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Três campeões pelo Bayern que jogaram na Fonte Nova e você não sabia


 

Eles se destacaram no título da Liga dos Campeões; será que você os viu de perto?

  • Vitor Villar

Publicado em 29/08/2020 às 06:00:00
Atualizado em 21/04/2023 às 13:17:06
. Crédito: Reprodução Twitter / UCL

Agosto foi o mês do mundo se encantar com o Bayern de Munique. Campeões alemães pela oitava vez seguida em 2020, os bávaros aplicaram um 8x2 no Barcelona nas quartas de final e bateram o PSG na final para conquistarem a sexta Liga dos Campeões da sua história.

Nas redes sociais, foi comum ver gente confessando um certo desconhecimento em relação a alguns atletas do Bayern. Quem é esse lateral esquerdo Alphonso Davies – canadense, por sinal? De onde vieram esses tais de Kingsley Coman e Serge Gnabry? Bayern foi campeão com jovens "desconhecidos", como Gnabry (Foto: Reprodução Twitter / UCL) Se comparado aos rivais da fase final da Liga, de fato o time alemão é bem menos galático. A estrela da equipe, o atacante Robert Lewandowski, foi contratado de graça. Não tem um Lionel Messi, como o Barcelona, e não gastou 1,3 bilhão de euros para montar o seu elenco, como fez o PSG de Neymar.

A verdade é que o Bayern multicampeão em 2020 é mais um fruto do planejamento a longo prazo do futebol alemão. Sim, aquele mesmo planejamento do qual a Seleção Brasileira acabou vítima em 2014. E que fortalecerá ainda mais a equipe nacional com jovens promessas para a Copa do Mundo de 2022.Você, torcedor baiano, pode ter sido testemunha ocular desse planejamento alemão e nem ter se dado conta disso. Lembra do futebol na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro? A Arena Fonte Nova, em Salvador, foi palco de sete jogos do torneio masculino.A Alemanha, que disputou o torneio com um time experimental formado por garotos, jogou duas vezes em Salvador. Fez da capital baiana, inclusive, a sua sede durante a primeira fase. Em 2014, a Bahia também havia sido sede da seleção principal, mas no Extremo Sul, na cidade de Santa Cruz Cabrália.

Pois bem: aquele grupo alemão que ficou na Bahia na Olimpíada tinha três jogadores campeões pelo Bayern de Munique em 2020. Detalhe: dois foram titulares na Liga dos Campeões e o outro entrou em todas as partidas da reta final. Havia ainda um quarto atleta, que foi destaque pelo RB Leipzig, eliminado nas semifinais da Champions para o PSG. A Alemanha olímpica fez dois jogos na Fonte Nova; Gnabry abraça Süle após marcar contra o México (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) A Alemanha na Bahia

A equipe olímpica da Alemanha desembarcou em Salvador no dia 31 de julho de 2016. O primeiro jogo na Fonte Nova foi com o México: empate em 2x2 pelo Grupo C no dia 4 de agosto. Três dias depois, empatou de novo, dessa vez com a Coreia do Sul, em 3x3.

Só foram embora no dia 8 de agosto. Curiosidade: inicialmente, a equipe olímpica havia anunciado que usaria as dependências do Fazendão, do Bahia, para treinar. Inesperadamente, no dia 1º, mudou-se para o Barradão, do Vitória. Deixou mal estar na torcida.

Os alemães ainda goleariam Fiji por 10x0 em Belo Horizonte. Nas quartas de final, venceram Portugal por 4x0 em Brasília. Nas semifinais, eliminaram a Nigéria por 2x0. E na decisão, no Maracanã, foram derrotados pelo Brasil de Neymar nos pênaltis após 1x1 no tempo regulamentar.

O planejamento

Como é de praxe em anos olímpicos, a Alemanha havia disputado em julho a Eurocopa, realizada na França. Com isso, os destaques do país com idade sub-23 ficaram de fora dos Jogos Olímpicos. Um deles foi o lateral direito e volante Joshua Kimmich, uma das estrelas do atual Bayern na Liga dos Campeões.

