Toffolices

por Aninha Franco

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Publicado em 4 de maio de 2018 às 07:00

- Atualizado há um ano

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O Brasil foi republicanizado em 1889, há 131 anos, historicamente quase ontem, talvez por isso sua estrutura imperial continua impávida. O foro que privilegia mais ou menos 58 mil brasileiros, julgando-os em instâncias superiores, com processos prescritos antes das punições, foi instalado em 1824, e protegeu a família imperial e alguns cargos do Estado. Proclamada a República, a Constituição de 1891 ampliou o número de privilegiados que em 1988, na Constituição Cidadã, chegou a mais ou menos 58 mil cargos, garantindo um festival de impunidade. Paulo Maluf delinque contra o Estado brasileiro desde 1981, ano de seu primeiro processo, sendo protegido pelo Foro até 2018, quando foi preso rapidamente. O Foro foi seu cúmplice por 37 anos.

Nesta semana, um dos grandes cúmplices da corrupção brasileira, o Foro, deixou de proteger, em termos, 81 senadores e 513 deputados federais, 1% da patota que usa e abusa do privilégio. Ministros, governadores, prefeitos, deputados estaduais e vereadores, todos devidamente aforados, podem entrar no rastro da pequena amortização desta semana, ou não, porque tudo depende dos votos barrocos do nosso Supremo. A decisão deixou de fora magistrados, promotores, procuradores, mais ou menos 34.676 brasileiros (Ajufe) que agridem o artigo 5º da Constituição que garante que somos todos iguais perante a lei, mas noutros artigos de si mesma promove a desigualdade.

E assim a nave Brasil vai aos trancos e barracos. Nos trancos do barroquismo seiscentista do Supremo. E nos barracos funkeiros entre aqueles que descobriram que Lula era só um picareta a serviço do Capital, aqueles que ainda não quiseram descobrir e aqueles que sobrevivem de não descobrir. O apocalipse só não perde pro momento atual do Brasil porque seus textos são deslumbrantes. E translúcidos! Os que não querem ou vivem de não querer descobrir a essência lulopetista tiveram que gritar ForaTemer, Eleição sem Lula É fraude e, agora, estão no Lula Livre. O que é nada perto de ter que considerar Toffoli, Levandovsky e Gilmar Mendes bons companheiros.

Pra assistir Toffoli ler textos que, possivelmente, nunca pensou, provavelmente nunca escreveu, saber que os textos estão atrasando o Brasil 100 anos e ter que considerar Toffoli legal é preciso ser o pica das galáxias. E equilibrar o Lula Livre com as planilhas da Odebrecht e a sociedade em Angola nos mesmos neurônios, questionando, com eles, a existência de provas diante de notas fiscais de 9 milhões em palestras sem um registro de um cara que filmou sua própria prisão durante 48 horas.

O pacote é um só. Quem grita ForaTemer, Eleição sem Lula É fraude e, agora, Lula Livre está comprometido com Toffoli, Levandovsky e Gilmar Mendes no Supremo, com o Boulos pensador de invasões mortais, com Gleisi Hoffman e Lindberg Farias, ignora que o Brasil não precisa de direita ou esquerda, precisa combater a corrupção com o cumprimento da lei e crescer, porque fora da lei é a desigualdade selvagem que sua não aplicação fabrica e sustenta desde nosso início.