Tuzé de Abreu e o encontro com o demônio do meio-dia: 'nunca pensei que teria depressão'

Músico-médico conta como doença o levou ao colapso e de por que não deixa de ouvir o CD do amigo João Gilberto

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  • Fernanda Santana

Publicado em 12 de agosto de 2018 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Do dia 30 de abril a 1º de maio, quando foi encontrado desacordado no estacionamento do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, o músico-médico Tuzé de Abreu sabe pouco. Na verdade, não tem certeza de nada.

Das 30 horas do desaparecimento, apresenta uma única versão (contestada em tudo pela família): logo cedo, saiu para comprar três caixas de remédio tarja-preta e seguiu para o local onde trabalhou como médico legista de 1978 a 1998.

Lá, abriu as portas do carro, destacou os comprimidos e os ingeriu com a água benta guardada no carro. Ele lembra: “sentia um negócio entrando na minha cabeça. Falei comigo mesmo: isso nunca mais vai acontecer”. O negócio, não sabia, era uma grave crise depressiva. A primeira em 70 anos de vida. 

Tuzé, como se sabe, foi encontrado poucas horas depois. Ao receber a reportagem no apartamento dividido com a esposa, a artista Greice Carvalho, na Federação, retira um exemplar do livro-bíblia da Depressão da estante: O Demônio do Meio-Dia (2000), de Andrew Solomon. Dois meses depois, entende que teve um “colapso”. No último dia 25 de julho, publicou, no Facebook, o primeiro texto sobre as desconhecidas 30 horas – compartilhado pelo CORREIO.

“Antes, eu dizia 'surtar' [...] Gostei muito desse cara usar o termo ‘colapso’. Ele teve vários e usa para o desligamento da realidade. Porra, já pensou? Vários...”, pondera o músico. E fala de depressão com bastante naturalidade: “Acho que é uma coisa puramente química. É igual a diabetes [...] Eu até brinco: 'agora posso dizer que eu sou maluco de verdade, de carteira'".  (Foto: Marina Silva/CORREIO) Está afastado da música, mas cada vez mais próximo dos livros. Num dos raros momentos com o violão às mãos, conta a ideia de publicar um título capaz de reunir as memórias. Não há nenhuma data planejada. “Já tem vários capítulos. O livro é, mais ou menos, de encontros musicais e coisas engraçadas que aconteceram na minha carreira”, conta.

Até lá, alguns casos dignos de registro podem muito bem ser conferidos logo abaixo. A amizade com João Gilberto, as estranhezas e brilhantismos do amigo, a relação com a depressão e a morte, com a arte e, sobretudo, com a vida. No seu estado de mau-humor em excesso, como ele define a depressão, Tuzé divide lembranças, música e genialidade. 

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O que aconteceu no dia 30 de abril, quando você desapareceu, e foi encontrado desacordado no estacionamento no IML? Você consegue percorrer esse caminho?  O dia 30 de abril, para mim, nem existiu. Achei que fosse uma coisa, mas minha família me disse que foi outra. Para mim, dormi aqui em casa - todo mundo diz que eu estava sumido já há 30 horas. Para mim, eu estava na cama deitado, dormi cedo e veio logo tudo muito forte. Eu me lembro vagamente de estar virado, na cama, para o lado do armário. Comecei a me sentir muito mal mesmo.  Sentia um negócio entrando na minha cabeça. Eu falei comigo mesmo: “Isso nunca mais vai acontecer. Não quero que isso aconteça nunca mais”. Fui à farmácia de manhã cedo, comprei três caixas de Diazepan, segui para o estacionamento do Nina, deixei a porta do carro aberta para não dar trabalho a ninguém, e tomei os Diazepan. Não cheguei a tomar as três caixas. A próxima coisa que eu me lembro é de um cara dizendo: “Engula”. 