Kimmich tinha então 21 anos. Estava no planejamento que disputaria a Olimpíada. No entanto, em sua primeira temporada no Bayern, destacou-se tanto que foi convocado pelo técnico Joachim Löw para a equipe principal, na Eurocopa, seu primeiro torneio oficial pela Alemanha.

O técnico da equipe olímpica era Horst Hrubesch, funcionário desde 2000 das categorias de base da seleção. Dos 18 atletas convocados, nenhum tinha, à época, destaque no Campeonato Alemão. Mesmo tendo atuado em poucas partidas da Eurocopa, garotos como Julian Weigl, Emre Can, Julian Draxler e Leroy Sané ficaram de fora. Time alemão contra a Coreia do Sul; em pé, da esquerda: Ginter, Selke, Klostermann, Sven Bender, Süle e Horn; agachados: Brandt (camisa 11), Gnabry, Toljan, Lars Bender e Max Meyer (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Entre os três acima de 23 anos que poderia convocar, surpreendeu: trouxe à Bahia os irmãos volantes e gêmeos Lars e Sven Bender, então no Leverkusen e no Dortmund, respectivamente, e o atacante Nils Petersen, que havia sido vice-artilheiro da segunda divisão alemã na ocasião. Todos tinham 27 anos.

Vale lembrar que o Brasil, comandado pelo técnico Rogério Micale, convocou o que tinha de melhor à disposição, tanto acima como abaixo dos 23 anos. Por exemplo, Neymar, então aos 24 anos, que havia ficado de fora da Copa América para disputar a Olimpíada.

Os demais acima da idade foram o meia Renato Augusto, que havia jogado a Copa América, e o goleiro Fernando Prass, que depois se lesionou e entrou Weverton. O lateral Zeca, hoje no Bahia, tinha então 22 anos, jogava pelo Santos e foi convocado.

QUEM ERAM OS JOGADORES?

Antes de começar, uma curiosidade: levando em conta a final da Liga dos Campeões como parâmetro, a Alemanha olímpica tinha três jogadores campeões pelo Bayern de Munique. Já a Seleção Brasileira que levou o ouro tinha dois vice-campeões pelo PSG: Neymar e o zagueiro Marquinhos. Gnabry na Fonte Nova contra a Coreia do Sul (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) SERGE GNABRY

Hoje, o atacante de 25 anos é destaque absoluto do Bayern. Titular em nove dos 11 jogos da campanha na Liga dos Campeões, fez nove gols no torneio. Entre eles, um golaço na semifinal contra o Lyon, partida em que marcou duas vezes.

Mas em 2016, quando foi convocado para os Jogos Olímpicos, Gnabry estava muito mais para o status de promessa que não havia vingado e um caso perdido. Aos 21 anos, estava completamente encostado no Arsenal, clube que o contratou ainda em 2012, aos 17.

Nascido em Stuttgart, no sudoeste da Alemanha, Gnabry sempre teve status de joia. Ainda aos 17, estreou pelo Arsenal e disputou a Liga dos Campeões. A promessa, no entanto, não vingou. Nos anos seguintes, acabou relegado ao time B e passou duas temporadas inteiras sem jogar no time principal.

Aí, vem o surreal: em 2016, quando foi convocado para a Olimpíada, Gnabry havia acabado de sair de um empréstimo ao West Bromwich, onde só disputou uma partida da Premier League na temporada inteira, e ainda como reserva. Mesmo assim, o técnico Hrubesch apostou nele.

Pois a Olimpíada foi decisiva na vida de Gnabry. Disputou todas as seis partidas, cinco como titular, e marcou seis gols. Foi o artilheiro e eleito melhor jogador pela imprensa alemã. Em Salvador, inclusive, fez três gols para os baianos verem: um contra o México, único em que saiu do banco, e dois diante da Coreia do Sul.

O destaque chamou a atenção do Werder Bremen, que o contratou do Arsenal por 5 milhões de euros. Marcou 11 gols na Bundesliga em 2016/2017, foi destaque da equipe e acabou contratado pelo Bayern na janela seguinte por 8 milhões de euros. Hoje, não vale menos que 72 milhões de euros.

