Travesti esfaqueada denunciou agressor um dia antes do crime

Das quatro vítimas, duas prestaram queixa na delegacia da Pituba

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  • Bruno Wendel

Publicado em 7 de março de 2018 às 16:02

- Atualizado há um ano

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Elas já não estão mais nas ruas, têm medo que o suspeito possa retornar e, dessa vez, cometer algo mais grave. As quatro travestis que foram esfaqueadas na Rua Minas Gerais, na Pituba, em um período de dez dias, temem pela vida. Duas delas estiveram na 16ª Delegacia (Pituba) na manhã desta quarta-feira (7) para prestar queixa contra o suspeito descrito por elas como um homem alto, magro, moreno e que usa um canhavaque.

De lá, as vítimas seguiram, após serem ouvidas, para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para fazer o exame de corpo de delito e o retrato falado do agressor. 

De acordo o boletim de ocorrência do Hospital Geral do Estado (HGE), uma das vítimas, que tem 21 anos, deu entrada na unidade com um corte na boca no último sábado (3). Para os policiais civis do posto da Polícia Civil do HGE, a vítima relatou que foi atacada pelo fato de ter presenciado uma agressão no dia anterior e ter denunciado o suspeito à polícia.   Travesti teve a boca cortada por agressor (Foto: Blog Me Salte/CORREIO) A vítima relatou ao CORREIO que, na sexta (2), estava na Rua Minas Gerais, próximo à boate Eros, pouco depois da meia-noite, quando percebeu o suspeito se aproximando de uma colega de trabalho que estava nas imediações da Avenida Manoel Dias.

Ao avistá-lo, a travesti sinalizou aos policiais que passavam por ali que o suspeito iria atacar mais uma vítima. Os PMS pararam, chegaram a seguir o agressor, mas não o alcançaram. "Quando eu vi, gritei: 'É ele, é ele quem está esfaqueando', mas ele estava longe e quando percebeu a viatura se aproximando correu", lembra.  

Para ela, isso pode ter motivado a sua agressão no dia seguinte. A travesti estava por volta das 3h do sábado, no mesmo local, quando o suspeito veio correndo em sua direção. Uma amiga, mais atenta, percebeu o ataque e tentou avisá-la, mas a vítima foi pega de surpresa. "A minha amiga gritou: 'olha lá, corre, ele tá vindo, corre', mas quando percebi ele já estava em cima de mim. Tentei esquivar, fui pra um lado, mas ele foi pra cima e tirou a faca de dentro da jaqueta", conta.

Ataque Outra travesti de 24 anos, agredida no dia 24 de fevereiro, às 3h, também na Rua Minas Gerais, foi golpeada no pescoço. Diferente de outros ataques, o suspeito utilizou um objeto pontudo, similar a uma pequena barra de ferro. Assim como em outros episódios, o agressor chegou repentinamente, não dando chances de defesa às vítimas. "Ninguém sabe de onde ele chega e pra onde vai. Passa, registra a pessoa, e, em seguida, vem pra atacar. A gente não sabe como funciona; ele aparece do nada e some. Eu estava de lado quando ele passou por mim, olhou para um lado, pro outro e me atacou no pescoço", relata.  A vítima, que tinha retornado às ruas há apenas um mês, não pensa mais na possibilidade de voltar a atender seus clientes em vias públicas. Temendo um novo ataque, ela alugou um flat, onde pretende continuar trabalhando. 

Segundo a títular da 16ª Delegacia, Maria Selma Lima, imagens de câmeras de segurança podem ajudar a polícia a chegar ao agressor. Câmeras que podem ter registrado os ataques já foram identificadas e o próximo passo, ainda segundo ela, é analisar as gravações. Caso seja preso, o crime deve ser tratado como tentativa de homícidio."Ainda não coletamos as imagens para entender os motivos desses ataques, mas o que achamos é que se trata de um maníaco. Estamos pedindo inclusive as imagens das câmeras de segurança da boate Eros", afirma a delegada.Medo Outras duas travestis que também foram agredidas acabaram desistindo de registrar a queixa. Millena Passos, ativista que está acompanhando o caso, afirma que as travestis estão muito abaladas. A denúncia, segundo ela, é importante para que os casos não caiam no esquecimento.  Millena Passos acompanha o caso e presta solidariedade às vítimas (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) "Eu tive que pegá-las pelo braço e convencê-las a denunciar para que não possa acontecer outros crimes parecidos. Assim como foi com elas, poderia ter sido com outras e poderia até ter sido assassinato. Elas têm medo de represálias, de voltar para as ruas, porque não existem outras alternativas", diz.