visão de um mundo onde a informação seria total e irrestrita, profetizavam que se aproximava um planeta liberto das “satânicas” estruturas tradicionais. Talvez se esses mesmos jovens tivessem dado uma parada e “acessado” o livro 1984, de George Orwell, (vejam que falei acessar hein? Longe de mim sugerir o anacrônico papel impresso) teriam visto que a anarquia dos dados livres, da mineração indiscriminada de comportamentos na realidade poderia, em vez de representar a liberdade se tornar uma prisão de alcance inimaginável, com as pessoas tendo suas vidas totalmente expostas. Bem, a total negação das empresas de tecnologia de internet, sejam as grandes ou as pequenas startups, da necessidade de regulamentação baseada nessa crença da conexão sem limites decretou uma atuação do pesado braço do estado.

É o fim?

Obviamente não. Diria que é um freio de arrumação, um recomeço e, como em todo processo de regulamentação, perdas serão computadas em prol do bem maior que no caso é a privacidade. Empresas com foco em mineração de dados e comportamentos em redes sociais vão ter que colocar a bola no meio de campo e recomeçar o jogo, mas no caso esse recomeço será com o peso de quem levou um gol. Para seguir a analogia futebolística, se me permitem, nesse recomeço talvez possa até acontecer um fenômeno onde quem vestia a camisa de time adversário vire companheiro de equipe.

Eu explico. Com as limitações que começam a ser impostas, utilizar de forma indiscriminada dados de comportamento de quem usa as redes sociais e afins não será mais permitido. O Santo Graal da inteligência artificial como bola de cristal para entender comportamentos antes mesmo de acontecerem de forma impactante foi perdido. Já começam flertes e sinais de futuros e promissores casamentos entre as mídias tradicionais e as digitais, que não perdem seu poder mas, como acontece no mundo criado pelo agora saudoso Stan Lee, até os super-heróis acabam tendo que montar um grupo, juntando os seus super poderes no sentido de buscar um objetivo, sem perder de vista a justiça, o respeito a quem é mais importante em tudo isso, as pessoas.

Influenciadores mais poderosos?

Com essa nova configuração influenciadores digitais estarão sim mais empoderados pois se tornarão canais importantes para acessar essas pessoas, que aos poucos iam sendo impactadas de forma direta e desprotegida pelas marcas que agora só poderão fazer isso com permissão expressa e fora das letras miúdas, em ponto destacado e comprovadamente bem entendido. Mas a tarefa desses influenciadores talvez não seja também tão fácil assim. Especialistas acreditam que eles terão a responsabilidade de preservar seus seguidores.

Ainda não está claro mas há quem ache que seguir determinado influenciador não dará a ele o direito de expor indiscriminadamente as marcas com as quais ele estiver associado. Isso se deve ao fato de que mesmo parecendo ser uma comunicação de massa, cada postagem chega aos seguidores de forma individualizada autorizada pelo mais pessoal dos processos da internet, o login de uma conta, trazendo uma permissão para que as mensagens cheguem. O consumidor digital não tem um controle remoto para mudar de canal ou botão de dial para mudar de estação, já que com a configuração social das redes fazer logoff significa se desconectar inclusive das relações sociais que deseja.

Poder volta para quem consome

O fato é que o descontrole do uso dos dados trazidos pela tecnologia e pela internet, que inicialmente vieram travestidos de uma liberdade total, passa agora por um momento de reinvenção. Mídias cirúrgicas baseadas em algoritmos invasivos, compartilhamentos de bancos de dados, dentre outros processos tecnológicos, vão ter que passar por uma volta às bases para entender o novo mercado onde, pelo jeito, nós “velhinhos” que vimos mídias e formatos se associarem para buscar complementariedade percebemos que, de novo, a negação do estabelecido começa a dar lugar a uma conexão com o tradicional.

O resultado? Só o tempo nos mostrará mas é bem clara a visão de que o “tudo pode” das Startups de tecnologia, Fintechs, etc, não será mais possível. A advogada especialista na área Ana Paula Morais é taxativa nesse ponto. “Existe um empoderamento do consumidor/usuário que através da lei vai ter o poder de conceder ou não seus dados, como o simples CPF no caixa da farmácia que só poderá ser partilhado com um plano de saúde, por exemplo, se o consumidor expressar o desejo que isso aconteça. Compartilhar suas informações sem que tenha sido aprovado ou autorizado não poderá mais acontecer. O poder volta a ser do consumidor”, arremata ela.