Trombetas do apocalipse não tocam canções de ninar, baby!

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Publicado em 3 de setembro de 2017 às 01:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Angeluci Figueiredo/CORREIO

Nos meus primeiros sete anos de vida três fatídicos episódicos revelaram-me: o mundo pós-placenta não era para os fracos nem para os fortes. Anyway, a existência não deveria existir. [Talvez eu antevisse a tragédia por vir e não desejasse ver essas ocorrências macabras ora em processo quando empaquei na saída do túnel durante nove horas antes de vir á luz – mas que luz, cara-pálida?]

[Pulga, hoje sexagenária, ainda habita a parte traseira de minha orelha e me cochicha provocações no backstage. Suparantenada, repetia-me sempre palavras do Eclesiastes – a propósito, repetidas ad nauseam até o exato momento em que escrevo este texto: - O destino do homem é o mesmo do animal. O mesmo destino os aguarda].[É o mantra preferido dela e meu]. A Coluna Vertebral terá todos os domingos uma ilustração de Carybé  Imagem do Instituto Carybé Aos 4 anos, em 1958, já lia e escrevia graças à velha Remington de minha irmã Luiza que eu usava à guisa de, digamos, pianola alfabética. Juntava letra com letra, vez em quando os pequenos dedos se enganchavam entre tecla e outra, e doíam – e eu cantava mamãe eu quero mamar. 

Exatamente nesse ano morreu assassinada jovem carioca de 18 anos, no Rio de Janeiro, com requintes de extrema crueldade: chamava-se Aída Cúri. Fora currada – à época a palavra estuprada ainda não havia estreado na boca da patuleia geral brasileira – e, em seguida, jogada do nono andar de prédio em Copacabana. Autores do crime: playboys drogados da high society carioca, que tiveram rostos estampados na revista O Cruzeiro.

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A segunda trombeta anunciava: a vida não é para os mofinos. Logo percebi a adequação dessa assertiva: vizinha de rua, abalada por desilusão amorosa, jogou querosene na camisola, escapou rua afora e se transformou em simulacro de fogueira de São João no dia seguinte à festa de São João.

Não vi a cena – acontecera enquanto dormia – e as mulheres da minha família talvez tivessem visto o infausto gesto no, literalmente, calor da hora, mas não quiseram me revelar maiores detalhes. Tive de apurar informações com garotos mais velhos. Deu nisso: até hoje mulher de camisola pegando fogo pula feito pipoca, imersa nas minhas sinapses cerebrais.

A terceira trombeta expunha tragédia épica, de proporções bíblicas. Vista e revista ene vezes: dezenas de páginas em O Cruzeiro exibiam, com profusão de detalhes, fotografias p & b de cadáveres em chamas e corpos derretidos se arrastando enquanto peles lhes escorriam dos  braços e pernas e faces: Em Niterói, o Gran Circus Norte Americano pegara fogo e matara cerca de 500 pessoas.

Nascera havia sete anos, e já dava de cara com evidências e sinais de que a vida é, dialeticamente, benção e danação. No popular:  puta batata quente. Entonces a pulga que vive até hoje atrás da minha orelha me palpitou  sapiente frase: - Agora não dá mais pra recuar! Respire fundo e siga em frente até onde houver frente – e faça boa viagem enquanto houver viagem, baby! [Santa pulga, baby!]