Para sua família, a história daquele dia é outra... Todos são unânimes em dizer que eu não estava em casa. Disseram que eu estava sumido, ou que eu tinha dormido no estacionamento do Nina. Mas eu acho que não, porque eu comprei o remédio de manhã. É pena que perderam a nota fiscal... Eu não sei o que houve nesse dia, para mim é uma incógnita. Mesmo que pareça nítido na minha cabeça. Eu estava aqui antes de ir para o Nina. Talvez, quem sabe, eu descubra. Na verdade, acho que eles tão errados, eu estava em casa. Porque eu fiz a receita aqui em casa para poder comprar o remédio controlado. O receituário não anda comigo, fica em casa, dentro de uma mala.

E o que você vinha sentindo antes desse dia?  Há dias sentia o seguinte: chegava em casa cedo, com sono e dormia. Acordava 1h30, péssimo, com uma sensação miserável. Levantava, rezava o terço, lavava os pratos, ia fazer alguma coisa e voltava. Um médico me passou um remédio, mas ficou acontecendo isso. Todo dia eu dormia cedo, acordava e sentia isso.

Como te encontraram?   A história de como fui descoberto é incrível. Foram me procurar no Nina para saber se eu tinha dado entrada [morto] lá. Quando passaram pela rampa do IML, viram o carro. Outra coisa interessante para mim, católico praticante, é que a única coisa que eu tinha no carro era água benta. Eu tomei os comprimidos com água benta. Aí pronto, me levaram para UPA, totalmente inconsciente. Os médicos falaram: “Se demorasse mais trinta minutos, tinha morrido”. Depois, passei uma semana no [Hospital] Português e depois fui para a clínica.

No texto que você publicou recentemente no Facebook, você fala que passou por um colapso. O que seria necessariamente um colapso? Ah, eu nem usava essa palavra. Eu aprendi com o Demônio do Meio-dia, o livro de Andrew Solomon (2000), e passei a usar. Antes, eu dizia “surtar”. Só que a psicóloga me corrigiu, disse que “eu me desliguei da realidade”.

Agora, gostei muito desse cara usar o termo colapso. Ele teve vários e usa para esse desligamento da realidade. Porra, já pensou? Vários... Olhe, você sente uma coisa aterrorizante que nem é real.

Na verdade, é material porque é bioquímico, mas você nem sabe o que é. Só sabe é que parece não ter saída. É aterrorizante, não é de filme. Não sei se é por dentro. Andrew Solomon explica assim mesmo: é como se não houvesse saída e você estivesse encurralado.

Porra, é um negócio terrível. E não é nem medo, é muito pior do que medo. Também não é pavor, não. A psicóloga veio falar para mim, depois: “Você não reparou que o suicídio é egoísta?”.  Na hora, eu até cai nesse esparro. Mas não é egoísta não, não acho. Eu não estou ganhando nada, por que é egoísta? Que vantagem eu levo disso? Se eu tivesse naquela situação de novo, eu faria, sem dúvida. Agora, eu acho que nunca mais vou chegar naquela situação porque eu estou preparado. Se começar, eventualmente, se eu sentir o primeiro sinal, eu já procuro ajuda. Eu já vinha sentido coisas assim, mais fracas, há 20 dias. No dia do colapso, veio muito mais forte do que todos que já tive juntos.

Você foi logo para o estacionamento do seu antigo trabalho. Muita gente utiliza o trabalho como uma válvula de escape para a depressão. Com você, de alguma maneira, isso aconteceu? Não, não. No meu caso não teve nada a ver. Eu fui parar lá [no Nina Rodrigues] para não dar trabalho. Porque eu trabalhei lá 20 anos e sei que o rabecão tem que sair de lá, ir atrás do morto, para buscar. Eu pensei nisso. Até deixei a porta do carro aberta para não dar trabalho a ninguém. Eu contei isso para o Diretor da Escola de Música e ele morreu de rir. Eu fui, sim, um pouco viciado em trabalho. Também porque eu trabalhava muito e meu tempo era muito dividido. Mas nunca como uma coisa grave.  Quando aconteceu a descoberta da depressão? Em outros momentos, vimos você citá-la – mas não da forma que fez dessa vez. A descoberta, na verdade, aconteceu quando já era mais velho? Bom, na verdade, eu nunca pensei que poderia ter depressão. Quer dizer, eu pensava que poderia ter depressão, mas achei que era uma depressão como, em algum momento, qualquer pessoa tem. Não imaginava que era uma depressão grave. Pensei que era uma depressão de cansaço. Até minha esposa falava: “É, você já estudou muito, você está cansado”. Estava mesmo cansado, me sentindo com saco cheio. Eu poderia era estar tocando até os 75 se eu tivesse percebido a gravidade do problema há dois anos. Se estivesse me tratando. Seria muito melhor.

