Toque de recolher pega alguns baianos e turistas de surpresa

A maioria cumpriu o decreto, mas alguns desavisados permaneceram nas ruas após às 20h

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 22:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

Com o toque de recolher antecipado para às 20h, nesta segunda-feira (22) os baianos tiveram que adiantar seus afazeres. Em Salvador, uns saíram mais cedo do trabalho direto para casa, outros ainda pararam para um happy hour e alguns ainda correram para fazer suas compras nos shoppings a tempo. Desde às 17h, já havia aglomerações nos pontos de ônibus da cidade e, após às 20h, alguns desavisados ainda estavam nas ruas.

Na Barra, minutos antes das 20h, muitas pessoas ainda passavam caminhando, andando de bicicleta ou passeando com o cachorro. Logo depois do horário limite de circulação, alguns desavisados ainda estavam na rua. No gramado do Farol da Barra, um grupo de seis amigos estava reunido e consumindo bebida alcoólica. Quando abordada pela equipe de reportagem, uma das pessoas do grupo, que preferiu não se identificar, explicou que não sabia da antecipação do toque de recolher. 

“Logo quando baixou o decreto, eu fiquei sabendo que tudo era até 22h. Hoje eu vim com meus amigos, que não são de Salvador, para que eles pudessem conhecer a praia da Barra. Fomos surpreendidos porque os barzinhos fecharam às 18h e a gente tinha a expectativa de beber até umas 21h, como de costume. Aí fomos em busca de lugares que ainda vendessem cerveja e acabamos comprando no mercado para vir beber aqui”, relatou. 

Na mesma hora, um turista passava apressado com as duas filhas para conseguir uma foto no ponto turístico antes de ir para casa. Quando questionado pela reportagem, ele disse que não sabia do toque de recolher, tinha acabado de ser avisado e tiraria a foto e iria para o hotel onde está hospedado. 

Na área do Farol da Barra, havia uma viatura da Guarda Civil Municipal, mas o CORREIO não registrou qualquer orientação a quem ainda estava por lá após as 20h. 

Aniversário A estudante Adria Sande estava com a amiga no Salvador Shopping até pouco antes das 19h, horário de fechamento do estabelecimento. Ela completou 21 anos nesta segunda e precisou mudar os planos que tinha para o aniversário. Antes do toque de recolher, ela planejou celebrar a data com os amigos. 

“A maioria trabalha até às 18h, então não dava tempo. Aí vim só com uma amiga para um restaurante daqui. Chegamos cedo, por volta de 16h30”, conta. Para ela, o toque de recolher é bem-vindo.“É uma situação muito difícil que a gente está passando e temos que entender que é para um bem maior. As coisas foram liberadas e a gente viu os números subindo de novo. Então é melhor fechar as coisas agora do que a gente perder ainda mais vidas”, completa. O decreto prevê que o atendimento presencial em bares, restaurantes, lojas de conveniência e demais estabelecimentos similares que comercializem bebidas alcoólicas deve ser encerrado às 18h. No Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, o horário foi respeitado. Viaturas da Polícia Militar ficaram de prontidão no local. 

Uma turista de Vitória da Conquista, que preferiu não se identificar, foi aproveitar com o companheiro as últimas horas de bar liberado. Ela conta que ficaria na cidade até quarta-feira, mas, como não vai conseguir passear por conta das restrições, preferiu antecipar a volta para esta terça. “A gente ia ficar até mais um dia, mas com isso tudo, vamos embora na terça. Estão pecando até com os turistas porque a medida foi decretada de última hora e gerou um mal estar em quem pagou e se planejou para viajar. As medidas tinham que ser tomadas desde antes para que a gente não tivesse chegado numa situação dessas que estamos vivendo”, opina. 

Para o corretor Victor Medleg, de 38 anos, restrições como o toque de recolher não são a solução. “O que precisa é investir na saúde, em UTI, hospital, para que o comércio não seja prejudicado, os trabalhadores não sejam prejudicados e mandados embora, nem se aumente a miséria. Porque a vacina ainda vai demorar para chegar”, aponta ele, que se reuniu até às 18h em um bar com dois amigos para comemorar o nascimento da filha de um deles.

Taíse Oliveira, de 30 anos, é garçonete no bar e restaurante Cabral 500, que fica no Rio Vermelho. Ela diz que o estabelecimento e os funcionários seguem diversos protocolos e que é frustrante ver que isso não é suficiente. Taíse confessa estar com medo do que pode acontecer nos próximos dias e faz um desabafo.“A gente está com medo de ter um novo lockdown, porque isso geraria muito desemprego. É capaz que todo mundo seja demitido aqui. A gente vai fazer o que? Vai morrer de fome? Eu uso touca, óculos, álcool em gel na mão o tempo inteiro, a fiscalização está aqui o tempo todo. E para quê, se mesmo assim eles fecham? As aglomerações são nos paredões, praias, depósitos de bebida e é a gente que acaba pagando por isso”, diz. O proprietário do Cabral 500, Odilon Cabral, de 65 anos, confirma o cenário de preocupação. Ele diz já ter feito uma demissão no último domingo e mais uma nesta segunda. “Nós comerciantes estamos sem saber como dialogar com os fornecedores. Tem fornecedor, tem imposto e a prioridade, que é o pagamento dos funcionários. Infelizmente, estamos sem saber o que fazer, de pés e mãos atados sem saber de onde tirar dinheiro. Eu já recorri ao banco no ano passado, pensei que as coisas iam melhorar. Agora, tudo de novo. Eu já dispensei cinco funcionários esses dias. Foi um ontem e acabei de dispensar um agora. Talvez eu não fique com nenhum no quadro, deixar só prestadores de serviços avulsos. São mais famílias desempregadas neste país”, desabafa. 

