Terreiros se manifestam a favor do traslado de Mãe Stella

A Casa de Oxumarê e o Terreiro do Zoogodô Bogum Malê Hundó reforçam pedido do Opô Afonjá

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  • Da Redação

Publicado em 28 de dezembro de 2018 às 13:15

- Atualizado há um ano

Depois do comunicado oficial do Ilê Axé Opô Afonjá sobre o desejo de cumprir o tradicional ritual de sepultamento de sua ialorixá Mãe Stella de Oxóssi, em Salvador, alguns dos terreiros da capital baiana se pronunciaram sobre o assunto em notas públicas. A Casa de Oxumarê lamentou a perda da ialorixá, reconhecendo a “importância de seu legado, que extrapola qualquer limite, fronteira ou crença”.

Confira a nota da Casa de Oxumarê: “Reconhecemos sua importância nacional e internacional como expoente da cultura e da religiosidade afro brasileira. O valoroso legado deixado por Mãe Stella, ao longo de sua profícua existência, extrapola qualquer limite, fronteira ou crença.

Por isso, nos solidarizamos com suas famílias biológica e espiritual, bem como com a legião de admiradores do Brasil e do mundo. Lamentamos ainda que uma personalidade de tamanha envergadura não possa receber as exéquias compatíveis com a tradição pela qual tanto zelou. Por isso, rogamos em nome de nossos ancestrais, que os próximos a ela se conscientizem  e tenham a generosidade e a devoção necessárias para garantir os ritos em conformidade com os preceitos do Candomblé, religião professada por Mãe Stella ao longo de uma vinda inteira.

Restringir o Terreiro do Opô Afonjá de cumprir os ritos e tradições  centenárias cabíveis a todos sacerdotes e sacerdotisas, ritos estes defendidos veementemente  por esta aclamada Yalorisa que hoje deixa o aye  e vai ao encontro de nosso ancestrais, fere a todos os afro religiosos.

Mãe Stella é uma propriedade do divino, do sagrado, de nosso orixás. Salvador, 27 de dezembro de 2018.”

O Terreiro do Gantois e a Associação de São Jorge Ebé Oxossi se solidarizam também com a comunidade do Ilé Áse Opô Afonjá em virtude do passamento de sua Iyalorixá, Mãe Stella de Oxossi.

Leia o comunicado de Mãe Carmen do Gantois:

"A perda de uma grande expoente do Candomblé e defensora de paradigmas da religiosidade e de lutas do povo negro remete à responsabilidade de manter vivo o sentimento de união e força para seguir na trajetória de manutenção de nossas tradições.

Essa última quinta-feira do ano marca um momento de dor, mas com evidências de que a ausência física é apenas o apartar do plano terrestre, ficando a lembrança e seu legado vivos nos corações de todos que integraram seu círculo religioso e de vida. A certeza é de que Iyá Stella Odé Kayodé trilhou os passos para o caminho de retorno à essência ancestral.

A notoriedade religiosa e intelectual de Maria Stella de Azevedo Santos pelas ações voltadas para o segmento afro-brasileiro deixa um legado para a posteridade e que ratifica o compromisso que teve no trato da orientação com o conhecimento sobre a fé do povo de santo.

“Meu Tempo é Agora” sempre definiu sua filosofia de vida e sentido de trajetória, num entendimento dessa “espiral do tempo da religiosidade do candomblé que prima pela oralidade” em que é possível fazer com que o registro seja uma ferramenta importante na preservação do conhecimento da cultura afro-brasileira, com reflexões fundamentais de um novo ciclo que a contemporaneidade trouxe para as comunidades tradicionais de matriz africana para fortalecer o sentimento de pertença.

O voto de pesar, nesse momento, representa um registro de reconhecimento à importância como mulher, negra, cidadã e, principalmente, pelo seu papel no âmbito litúrgico que tão bem cumpriu sua missão como sacerdotisa diante dos Orixás. Transmitimos à família biológica e a toda comunidade-terreiro do Opô Afonjá as mais sentidas condolências, lamentando a perda irreparável de sua liderança, ficando-nos, todavia, com o sentimento da presença na memória do seu povo.

Como espaço histórico de resistência e de preservação de costumes, acreditamos na garantia ao direito à realização dos ritos cabíveis e pertinentes às tradições no que tange a uma sacerdotisa de uma casa matricial como o Terreiro do Afonjá.

Que Olorun seja a luz e a paz nesse novo caminhar, dê conforto e resignação aos familiares para suportar a saudade e orientação espiritual à família do axé.

Olorun kosi purê!"

Mãe Índia, ialorixá o Terreiro do Zoogodô Bogum Malê Hundó, também se pronunciou. Leia o texto:

“Odé Kayodê apontou seu Ofá para o Orun

O Terreiro do Zoogodô Bogum Malê Hundó, fundado em 1719, vem através da sua Naandojhi (Mãe Índia) externar profundo pesar pela passagem para o Orun da Iyalorixá Mãe Stella de Oxóssi.

Mãe Stella de Oxóssi, além de sacerdotisa ocupada com as questões coletivas do Povo de Santo, foi uma mulher negra que exerceu uma liderança política à frente do seu tempo, cuja atuação extrapolou as fronteiras do seu Terreiro, lutando corajosamente nas trincheiras de combate ao racismo e a todas as formas de intolerância religiosa.

Neste sentido, nos solidarizamos com a comunidade do Ilê Axé Opô Afonjá, que neste momento chora a passagem de sua hungbono, e luta para que sejam cumpridos os rituais fúnebres tradicionais de sua nação.

Em tempo, a comunidade do Bogum saúda e agradece aos Orixás do Ilê Axé Opô Afonjá pelos anos de vida de Iyá Stella entre nós.

Okê Arô! Aholo Gbessén!”

Desde a quinta-feira (27), o Opô Afonjá divulgou sua posição oficial, requerendo o corpo de Mãe Stella para os devidos ritos funerais. Leia:

“Nota oficial do Opô Afonjá

A Sociedade Cruz Santa , entidade civil mantenedora do Ilê Axé Opô Afonjá, terreiro fundado em 1910 por Eugênia Anna dos Santos, Mãe Aninha informa com profundo sentimento a passagem de Mãe Stella de Oxossi, Odé Kayodê, há  42 anos liderando com sabedoria e amor essa comunidade, por isso compartilhamos com todo o povo de Santo e todo povo brasileiro nosso desejo de fazer cumprir o tradicional ritual de sepultamento de uma iyalorixá, com os fundamentos religiosos e princípios que Iyá Stella de Oxossi professou por toda vida.

Kasun rè ó! Olorun Kosi purê!”