Quando eu fiquei internado, durante um mês, eu fiquei muito mal. A primeira coisa que eu perguntei foi: “Quando vou poder sair daqui?”. E eles me responderam: “Você não vai poder sair daqui tão cedo, porque você teve uma depressão grave". Basta ter tentativa de suicídio para ser considerada depressão grave. Foi aí que eu me toquei e a psicóloga e a psiquiatra começaram a me orientar. Eu fui estudando e hoje eu sei o que eu tenho.

Agora, estou me sentindo até bastante bem. Restam algumas coisas: não tenho muita vontade de sair, muita gente me chama e eu não vou. Adorava ir para concerto, show, tudo, agora eu vou para um ou dois.

Então ser médico não fez nenhuma diferença nesse momento? Burro! Eu fui burro (risos).

Você fala que quebrou, em 2017, o “perônio esquerdo num acidente automobilístico”, ainda no texto que compartilhamos. O que é o perônio? Como foi esse acidente e esse momento, suponho, de reclusão? Impactou de alguma forma na descoberta da depressão? O perônio é esse ossinho daqui, oh [apontou para o tornozelo]. O maléolo externo é o perônio. O maléolo interno é a tíbia. O acidente foi terrível. O cara vindo em alta velocidade, eu saindo do estacionamento do Yacht. O cara ultrapassou vários carros e parou no meio do meu. Eu só não morri por um palmo. Se ele batesse um palmo atrás eu estaria morto. Isso umas 10h, eu indo tocar na Igreja da Vitória. Nesse momento, eu até fiquei um pouco mais recluso, mas não foi muito não.

Na verdade, eu fiquei parado, contratei um amigo para me levar às fisioterapias. Ficava andando de bengala. Não mexeu muito com minha cabeça não. Nem me pareceu que poderia ter depressão.

Existiam incômodos outros. Mas, nessa época, a vontade de escrever cresceu muito.

Uma das coisas mais prejudicadas em mim foi a música, eu sempre estudei música. Eu quase não tenho vontade de tocar flauta, nem nada. Ontem [dia 8 de agosto] toquei porque fui dar uma entrevista sobre Caymmi. Então, estou transferindo isso tudo para escrever.

Uma professora de português tá me ajudando nisso. Eu já tenho muita coisa. O livro é, mais ou menos, de encontros musicais e coisas engraçadas que aconteceram na minha carreira. Já tem vários capítulos.

Há um ano ou mais, estou, sem saber porque, me desinteressando mais pela flauta. Cada vez mais afastado. Isso me enervava, eu me perguntava: “por que eu tenho isso? não tenho vontade de estudar, eu que sou flautista da Sinfônica?”. Foi uma das coisas que, antes de acontecer o colapso, já era sinal da depressão. Até hoje eu não me reaproximei totalmente da flauta.

E a que você atribui essa depressão, Tuzé? Algo totalmente físico, espiritual? Não atribuo a nada. Acho que é uma coisa puramente química. É igual a diabetes. O diabético, por exemplo, tem um desregulamento no nível de insulina. O deprimido, como eu, tem um problema na serotonina. Ou fabrica de menos, ou absorve de menos. Tanto que você toma remédio para absorver mais. Eu estou convencido disso. Claro que isso implica outras coisas. É como na música: tudo liga tudo. Claro que isso mexe com o psicológico. Eu até brinco e já disse para várias pessoas: “agora eu posso dizer que eu sou maluco de verdade, de carteira”. Eu já fiquei internado em hospital para saúde mental. Agora, eu já sou maluco (risos). Mas eu tenho certeza que é da serotonina. Agora, como eu tenho isso há muito tempo e não sabia, isso deve ter me prejudicado muito ao longo de décadas. Devo ter deixado de fazer coisas legais por causa disso. Quem sabe a autossabotagem não vem disso?