Desde 2019, tornou-se frequente também nas convocações para a seleção alemã principal. Já marcou 8 gols em 7 jogos pelas Eliminatórias da Eurocopa. Goretzka, de preto, teve participação breve na Fonte Nova, contra o México (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) LEON GORETZKA

Quando foi convocado para os Jogos Olímpicos no Brasil, já se sabia que Goretzka teria um grande futuro. Do grupo que foi chamado por Horst Hrubesch, ele era, provavelmente, o que tinha maior participação na Bundesliga, atuando pelo Schalke aos 21 anos. Tanto que foi capitão na Rio-2016.

Nascido em Bochum, no noroeste da Alemanha, era monitorado pelo Bayern desde 2012, quando jogou pelo Bochum na segunda divisão do país aos 17 anos. Também defende a seleção alemã de base desde os 16, quando conheceu Hrubesch e ganhou sua confiança.

Acabou indo para o Schalke em julho de 2013, por 3,25 milhões de euros. No ano seguinte, tornou-se destaque na equipe de Gelsenkirchen marcando quatro gols em 25 jogos pela Bundesliga. Tudo isso antes de fazer 20 anos.

Chegou a ficar na lista preliminar da Alemanha para a Copa do Mundo de 2014, mas acabou cortado pelo técnico Joachim Löw. Ou seja, em 2016, Goretzka já era um nome conhecido no futebol alemão. Tanto, que em 2017, na Copa das Confederações, acabou convocado para o time principal.

Por isso, era projetado que fosse um dos pilares da equipe que disputou a Olimpíada. Como era um concorrente a vaga no time principal, todos queriam vê-lo em ação.

O problema veio no primeiro jogo, justamente em Salvador. Contra o México, o capitão Goretzka acabou caindo sobre o ombro e teve uma lesão séria. Foi substituído aos 28 minutos do primeiro tempo e, no dia seguinte, cortado da delegação. Retornou para Gelsenkirchen. Curiosidade: quem entrou no lugar dele na equipe titular foi justamente Gnabry.

O curioso é que na época o rapaz atuava como meia mais ofensivo, chegando ao ataque. No Bayern, sob comando de Hansi Flick em 2020, Goretzka acabou recuado e atua como volante. Também ganhou massa muscular e mudou seu estilo de jogo. Na Liga dos Campeões, disputou oito jogos. Süle foi um dos destaques da Alemanha na Olimpíada (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) NIKLAS SÜLE

Diferentemente dos companheiros de Bayern, Süle não foi titular na reta final da Liga dos Campeões, mas o zagueiro entrou em todos os quatro jogos da retomada pós-coronavírus. Ao todo, foram seis partidas pela competição continental.

Mesmo jovem, com 24 anos, Süle já é realidade há um bom tempo. Em 2018, na Copa do Mundo disputada na Rússia, lá estava ele no grupo convocado pelo técnico Joachim Löw.

Até outubro de 2019, era um dos titulares da zaga do Bayern, então sob comando de Niko Kovac. Foi quando rompeu mais uma vez o ligamento cruzado anterior de um joelho. Na ausência dele, Hansi Flick assumiu o comando e fez a astuta mudança de colocar o lateral esquerdo Alaba como zagueiro.

Trata-se de um talento precoce. Süle tornou-se titular do Hoffenheim na temporada 2013/14, aos 18 anos. Foram 25 jogos na Bundesliga. Porém, na temporada seguinte, veio a queda: rompeu o ligamento cruzado anterior de um joelho e pouco jogou em 2014/15.

A história do zagueiro ganhou força em 2016. Na época da Olimpíada, Süle tinha 20 anos e vivia a sua fase de recuperação. A temporada 2015/16, que antecedeu os Jogos Olímpicos, foi a de reafirmação do garoto como titular, na qual disputou 33 partidas.

A reafirmação seguiu em terras brasileiras. Süle foi convocado para que fosse titular e mostrasse seu futebol aos clubes maiores e a Joachim Löw. Disputou todos os minutos das seis partidas no torneio e acabou como um dos destaques da equipe que ficou com a medalha de prata.

