Tite admite gravidade de denúncia contra Caboclo, mas foca no futebol

"Não é da nossa alçada", afirmou o técnico da seleção brasileira

Publicado em 7 de junho de 2021 às 17:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Lucas Figueiredo/CBF

Um dia depois do afastamento de Rogério Caboclo da presidência da CBF, o técnico Tite evitou se manifestar abertamente sobre o assunto, mas reforçou a gravidade das denúncias de assédio sexual e moral feitas por uma funcionária da entidade ao dirigente."Eu compreendo a pergunta. Sabemos a dimensão que tem, a gravidade do caso, temos consciência disso. Agora existe um Comitê de Ética da CBF que toma as devidas providências. Não é da nossa alçada", comentou o treinador da seleção brasileira, em entrevista coletiva nesta segunda-feira (7).

Após dias de incertezas, os jogadores da seleção decidiram que vão disputar a Copa América, no Brasil. A estreia será neste domingo (13), contra a Venezuela, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Tite, porém, evitou falar sobre o tema. O treinador reafirmou que o posicionamento da comissão técnica e dos jogadores será dado após a partida diante do Paraguai, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022. O jogo será na terça-feira (8), às 21h30, em Assunção.

"O tempo das manifestações é o nosso tempo, o que nós entendemos ser correto, quando falo nós, é comissão técnica e atletas. Temos orgulho muito grande da conduta que temos, do respeito que temos a esse momento e ao nosso. Queremos jogar bola e fazer um grande jogo contra o Paraguai", disse.

"Estamos na Copa do Mundo. Eliminatórias já é um processo de Copa do Mundo, muitas vezes as pessoas não se dão conta disso. Para nós, nesse momento, isso (afastamento do presidente da CBF) não tem essa prioridade. Depois sim, reitero o que o Casemiro disse, há respeito e no nosso tempo vamos nos manifestar", completou.

Tite disse que não foi ameaçado de demissão por Rogério Caboclo, e garantiu que está 'em paz' na seleção brasileira. Mas admitiu que o momento tenso atrapalha a preparação do grupo.

"Ela tem sido bastante difícil, porque o momento social é esse. As pessoas acham que temos que ter opinião para tudo. Nós temos que ter capacidade e lugar de fala sobre o que nos diz respeito. É isso o que fazemos com muito amor e paixão. Nós temos dito que temos uma capacidade e inteligência emocionais muito grandes, para saber filtrar as situações, ter tranquilidade, sensatez, apesar das provocações que fazem. Claro que atrapalha, sim, é desafiador. Vamos precisar disso de novo no jogo contra o Paraguai, essa abstração e foco. Externo isso de forma pública o que falei a eles".

Saída? Nos últimos dias, Tite foi alvo de ataques de apoiadores do governo Jair Bolsonaro, que defendem sua saída da seleção. Eles atribuíram ao técnico a possibilidade de os jogadores se recusarem a disputar a Copa América. Entre os críticos, está o vice-presidente Hamilton Mourão.

"Vou falar sobre o meu juízo e o que a minha escala de valores dizem. Tenho muito respeito ao meu trabalho, à seleção brasileira, a esse momento da Copa do Mundo e de eliminatórias. E a melhor maneira de retribuir o carinho das pessoas que me apoiam e ao respeito do que estão contra, é fazer o meu melhor trabalho possível. É nisso que vou me ater", afirmou.

Questionado se se o treinador da seleção deveria estar alinhado com o presidente da República, Tite foi direto: "Técnico de futebol tem que estar alinhado com o futebol".

Mistério sobre time Na manhã desta segunda-feira (7), a seleção brasileira realizou o último treino antes da viagem para Assunção, onde enfrenta o Paraguai, pelas Eliminatórias. Na atividade, Tite indicou uma possível mudança no ataque: Gabigol pode perder a titularidade para Gabriel Jesus.

Na entrevista, o treinador fez mistério sobre a equipe titular. "Nós temos duas formas de jogar. Ela é no 4-3-3- ou 4-1-4-1, como preferirem, e o 4-4-2. Entre um ou outro há diferentes mecanismos no meio-campo, na construção... Estou enrolando, mas não está definido nada não (risos). Está definido, sim, já está organizado e pré-estabelecido, mas agora é vocês irem atrás de fontes", falou."Temos um grupo de atletas do mais alto nível. A utilização de um ou outro vai depender das estratégias, do momento de cada um, do histórico dentro da Seleção... Isso acaba gerando muita possibilidade de uso, sempre no mais alto nível", seguiu.Apesar de não revelar quem serão os titulares, o treinador citou as características de Gabigol e de Gabriel Jesus.

"O Gabriel Barbosa te dá uma flutuação e infiltração de espaço para finalização. O Jesus produziu muito pelo lado, foi um dos destaques nossos na Copa América. Também ataca o espaço, muita força. Richarlison também dá isso. O Firmino é um 9 que exerce o papel de 10. Esses jogadores vão te dando essas possibilidades de utilização dentro de uma determinada forma. Temos um plano A e plano B, que os atletas já têm bastante dominado", comentou.

Uma provável escalação da seleção brasileira contra o Paraguai tem: Alisson, Danilo, Éder Militão, Marquinhos e Alex Sandro; Casemiro, Fred e Lucas Paquetá; Gabriel Jesus, Neymar e Richarlison. O Brasil é líder das Eliminatórias, com 100% de aproveitamento nos cinco jogos disputados.

Veja outros trechos da entrevista coletiva de Tite:

Enfrentar o Paraguai Há um grau de dificuldade muito grande, sim. A qualidade da equipe do Paraguai, ainda mais jogando em casa, com o nível equilibrado das eliminatórias, então é um desafio, sim.

Brasil é seleção a ser batida? Primeiro, com tão pouco tempo de jogo nessa pandemia, todos nós merecemos o reconhecimento pela campanha, comissão técnica e atletas, mas em especial os atletas, porque temos modificado bastante a equipe. Ela tem conseguido um patamar de regularidade, o que é muito difícil. Temos uma ideia de futebol equilibrada.

Momento atual Estou em paz. Estou em muita paz. Tenho muita paz pelas pessoas que tenho em volta, pelo grupo de pessoas energizando. Às vezes eu perco e alguém me retransmite, família ou amigo. Muito discernimento na conduta do nosso trabalho.

Teve conversa com o presidente em exercício da CBF? Toda comunicação diretiva é com o Juninho, existe uma hierarquia e um respeito. Depois vem a comissão técnica. Estamos constantemente, diariamente, e todas as questões ligadas ao futebol e à diretiva é com o Juninho.