Tô Ryca 2 repete fórmula do primeiro filme e o baixo nível das piadas

Evelyn Castro e Rafael Portugal, do Porta dos Fundos, são desperdiçados no longa

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  • Roberto Midlej

Publicado em 3 de fevereiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: divulgação

O cinema brasileiro não tinha a tradição de produzir sequências de filmes. Mas Se Eu Fosse Você (2006), com Tony Ramos e Glória Pires, mostrou o potencial que a comédia tem de levar públicos às salas e mudou essa tendência. O primeiro longa chegou a 3,6 milhões de espectadores e a continuação teve mais de seis milhões.

As comédias passaram a reinar da década passada para cá no Brasil e as sequências chegaram com muita força. Foi assim com De Pernas Pro Ar, Até Que a Sorte nos Separe, Meu Passado Me Condena, O Candidato Honesto, SOS Mulheres ao Mar, Os Penetras, Os Parças... Sem falar, claro, no fenômeno Minha Mãe é uma Peça, de Paulo Gustavo, que, em três filmes, superou os 25 milhões de ingressos vendidos.

Agora, é a vez de Samantha Schmütz trazer de volta a personagem Selminha, de Tô Ryca, lançado em 2016. Mesmo com o desempenho não muito animador da bilheteria (1,1 milhão de espectadores), o diretor Pedro Antonio volta ao posto. No elenco, também está de volta Katisucia Canoro (a Lady Kate do velho Zorra Total). Tem ainda o reforço de dois comediantes do Porta dos Fundos: Rafael Portugal e Evelyn Castro, a personagem Deusa da novela Quanto Mais Vida, Melhor. Evelyn Castro é a personagem que se diz homônima de Selminha Agora, na sequência que chega nesta quinta (2) aos cinemas, Selminha, que havia sido declarada herdeira de um tio milionário no primeiro filme, vê sua riqueza ameaçada: uma mulher, interpretada por Evelyn, surge afirmando ser sua homônima e reivindica o direito à herança. A juíza de direito então determina que Selminha terá que esperar a decisão final e, até lá, ela será obrigada a viver com um salário mínimo por mês.

Sem saída, a milionária é obrigada a demitir os inúmeros empregados que tem em sua luxuosa mansão e a preparar sua própria comida, o que àquela altura ela já havia desaprendido. E o desespero dela aumenta quando a segunda Selminha invade a mansão e decide que as duas vão viver sob o mesmo teto até que a juíza emita a decisão final.

O que se vê daí em diante é uma guerra das duas: Selminha quer expulsar a intrusa e, para isso, prepara umas armadilhas que fazem lembrar as armações que Kevin realizava para pegar os bandidos no clássico Esqueceram de Mim. Mas os problemas de Selminha não acabam: ela se sente obrigada a sair de casa, termina o namoro e é "obrigada" a encarar o transporte público que dias atrás ela tanto desprezava.

O humor de Tô Ryca 2 não traz novidades: repete a fórmula do primeiro filme, com a atuação sempre caricata de Samantha Schmütz, que não faz nada diferente do que costuma fazer em Vai que Cola. Para piorar, as piadas fariam até aquele "tiozão do churrasco" passar vergonha. Os talentos de Porta dos Fundos parecem comediantes medíocres, o que, definitivamente, não são. Assista a qualquer vídeo deles no YouTube e verá que são muito talentosos.

Piadas com o tamanho do pênis de um homem fazem alguém rir em pleno 2022? Frases de duplo sentido e trocadilhos de cunho sexual ainda revelam um resquício de originalidade ou já foram todos esgotados? A certa altura, Selminha se serve de um vinho e, com a rolha, na mão, diz ao garçom, com olhar malicioso: "Hmmmm... que rolha gostosa!". Não seria melhor ficar em casa assistindo a A Praça é Nossa? Rafael Portugal está no elenco Não bastasse isso, há ainda as famigeradas piadas que tiram sarro da vida dos pobres: os restos de sabonete que são juntados, a cortina que despenca no meio do banho, o aperto que as pessoas passam no ônibus...

É aí que a gente se dá conta de como o humor do Porta dos Fundos foi revolucionário no Brasil e fez tanta coisa parecer ultrapassada: o grupo carioca mostrou que não faz sentido rir do oprimido, que, na "vida real", já passa tantos perrengues. Por que rir do pobre, dos negros, dos gays, que já sofrem tanto no dia a dia? Bom mesmo, como eles fazem, é tirar sarro do opressor, que, através do humor, tem a chance de se dar conta de que a sociedade precisa mudar. E logo.