Mas o que mudou em você com a descoberta da depressão? Eu sempre tive uma tendência antissocial. Meu psicanalista insiste: “rapaz, você tem que sair, só porque você está tocando você não quer ver seus amigos tocarem”. Tenho acompanhado muita política também, porque não tenho feito quase nada. Só tenho escrito pouco porque ainda não me sinto completamente seguro para fazer isso. Nem sei se vou voltar a estudar flauta mais.

Uma coisa que eu tinha vontade de fazer e não fazia era ver televisão, filme. Agora, tem vezes que vejo dois, três filmes seguidos. Também, o meu tempo de ler está maior. Antes, eu ficava muito tempo só para estudar. Estou me acostumando a ser um dos velhos do Shopping Barra (risos).

Eu até assisti uma série [da Netflix], Merlí [o enredo da série catalã trata de um professor de filosofia no ensino médio, que traz os fundamentos da disciplina para a vida dos alunos adolescentes]. Não foi nem por causa dela, necessariamente, ou pelos filósofos. Mas porque eu adoro a língua. Eu aprendi um pouco de catalão vendo essa série. Tu podes, tu falas. O catalão é igual ao português nisso. Aprendi várias coisas.

E a relação com a família, pessoas mais próximas? De alguma maneira isso foi prejudicado? Pois é, elas nem perceberam muito. Eu enrolava um pouco, também. Cheguei a conversar com dois flautistas da Ufba. Eles ficaram calados, porque não tinham o que dizer. Eu também não sabia porque sentia tudo aquilo. Se soubesse, já tinha me tratado. Se eu soubesse, eu poderia nem ter me aposentado. Porque, quando fui pedir a aposentaria, não poderia acumular essa aposentadoria com a de médico – que eu já tinha. Era inconstitucional. Na verdade, essa foi uma luta longa. Mas, em resumo: perdi 50% do que eu ganhava. Mas, acho que dá, devagarzinho.

“A grosso modo”, é você quem diz, “uma depressão é um gigantesco mau humor”. As definições, obviamente, variam de paciente a paciente; psicólogo a psicólogo. Mas, o que, necessariamente, você classificaria como esse estado de mau-humor? Como é sua depressão? Cada um, sim, tem uma depressão. A minha é muito ativa, digamos assim. Porque eu sempre insisti. Eu dei aula de flauta mesmo quando eu estava odiando fazer aquilo, com um ódio da flauta. Tudo eu fazia, fazia questão de fazer. Talvez tenha sido até um coisa ruim.

Mas, no meu quarto [quando ficou internado], por exemplo, ficava um senhor com uma depressão completamente diferente. Também grave. Mas era manso, falava pouco, não tinha impulso de nada, era totalmente alheio. Ele só ficou mais ativo porque eu conversava com ele. Ele até começou a ler por causa de mim. A minha não daria isso.

Cada corpo, cada pessoa, reage de uma forma diferente. Eu uso esse “um gigantesco mau humor” - que eu inventei e é mesmo meio poético - porque a serotonina tem como uma das funções estabilizar o humor. Se o mecanismo dela está falho, então, seu humor vai piorando. Então, eu classifiquei a depressão de um mau humor gigantesco, monstruoso. O humor não está estabilizando e vai piorando, piorando.

Muitas pessoas tendem a desconhecer a depressão. O que você considera o motivo de tamanho desconhecimento sobre a doença? Bom, por isso que eu faço questão de falar sobre isso. É legal divulgar essas coisas, as pessoas precisam conhecer. O desconhecimento acontece porque a pessoa acha que está triste. Porque, sei lá, perdeu o namorado ou está desempregado. Isso não é avaliado. Ontem, por exemplo, veio um cara aqui - esse já reconhece que tem depressão. Ainda não vieram pessoas próximas falar comigo sobre isso, sobre seus problemas, mas é possível que aconteça. 

No seu círculo de amizades, velhas amizades e novas amizades, a depressão era uma questão observada por você? Debatida, pelo menos? Muitos músicos já relataram a depressão. Até aconteceu o caso do suicídio de Torquato Neto, não é?  Eu não me lembro muito bem. O que eu sei é que no Rio, talvez, se falasse mais sobre isso, quando eu morava lá. João Gilberto, quando teve problema mental, eu nem conhecia ele. Foi antes de ser famoso que ele ficou no Hospital das Clínicas. Eu sei que eu ouvia... Quer dizer, lembro sim, claro, de um caso:.o de Ederaldo Gentil, que passou os últimos anos da vida dele deprimido morando na casa da irmã. Ele não fazia nada, era uma depressão profunda, mas diferente da minha. Ele viveu não sei quantos anos, até a morte, dessa forma. A depressão dele dificilmente conduz ao suicídio.

Mas entre nós, amigos, pouco se falava nisso. O caso de Torquato... eu pouco conhecia ele. Na verdade, encontrei com ele uma vez, dentro do mar do Porto da Barra, muito rapidamente. É lindo naquela música de Caetano, quando ele diz: “A sina de menino infeliz”. Eu também fui um pouco menino infeliz. Não fui tanto porque meu avô tinha uma roça na Federação maravilhosa, a gente viajava muito para Mar Grande, Salinas. Mas, no fundo, sempre me senti diferente dos meus irmãos, meus amigos.

Diferente como? Chegava a existir uma comparação que você mesmo criava? Tem uma coisa engraçada sobre isso. Eu tenho um irmão que é pintor. Ele pintou um quadro da gente na casa de minha mãe. Nele, tem um irmão que está alegre, outro que está normal, mas eu estou triste, você nota. E ele captou isso. Minha infância foi legal, eu era bom aluno por outro lado – embora não fosse brilhante. Mas era bom, passei no vestibular de primeira. Minha mãe colocou todos nós no inglês e no francês e eu fui o único a terminar. Aconteceu até uma coisa interessante, em 1985, eu acho, no Canadá, em Québec. A gente estava no hotel, o telefone tocou e era um jornalista pedindo para fazer uma entrevista comigo. Eu fiz a entrevista toda em francês; eu não sabia que eu sabia. Greice era uma das cantoras do grupo e ficou: “mas você fala francês?”. Bom, eu também não sabia (risos). Saiu do inconsciente, como é que eu sabia isso, rapaz?

Isso te acompanhou no futuro? Muitas vezes, inúmeras vezes. Não posso nem te dizer porque são tantas (risos). Já tinha algo a ver com minha baixa autoestima, essas coisas. Eu tenho isso há muito tempo, deveria estar me tratando e fazer análise desde sempre. Mas eu também estou me reeducando para ir para frente, o que foi, já foi, o que não foi, paciência.

Aproveitando que você falou de João Gilberto, que é um amigo próximo seu, com quem você chegou a trabalhar. Em algum momento você percebia algum comportamento que poderia ser depressivo ou, simplesmente, diferente do usual? Sim, eu percebia algumas. Mas já sabia e sei. Nada que incomodasse, mas percebi várias, inúmeras vezes. Por exemplo, quando a mulher chegava lá na casa dele, ele olhava logo para ver se tinha algum gravador na bolsa. Ele tinha um horror de ser gravado. Coisas desse tipo, de ter muita paranoia. Não gosta de muita gente. Não gosta de gente na casa dele. Ele é muito assim, ele é estranho, mas comigo ele se deu.

Depois da reinauguração do Teatro Castro Alves [2008], ele cantou junto com Gal e Bethânia, ele mandou para receber o cachê um cara estranho. Um cara do governo que me conhecia me ligou na hora: “Tuzé, tem um cara aqui para receber o dinheiro de João, mas o cara é muito estranho”. Os caras que trabalham com João Gilberto são estranhos mesmo. Ele me perguntou: “Você toparia - eu dou o dinheiro até em espécie - ir para o Rio levar esse dinheiro?”. Eu topei e fui para lá. Ele morava num apart hotel. Quando ligaram da portaria, ele respondeu: “Poxa, Tuza, você tá aqui, venha, venha agora, suba aqui”. Eu subi e quando ele abriu a porta eu disse que estava lá por causa do cachê. Aí ele: “O que? Usaram meu amigo para fazer isso? Não!”. E bateu a porta na minha cara. Aí eu: porra, me fudi. Aí desci o elevador, o porteiro já estava me esperando, dizendo que João queria falar comigo. Ele me disse para eu pegar a chave de um apartamento que era dele também, que era pra eu ficar lá. Eu pedi a chave, fui e fiquei lá. Quando fiquei, batiam na minha porta dizendo que João estava perguntando o que eu queria comer. (risos)