A restrição na circulação de pessoas nas ruas passou a valer das 20h às 5h e envolve 381 cidades baianas, até o próximo dia 28 de fevereiro.  A região Oeste e das cidades de Irecê e Jacobina são as  exceções.

Apenas o delivery de alimentos fica permitido até as 23h. Conforme o decreto, no período das 20h às 5h, é permitido o deslocamento somente para ida a serviços de saúde ou farmácia, para compra de medicamentos, ou situações em que fique comprovada a urgência.

Não são alcançados pelo decreto os serviços de limpeza pública e manutenção urbana; os serviços delivery de farmácia e medicamentos; e as atividades profissionais de transporte privado de passageiros. Ruas da capital baiana ficaram vazias nesta segunda-feira, após o horário determinado pelo toque de recolher (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Fiscalização Aqueles que descumprirem a medida podem ser autuados nos artigos 268 (infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa) e 330 (desobedecer a ordem legal de funcionário público) do Código Penal.

A população pode contribuir com a fiscalização. Denúncias para a Polícia Militar da Bahia (PMBA) devem ser feitas pelo 190 ou (71) 3235-0000, na capital, e pelo 181, no interior do estado. A denúncia é anônima.

Transporte

A operação de transporte de Salvador também sofre por mudanças. O metrô passa a ter a última saída às 20h30 e os últimos ônibus deixam as estações de transbordo às 21h30. Os ônibus passam pela última vez nos principais corredores de tráfego às 20h30.

O serviço é sempre retomado a partir das 4h30, para atender os usuários que necessitam do transporte antes das 5h, evitando, assim, aglomerações nos primeiros horários.

Para atender à demanda, ficam disponíveis 21 veículos de frota reguladora, distribuídos entre as estações da Lapa, Pirajá, Mussurunga e Acesso Norte. Além destes, ficam mantidos os oito veículos reguladores para a operação assistida na região do Subúrbio.

A Agerba estabeleceu novos horários para o funcionamento do sistema hidroviário de transportes entre Salvador e a Ilha. Tanto no sistema ferry-Boat, para Itaparica, como no sistema de Lanchas, para Vera Cruz, o embarque de passageiros acontece até as 19h. O último horário foi antecipado para que os usuários realizem a travessia e ainda tenham tempo para se deslocar até suas residências. A frequência de saída das embarcações segue o quadro regular de horários, com início da operação às 5h30, no Ferry-Boat, e às 5h20, nas lanchinhas.

ShoppingsShopping Piedade - De segunda a sábado: das 10h às 19h (restaurantes e quiosques que comercializam bebidas alcoólicas vão encerrar as atividades às 18h); domingo: fechado Shopping Center Lapa - De segunda a sábado: das 10h às 19h; domingo: lojas de 12h às 18h e Praça de Alimentação das 12h às 19h Shopping Bela Vista - De segunda a sábado: das 10h às 19h; domingo: lojas de 13h às 19h e alimentação e lazer das 12h às 19h Salvador Shopping - De segunda a sábado: das 10h às 19h; domingo: das 12h às 19h / Bompreço: segunda a sábado: das 7h às 19h; domingo: das 8h às 19hSalvador Norte Shopping - De segunda a sábado: das 10h às 19h; domingo: das 12h às 19h Shopping Paralela -  De segunda a sábado: das 10h às 19h; domingo: das 12h às 19h Shopping Barra - De segunda a sábado: das 10h às 19h; domingo: de 12h às 19h Shopping da Bahia - De segunda a sábado: das 10h às 19h;  domingo: das 12h às 19h Shopping Itaigara - De segunda a sábado: das 10h às 19h; domingo: fechado Shopping Paseo - De segunda a sábado: das 10h às 19h; domingo: funcionamento opcional de 13h às 19h Balanço

De acordo com o balanço da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), entre sexta e domingo, foram feitas 2.148 vistorias na capital, em 76 bairros, com 20 interdições em 12 bares, 1 padaria, 3 casas de eventos, 2 depósitos de bebidas e 2 barbearia. Além disso, 11 aglomerações foram dispersadas, 13 orientações verbais em bares foram feitas e 10 equipamentos foram apreendidos, entre eles, aparelhos de som, banners, mesas e cadeiras. 

Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP),  entre as 22h de sexta-feira (19) e 5h da manhã deste sábado (20), houve flagrantes de desobediência do decreto estadual em sete cidades do interior da Bahia. 12 pessoas foram autuadas pela Polícia Civil por terem desrespeitado a medida. Além dessas 12 autuações, cinco pessoas foram conduzidas a delegacias pela Polícia Militar em Salvador. Os flagrantes de desobediência civil aconteceram no Complexo do Nordeste de Amaralina, onde quatro pessoas foram conduzidas e, em Paripe, no Subúrbio, onde um homem foi detido com som automotivo. O equipamento também foi apresentado na delegacia.

O primeiro final de semana com toque de recolher na Bahia teve 55 pessoas detidas, segundo balanço do governo. Entre 22h de domingo (21) e 5h desta segunda-feira (22), 20 pessoas foram flagradas desrespeitando o decreto estadual. Nos dias anteriores, as polícias Militar e Civil conduziram e autuaram, respectivamente, 35 infratores.

Entre domingo e segunda, foram registradas quatro ocorrências em Salvador e mais quatro em outras cidades da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Entre os casos está o de um homem em Itinga, Lauro de Freitas, que foi detido alcoolizado e sem carteira de habilitação com um paredão de som no carro. Outros 12 flagrantes aconteceram nas cidades de Ibirapitanga, Alagoinhas, Vitória da Conquista e Aracatu.  

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro