Terror nacional, Curupira - O Demônio da Floresta é acusado de racismo religioso

Filme de Erlanes Duarte apresenta figura do folclore indígena como monstro; diretor diz que não teve intenção de ofender

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  • Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2021 às 17:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Apresentado por seus produtores como o primeiro filme de terror do Maranhão, Curupira - O Demônio da Floresta nem estreou e já está causando polêmica. Com lançamento nos cinemas previsto para 28 de outubro, o longa do cineasta Erlanes Duarte teve o seu trailer e poster divulgados no domingo (17).

Em ambos, a figura do folclore brasileiro surge  de forma aterrorizante, sempre à espreita na mata. E isso foi interpretado por usuários das redes sociais como uma demonização da cultura indígena e falta de respeito com os povos originários. O projeto também foi acusado de promover racismo religioso.

Veja o trailer de Curupira - O Demônio da Floresta:

Entre os comentários: "colonialismo é o verdadeiro demônio da floresta", "essa é a visão que o branco tem do curupira" e "Curupira é um guardião das florestas, um herói, mas resolvem simplesmente pegar a figura e transformar em um vilão" foram alguns dos comentários de usuários do Twitter indignados com a produção.

O menino de cabelos vermelhos e pés virados para trás é um dos símbolos do folclore nacional como um guardião das florestas e dos animais e já foi representado diversas vezes no audiovisual brasileiro - a última foi na série Cidade Invisível da Netflix, em que o personagem foi interpretado por Fábio Lago. Já o projeto de Erlanes Duarte, porém, tem como objetivo apresentar o lado "sombrio" do personagem, dentro de um contexto de filme slasher - um sub-gênero de terror que quase sempre envolve assassinatos sangrentos. Na trama, seis jovens vão fazer um passeio pela floresta e passam a ser perseguidos pela criatura.

"Os brancos como sempre, tratando seres espirituais Indígenas como "DEMÔNIOS", é assim com os Povos Negros, conosco, não fariam diferente! Absurdo!", escreveu o ativista indígena Emerson Pataxó, Secretário Executivo da Associação de Jovens Indígenas Pataxó. 

Antes mesmo da polêmica explodir, o cineasta Erlanes Duarte já havia declarado que era uma "grande responsabilidade" representar Curupira em um contexto sombrio. Ao jornal O Globo nesta segunda-feira (18), o diretor de filmes como Muleque té Doido disse que o filme "levantou um debate importante": "Estamos falando de uma obra inteiramente ficcional.  O filme não tem a intenção de ofender e não ofende nenhuma religião,  pessoa ou etnia indígena. Não tocamos nesses assuntos no filme. Mas, tirando a ficção, o que o filme mostra é a discussão sobre a preservação do meio ambiente". O baiano Fábio Lago vive o Curupira na série Cidade Invisível, da Netflix (divulgação) Duarte explica que, no longa, Curupira mantém a sua essência, pois continua sendo o protetor das matas: "Ele personifica de maneira forte e incisiva, e aí,  é o grande debate do filme, a forma que a natureza responde a maus tratos do homem. Infelizmente, as pessoas estão julgando o livro pela capa, sem ter lido ainda. Mas tenho que certeza que todos vão entender a verdadeira mensagem do filme depois de assisti-lo".

Curupira tem distribuição da O2 Play e produção da Raça Ruim Filmes e Lengo Studius.