O reconhecimento chegou em sequência. Em agosto de 2016, logo depois da Olimpíada, Süle fez a sua primeira partida pela equipe principal da seleção alemã. Em julho de 2017, por causa do destaque também no Hoffenheim, acabou convocado para a Copa das Confederações. E naquele mesmo mês, foi comprado pelo Bayern por 20 milhões de euros. Gnabry conversa com Ginter na Fonte Nova em 2016 (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) OUTROS DESTAQUES

Lukas Klostermann (RB Leipzig)

Outro que teve destaque na fase final da última Liga dos Campeões. A equipe de Lukas, o RB Leipzig, chegou até as semifinais, quando perdeu para o PSG por 3x0. O lateral direito, que também pode atuar na esquerda, tem 24 anos e disputou as 10 partidas da equipe no torneio.

Desde 2019, Klostermann tem sido frequentemente convocado por Löw para a seleção alemã que disputa as Eliminatórias da Eurocopa. Foram oito jogos, todos como titular. Tanto no Leipzig como na seleção ele atua como lateral direito.

Esse é o ponto curioso. Na Olimpíada, Klostermann foi convocado como lateral esquerdo e assim atuou por todo o torneio. Está no Leipzig desde 2014, quando a equipe estava na segunda divisão. É mais um natural de Bochum e revelado pelo time local.

Julian Brandt (Borussia Dortmund)

Outro que disputou a Liga dos Campeões deste ano com algum destaque. Sua equipe, o Dortmund, caiu nas oitavas de final para o PSG. Brandt esteve em sete jogos pelo torneio e marcou dois gols.

Quando foi convocado para a Olimpíada, tinha apenas 20 anos e defendia o Bayer Leverkusen. Tinha status de garoto que entrava em muitos jogos da Bundesliga, mas não era titular. No entanto, era considerado uma promessa.

Na verdade, a condição de joia acompanha Brandt desde os 16 anos. Ganhou duas vezes o prêmio Fritz Walter, dado ao melhor jogador alemão de cada categoria de base, aos 17 e 18 anos. Por isso, chegou com muita expectativa à Rio-2016.

No Brasil, disputou todos os seis jogos, mas não fez gol. Em 2017, foi convocado para a Copa das Confederações com o time principal. Em 2018 esteve no grupo que disputou o Mundial da Rússia.

Matthias Ginter (Borussia Mönchengladbach)

Diferentemente dos companheiros, Ginter fez o caminho contrário. A grande surpresa da carreira dele ocorreu logo no início, em 2014, quando aos 20 anos foi convocado no grupo da Copa do Mundo em que a Alemanha acabou campeã no Brasil.

Naquele ano, era zagueiro titular do Freiburg, apesar da pouca idade. Após o Mundial, acabou comprado pelo Borussia Dortmund. Foi nessa fase, ainda como jogador promissor, que Ginter foi convocado para ser um dos pilares da equipe olímpica.

De fato, foi. Disputou cinco dos seis jogos e marcou dois gols no torneio. Ao retornar para o Dortmund, não teve o mesmo espaço, atuando mais como lateral direito. Em 2017, decidiu mudar-se para o Monchengladbach, onde tornou-se titular e fundamental para a equipe.

Hoje, aos 26 anos, não tem o mesmo status de promessa que tinha ao vir para a Olimpíada, mas segue um jogador importante. Estava na Rússia, em 2018, e tem disputado as Eliminatórias da Eurocopa.

Max Meyer (Crystal Palace)

Em 2016, se você perguntasse para qualquer jornalista alemão qual jogador eles mais queriam ver em campo na Olimpíada, a maioria das respostas seria Max Meyer. Ao lado de Goretzka, o meia, então aos 20 anos, era um dos jogadores do grupo olímpico com maior destaque na Bundesliga.

Curiosamente, os dois atuavam pela mesma equipe, o Schalke 04. E a temporada 2015/16 havia sido a de maior destaque de Meyer, quando disputou 32 partidas e marcou cinco gols. Havia sido, inclusive, pré-convocado para a Eurocopa daquele ano.

Chegou ao Rio de Janeiro como o maior destaque da equipe. O mais solicitado para entrevistas. No torneio, fez por merecer o status, ao ter disputado todos os seis jogos e marcado quatro gols.

A vida do jovem mudou drasticamente após a Olimpíada. Com o técnico Domenico Tedesco, deixou de ser meia para atuar como volante. Não se adaptou, criticou publicamente a direção do Schalke e foi afastado. Transferiu-se para o Crystal Palace de graça em 2018.