Três escritoras negras que você precisa ler

Novos livros de Maryse Condé, Maya Angelou e Toni Morrison ampliam debate sobre negritude, feminismo e racismo

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  • Ana Pereira

Publicado em 17 de novembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

No ano passado, o nome da  Maryse Condé apareceu  com força nas manchetes jornalísticas e listas leterárias. O motivo foi a escolha da escritora de Guadalupe, de 82 anos, para receber o The New Academy Prize, a premiação criada como alternativa à suspensão do Nobel de Literatura de 2018 - depois das acusações de assédio sexual dentro da instituição.

No vácuo da premiação internacional , a editora Rosa dos Tempos relança no Brasil o instigante romance Eu, Tituba: Bruxa Negra do Salem, que se debruça sobre o já conhecido episódio das acusações, prisões e mortes no povoado americano de Salem, no ano de 1692. Só que, na narrativa de Maryse, a  caça às bruxas ganha a perspectiva da escravizada Tituba.

Misturando história e ficção, Maryse resgata esta personagem real, acusada de ter começado os casos de possessões naquele local, mas sobre quem pouco se sabe o que aconteceu. Pois no romance, Tituba  ganha uma história que contextualiza estas e outras violências da escravidão e do racismo.

No prefácio, a escritora mineira Conceição Evaristo destaca que o livro “conclama a leitura” tanto  pela curiosidade sobre o desfecho quando pela lenta compreensão de que a bruxaria de Tituba nada mais é do que uma sabedoria construída em outros espaços culturais. “Modos diferentes de relação com a morte, com os mortos e com as forças ancestrais”, anota.

Conceição também destaca que, ao escolher o ponto de vista de uma  mulher negra, Maryse coloca seu texto no lugar de uma não tradição. Um lugar que a própria Conceição conhece bem e tem frequentado com seus romances e contos. Não por acaso, ela também assina o prefácio do livro Carta a Minha Filha, de Maya Angelou (1928- 2014), lançamento da editora Agir.

O livro testamento de Angelou, que ela pulicou na reta final da vida, em 2008, não é ficção, mas dialoga com o de Maryse na busca pelo protagonismo da própria história. No caso, a história da própria Angelou, nome essencial na luta pelos direitos civis americanos. A escritora, atriz e cantora premiada mistura prosa e poesia nos textos curtos e afetuosos que ela endereça às filhas que não teve, ou melhor, à todas as mulheres.

Tanto o livro de Maryse quanto o de Angelou atualizam o debate sobre a construção das identidades e o controle das narrativas. Temas centrais dos seis ensaios de A Origem dos Outros, livro da escritora americana Toni Morrison (1931- 2019) sobre literatura e racismo, outro lançamento deste novembro de letras negras. Os textos são resultado  de uma série de palestras que a ganhadora no Nobel de Literatura (1993)  proferiu na universidade de Harvard, em 2016, pensando o país e a questão racial  pós-Obama e já na era Trump. Um trio e tanto, caro leitores. 

ESTANTE Livro: Carta a Minha Filha  

Autora: Maya Angelou

Editora: Agir

Preço: R$24 (143 páginas)

 R$ 24,  143 páginas.

Livro: A Origem dos Outros 

Autora: Toni Morrison

Editora: Companhia das Letras

Preço:  R$ 54,90 (152 páginas) Livro: Eu, Tituba: Bruxa Negra do Salem 

Autora: Maryse  Condé

Editora: Rosa dos Tempos

Preço:  R$ 44,90 (250 páginas)