Texto que inspirou filme de Spielberg ganha musical em cartaz no TCA

A Cor Púrpura realiza curta temporada de quinta (5) a domingo (8)

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  • Laura Fernades

Publicado em 4 de março de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Aos 14 anos, Celie deu à luz ao filho do próprio pai, depois foi entregue para casar com um homem cuja masculinidade se estabelecia a partir da violência e foi afastada da irmã, único amor de sua vida. Sim, a história descrita é dura, mas calma porque não é isso que vai afastar o leitor dela, afinal o premiado texto A Cor Púrpura, que chega a Salvador na versão musical, tem uma série de motivos para ser apreciado.

Imortalizado no cinema por Steven Spielberg, em 1985, quando recebeu onze indicações ao Oscar, o romance escrito por Alice Walker em 1982 venceu o Pulitzer e virou musical na Broadway, que levou dois prêmios Tony e o Grammy de melhor álbum de teatro musical. A versão nacional assinada pelo jornalista Artur Xexéo é dirigida por Tadeu Aguiar e pode ser vista no Teatro Castro Alves, de quinta (5) a domingo (8).

Com 17 atores, oito músicos, 90 figurinos, dois palcos giratórios e uma abordagem leve, A Cor Púrpura convida o espectador a mergulhar em uma história densa sobre relações de amor, poder e ódio, em um mundo marcado por diferenças econômicas, sociais, étnicas e de gênero. Visto por mais de 50 mil pessoas, o musical coleciona mais de 30 indicações entre os principais prêmios de teatro do Brasil, como o Shell.

“Apesar de ser um musical de época, fala muito de questões atuais, como a participação da mulher na sociedade, o papel da mulher numa relação amorosa, o machismo, o racismo... Não foi preciso adaptação alguma para o musical interessar à plateia brasileira. Ele, naturalmente, fala a qualquer plateia do mundo de hoje”, conta Artur Xexéo, 68 anos.

Adversidades São 2h15 de espetáculo, com intervalo de 15 minutos, totalizando 2h40 de apresentação “por causa dos aplausos finais”, brinca Tadeu Aguiar, 59, que também dirigiu Bibi - Uma Vida em Musical e Elis - A Musical. Em A Cor Púrpura, a história de Celie (Letícia Soares) é central, assim como sua luta contra as adversidades impostas a uma mulher negra, na Geórgia, na primeira metade do século XX.

Dos 14 aos 45 anos, Celie enfrenta a gravidez na adolescência, por conta do estupro do pai (Jorge Maya), é tirada à força do convívio de sua irmã caçula Nettie (Ester Freitas) e entregue para um casamento arranjado com um fazendeiro local. O objetivo era que criasse seus herdeiros (entre eles, Harpho, vivido por Alan Rocha), lavasse, passasse e trabalhasse sem remuneração.

“A historia dela é muito pesada. São camadas e mais camadas de violência e de dor que eu não levantaria da minha cama. Mas ela não só levanta, como renasce. Celie é uma dessas pessoas raras que vibram o amor, o bem, diante das maiores adversidades. Ela tem uma resiliência e a cada novo ataque, ela limpa a poeira, levanta e vai”, destaca a atriz fluminense Letícia Soares, 37, protagonista do musical.

Sua personagem, continua Letícia, só consegue seguir em frente por conta do amor próprio e é a partir do contato com outras mulheres que Celie entra em contato consigo mesma. “Quando você se percebe linda, forte e capaz é que as coisas acontecem. É muito bonito. Ela tem uma força que nem conhece, uma força que vem através do amor, da doação, da amizade, da entrega, do perdão sem mágoa”, completa.

Atualidade Em um dos momentos de maior desesperança, a protagonista diz: “Se Deus ouvisse o que uma mulher pobre e preta tem a dizer, o mundo seria muito diferente”. Essa frase, para a atriz principal, é uma das mais marcantes por conta de sua atualidade. Afinal, uma história do final do século passado “reflete ainda hoje o que muitas mulheres vivem”.

Apesar disso, Letícia enxerga conquistas. “Olhando pelo lado positivo, hoje a gente tem uma conscientização maior sobre essas questões. Hoje em dia não tem mais essa de ‘briga de marido e mulher não se mete a colher’. Se mete, sim! Talvez Walker tenha escrito como forma de denúncia, mas hoje a gente está falando sobre essas questões como uma experiência de superação”, comemora.

Sua voz negra, por exemplo, “a primeira a ser calada, a ser inviabilizada”, está em destaque no espetáculo formado por 17 atores negros. “E essa talvez tenha sido minha principal dificuldade”, observa o diretor. “Estava dirigindo uma história de negros que sofrem por causa do racismo. Claro que entendo toda essa dor, mas não sinto porque sou branco. Como faria para me colocar no lugar deles?”, questiona.

A solução foi conduzir a direção para que o espetáculo fosse dos próprios atores. A ideia era “transformar essa dor em esperança”, através de personagens que pregam o amor. “As pessoas estão se odiando tanto, que estão esquecendo esse lado que a humanidade tem: a peça é, sobretudo, sobre resignação, amor e respeito”, finaliza.

Serviço O quê: Musical A Cor Púrpura Quando: Quinta (5) e sexta (6), às 20h, sábado (7) e domingo (8), às 16h e 20h Onde: Teatro Castro Alves (Campo Grande | 4003.1212) Ingresso: R$ 80 | R$ 40 (filas de A a P), R$ 60 | R$ 30 (Q a Z6) e R$ 40 | R$ 20 (Z1 a Z7) Vendas: TCA, SACs dos shoppings Barra e Bela Vista e pelo site ingressorapido.com.br