Trabalho doméstico atrai menos as jovens, aponta estudo do Ipea

A proporção de empregadas domésticas com até 29 anos caiu de 51,5% em 1995 para 16% em 2015. O número das chefes de família cresceu

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  • Da Redação

Publicado em 7 de março de 2017 às 08:51

- Atualizado há um ano

O aumento da escolaridade da população e ampliação das oportunidades em outras áreas reduziram o número de mulheres jovens dedicadas ao trabalho doméstico.  A proporção de empregadas domésticas com até 29 anos caiu 35,5 pontos percentuais em 20 anos: de 51,5% em 1995 para 16% em 2015. Os dados também fazem parte do Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).“Ninguém nasce com o sonho de ser empregada doméstica. Essas meninas tiveram acesso aos estudos. Isso acabou evitando que entrassem no serviço doméstico”, explica o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.Sirlete Santos buscou a atividade para não ficar desempregada (Foto: Arisson Marinho/Correio)A renda das domésticas saltou 64% nesses 20 anos, atingindo valor médio de R$ 739 em 2015. Ainda assim, o rendimento médio ficou abaixo do salário mínimo da época, de R$ 788. Diarista há 5 anos, Sirlete Santos se mantém na profissão porque precisa de emprego. “Eu até já tive vontade de não ser diarista, já fiz um curso para fazer torta no Senac, montei uma parceria com outra pessoa nessa área, mas não  deu certo, aí eu voltei para a diária. Eu preciso do emprego, mas as pessoas também precisam  do meu trabalho”. Para o pesquisador Tiago Barreira, do Centro de Pesquisa Econômica Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o avanço nas políticas sociais também contribuiu. “O acesso ao ensino superior chegou nas camadas mais pobres, devido a políticas de estímulo, como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil, do governo federal)”, avalia Barreira.

Cresce o número das chefes de família

O estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça observou ainda que aumentou o número de mulheres chefiando famílias. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número chegou a 40%.

As famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina: em 34% delas havia a presença de um cônjuge. “Muitas vezes, tais famílias se encontram em maior risco de vulnerabilidade social, já que a renda média das mulheres, especialmente a das mulheres negras, continua bastante inferior não só à dos homens, como também à das mulheres brancas”, diz o estudo.

O Ipea verificou a sobreposição de desigualdades com a desvantagem das mulheres negras no mercado de trabalho. Segundo Natália, apesar de mudanças importantes, como o aumento geral da renda da população ocupada, a hierarquia salarial – homens brancos, mulheres brancas, homens negros, mulheres negras – se mantém. “A desvantagem das mulheres negras é muito pior em muitos indicadores, no mercado de trabalho em especial, mas também na chefia de família e na pobreza. Então, é quando as desigualdades de gênero e raciais se sobrepõem no nosso país”, disse a especialista, destacando que a taxa de analfabetismo das mulheres negras é mais que o dobro das mulheres brancas. Entre os homens, a distância é semelhante.

Segundo o Ipea, nos últimos anos, mais brasileiros e brasileiras chegaram ao nível superior. Entre 1995 e 2015, a população adulta negra com 12 anos ou mais de estudo passou de 3,3% para 12%. Entretanto, o patamar alcançado em 2015 pelos negros era o mesmo que os brancos tinham já em 1995. A população branca com tempo de estudo igual ao da negra praticamente dobrou em 20 anos - de 12,5% para 25,9%.