Trobogy: preocupação e tristeza no local onde caminhão invadiu posto e matou 2 pessoas

Moradores tentam voltar à rotina após acidente trágico

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  • Nilson Marinho

Publicado em 18 de julho de 2018 às 08:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nilson Marinho/CORREIO

Um dia depois de um caminhão desgovernado atropelar seis pessoas e matar duas delas em um ponto de ônibus na na Rua do Mocambo, no bairro do Trobogy, os moradores estão receosos de que uma nova tragédia possa acontecer. 

Nesta quarta-feira (18), muitos passaram a esperar pelos coletivos do outro lado da rua, em frente à uma igreja, onde também existe uma parada. Já aqueles que insistiam em esperar no mesmo local do acidente, olhavam para todos os lados preocupados com a movimentação dos carros. 

A doméstica Mônica Santos, 35 anos, estava a poucos metros do ponto onde tudo aconteceu na manhã de terça-feira (17). Ela presenciou o momento em que o motorista Maurício Santos Costa perdeu o controle da direção, subiu a calçada, só parando depois de invadir a área de um posto de combustíveis.

A cena do acidente não lhe sai da cabeça e foi difícil para ela, na manhã desta quarta-feira (18), ter que esperar pelo coletivo no mesmo lugar. O marido precisou levá-la até o ponto e permanecer ali até que o transporte chegasse. Enquanto esteve à espera do coletivo, a doméstica olhava para todos os lados para se certificar de que estava segura. 

O marido, o pintor Reginaldo da Silva, 33, conta que a esposa lhe mandou um áudio no WhatsApp assim que presenciou as vítimas sendo atropeladas. "Ela estava muito desesperada, chorando muito, contando que tinha acabado de presenciar uma tragédia. Eu, sem entender, corri pro local", conta o pintor. Ele encontrou a esposa a alguns metros dali já em estado de choque depois de ter presenciado o acidente. "Hoje tive que trazê-la ela estava muito assustada". A preocupação também é compartilhada com a operadora de caixa Andreia da Silva, 33. Ela diz que costuma esperar o ônibus no mesmo lugar em que uma das pessoa que se salvou do acidente estava nesta terça. 

Em um vídeo de câmeras de segurança da região é possível ver o momento exato em que o caminhão entra em uma curva e invade o ponto de ônibus. No lado oposto da rua onde aconteceu o atropelamento, é possível ver que o veículo passa muito próximo de um homem antes de avançar para calçada. 

"Foi uma fatalidade e a preocupação de que aconteça outra vez existe, mas precisamos do transporte, o que podemos fazer", lamenta a caixa. 

O aposentado Raimundo de Oliveira, 67, acompanhou tudo pela televisão. Ela costuma pegar ônibus todos os dias no mesmo local do acidente. 

"É sempre difícil voltar pra rotina do dia seguinte e não lembrar do que aconteceu. Foi muito triste a forma com as duas pessoas morreram", comenta. 

Na manhã desta quarta, ainda é possível ver as marcas da batida no chão. O meio-fio e a área do posto ainda permanecem destruídas. O estabelecimento continua funcionando.

De acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) um ponto de parada de ônibus, localizado nas proximidades do mercado Forte, no acesso à Avenida Aliomar Baleeiro pelo Trobogy, foi deslocado em função da necessidade de intervenções por parte da Companhia de Eletricidade da Bahia (Coelba). No entanto, moradores continuam usando a antiga parada.

Alguns moradores disseram que o ponto de ônibus onde houve o acidente é irregular. Procurada, a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) contradisse essa informação. Segundo o órgão, a parada é regular, funciona legalmente como um ponto de ônibus e não tem estrutura apenas por falta de espaço. 

O acidente  O motorista Maurício Santos Costa, que dirigia o caminhão envolvido no acidente, afirmou que entrou em desespero depois que percebeu as pessoas caídas no chão. Ele prestou depoimento na 10ª Delegacia (Pau da Lima), logo após a tragédia. "No momento que eu saí do caminhão, minha reação foi olhar para as vítimas que estavam no chão. Me deparei com aquela jovem debruçada no chão e o rapaz jogado. Ai eu me ajoelhei e comecei a orar. Perguntava: Senhor, por que está acontecendo isso? Conforta o coração dessas pessoas que estão machucadas. Foi a única coisa que lembrei naquele momento para Deus confortar cada um que estava ali naquele momento. Naquele momento eu não sabia que tenha realmente uma pessoa que tinha ido a óbito", afirmou Maurício.Após depoimento, Maurício foi liberado. Segundo o delegado Antônio Fernando, titular da 10ª Delegacia (Pau da Lima), o motorista responderá pelo acidente em liberdade. Ele foi autuado por homicídio culposo. “Ele estava trabalhando. Ninguém na situação dele sai de casa na intenção de matar alguém”, justificou o delegado. 

Além de Maurício, prestou depoimento também o ajudante dele, Adilson dos Santos.  

Roteiro Maurício foi contratado para trabalhar como motorista na Dynâmica Locação de Máquinas e Equipamentos no dia 3 de julho deste mês.  Segundo ele, na terça-feira (17), ele chegou ao posto de trabalho, na Estrada Velha do Aeroporto, por volta das 6h10.  “Vinte minutos depois, saí e peguei meu ajudante numa praça em frente ao cemitério Bosque da Paz”, contou.  Porteiro que ia trabalhar foi uma das vítimas fatais (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Então, os dois seguiam um roteiro de coleta de entulhos, que seria iniciado na Avenida Paralela. Maurício dirigia o caminhão, de placa PKT 2922, quando perdeu o controle da direção, subiu a calçada, invadiu um ponto de ônibus e só parou dentro de um posto de combustível. 

Carro Testemunhas disseram que o motorista teria perdido o controle ao desviar de um ônibus, mas o ajudante dele apresentou uma outra versão. “Ele disse que o motorista foi desviar de um carro”, disse a delegada Ana Paula Ribeiro, responsável pelos interrogatórios do motorista e o ajudante dele.  (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Essa mesma versão foi repetida por Maurício. “Quando fiz a manobra para virar à esquerda, para subir uma inclinação, foi quando meu ajudante gritou: ‘Ó véio, cuidado aí, vira, vira (sic)’. Ele disse que foi um carro. Na hora, levei um susto, não consegui desfazer a manobra e perdi o controle”, contou Maurício. 

Maurício disse que não estava em alta velocidade. “Estava na terceira marcha, 40 km/h, ia reduzir para segunda marcha para completar a curva”, respondeu Maurício à delegada.  Ele acrescentou que não faz uso de medicamento controlados, nem usa drogas e que também não ingere bebida alcoólica. 

Segundo o delegado José Fernando, as perícias vão apontar as causas do acidente. “Embora o veículo seja novo, acidentes podem acontecer. O caminhão tem tacógrafo (é um dispositivo empregado em veículos para monitorar o tempo de uso, a distância percorrida e a velocidade que desenvolveu) e a perícia do veículo apontará a velocidade e a causa do acidente”, disse o delegado. 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier