Terror psicológico à brasileira, O Rastro apresenta jornada obscura entre a realidade da burocracia e o sobrenatural

O filme, estrelado por Leandra Leal e Rafael Cardoso, chega aos cinemas do país nesta quinta (18)

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  • Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2017 às 06:30

- Atualizado há um ano

Numa cena perturbadora de O Rastro, Leila (Leandra) observa o marido João (Rafael), ferido, tomar banho (Foto:Divulgação)Médico jovem, talentoso e em ascensão profissional, João Rocha (Rafael Cardoso) recebe a missão de coordenar a transferência de pacientes de um hospital carioca que está fechando, num quadro que representa a situação da saúde pública no Brasil.

A situação, por si só, é complicada diante dos protestos populares contra o quadro caótico dos hospitais públicos, mas piora ao João saber que a última paciente internada, a assustada Júlia (Natalia Guedes), de 10 anos, desapareceu misteriosamente no meio da noite.Paralelo a isso, o médico precisa dar atenção a sua mulher, Leila (Leandra Leal) que está grávida do primeiro filho do casal. Os problemas levam João Richa a embarcar numa jornada obscura e perigosa, entre a realidade da burocracia e o sobrenatural.Filme de gênero

Dirigido pelo estreante pernambucano J.C. Feyer, com reviravolta na trama e uma grande surpresa no elenco, O Rastro estreia quinta-feira (18/05) e é um filme de terror psicológico, gênero pouco explorado no cinema brasileiro, onde predominam comédias (a maioria, atualmente) e dramas.Produzido pela Lupa Filmes (da comédia romântica Mato sem Cachorro, de 2013, que teve mais de um milhão de espectadores) em parceria com a Orion Pictures (EUA) e a Imagem Filmes, o longa ambiciona ajudar a mudar o espaço para produções de terror no mercado nacional.De acordo com a produtora Malu Miranda, o diretor e os roteiristas André Pereira e Beatriz Manuela, a maior motivação para a realização do longa foi exatamente quebrar essa barreira dos filmes de gênero, como terror e suspense (e que passa também por uma melhor distribuição dos filmes brasileiros).

Para apresentar um produto compatível com a qualidade internacional de filmes de terror, ainda mais porque ele será exibido também nos cinemas dos EUA e comercializado no Festival de Cannes, na França, consultores americanos foram ouvidos sobre O Rastro, que tem Cláudia Abreu, Jonas Bloch, Filipe Camargo, Alice Wegmann e o baiano Érico Brás ainda no elenco.Fatos Misteriosos

Inicialmente, a história se passaria numa mansão assombrada numa colina de Minas Gerais, mas depois foi alterada para dentro de um hospital no Rio, o que ajudou a dar um toque brasileiro ao projeto que demorou oito anos para ser concluído."As primeiras versões do roteiro tinham uma estrutura parecida com os filmes americanos de terror. Então, colocamos a questão do sistema de saúde pública no país, que é uma das piores coisas do Brasil, e isso deu um elemento brasileiro à trama", diz o diretor J.C. Feyer.

O Rastro foi filmado um hospital real do Rio: o Beneficência Portuguesa. Construído no século 19 e localizado no bairro da Glória, ele também passou por diversos problemas que são tratados no longa-metragem, inclusive a sua desativação.Dois acontecimentos misteriosos ocorreram nas gravações: numa cena de João (Rafael), uma porta se abriu sozinha e apesar disso não ter sido premeditado pelo roteiro, a equipe seguiu com a gravação e colocou uma justificativa na pós-produção. E, durante uma gravação de noite, o diretor esqueceu anotações no andar de cima do hospital e, ao chegar no local, as luzes do corredor se apagaram."É um filme de terror tropical porque foge das cenas de terror tradicionais, que geralmente são em ambientes frios. As pessoas estão suadas, faz calor, é o Rio", afirma Leandra Leal, 34 anos.  A produção tem influências de sucessos do gênero, como O Sexto Sentido (M. Night Shyamalan/1999), Seven - Os Sete Pecados Capitais (David Fincher/1995) e O Iluminado (Stanley Kubrick/1980).Em algumas cenas, há mesmo um quê do iluminado Jack Torrance (Jack Nicholson), em João, que as poucos vai perdendo a razão e confundindo o que é real ou não pelos corredores sombrios e desativados do hospital, com boa fotografia de Gustavo Hadba. "Se não é a minha melhor experiência como ator, é uma das principais", diz Rafael Cardoso, 31.*O jornalista viajou a convite da Imagem Filmes