Eu pensei em ligar para o escritório, em Copacabana. Fui lá no escritório de Carmela dizendo que era o cachê de João, que eu iria confiar a ela. Paguei a ela e pronto. Quando voltei, tinha um amistoso Brasil e Bolívia. Aí João me ligou: “Tuza, você sabe que vai ter um jogo Brasil e Bolívia?”. Aí disse que sim, falei para a gente assistir junto. E ele: “Não, comigo não quero nem minha mãe”. Então, fiquei no meu apartamento assistindo o jogo.  Aí volta e meia ele telefonava: “Tuza, você viu? Esse ponta direita não pode ser um ponta direita na Seleção Brasileira? Como é que bota o rapaz? Ele não sabe nada”. No outro dia, disse que ia embora. Ele me perguntou como eu ia embora. Respondi que não sabia, isso tudo por telefone. Aí ele falou: “Espere aí que eu vou chamar fulano, ele vai estar num Opala”. Depois eu soube que João que tinha dado o carro. Mas ele falou: “A portaria vai ligar. Mas não dê dinheiro nenhum a ele. Não pode. Não dê dinheiro nenhum a ele”. Aí o cara chegou, desci e fui embora. Depois a gente se reencontrou na Bahia de verdade (risos).

Mas você acha que isso é/era depressão? Ah, João Gilberto é um gênio. Eu, agora, estou lendo o livro de Andrew Solomon. Em cada capítulo ele fala sobre comportamentos. O comportamento vertical, para ele, é quando tudo ocorre como a família quer. O horizontal é o comportamento que as pessoas esperam. Existem também os excepcionais: os gênios, por exemplo. João já esteve internado, eu sei, e tem umas atitudes, mas o resultado disso é maravilhoso. É o que Caetano sempre fala.

Vou lhe contar um caso legal e você vai ver. Sabe aquele disco de João Voz e Violão? Num verão, estávamos os amigos todos juntos que se encontram  -agora está menos - na casa de Caetano, ele chegou: "João Gilberto me chamou para produzir um disco para ele, eu sei que a gente vai brigar, que ele vai ficar zangado comigo, que não vai terminar bem, mas ele me chamou, o que é que vocês acham?". Aí, eu disse logo: "acho que você deve produzir". E ele respondeu, de cara: "eu sabia que você ia dizer isso" (risos).

Dito e certo, João brigou com Caetano, não obedeceu nenhuma coisa (ênfase) que Caetano disse. Caetano disse: "no disco não tem nenhuma sugestão que eu dei". O nome de produtor estava lá sem nenhuma sugestão. João só queria mesmo, sei lá. (risos)

Por exemplo, no Japão, eu que afinava o violão dele. Mas eu já sabia que ele ia dizer que não estava bom. Eu já sabia. Ele pegava o violão: “não tá bom não, você não sabe não”. Aí eu dizia: “me dê para eu afinar de novo”. E ele: “não não, eu vou assim mesmo” (risos). E ia para o palco. “Você não sabe não. Vou tocar assim mesmo” (risos).

E há quanto tempo vocês não se encontram? Ah, tem muito tempo. Mais de 10 anos. A última vez foi no show dele aqui, em 2008. Uma vez eu consegui encontrar ele no telefone, o que é dificílimo, porque ele não gosta de atender telefone. Mas, um dia, poucos anos atrás, eu o encontrei e nós conversamos horas por telefone. Tem uns cinco anos, talvez. Mas eu tenho notícia dele, sim. Principalmente depois dessa briga judicial. Você viu, na Folha de S. Paulo? Duas páginas inteiras, de Cláudio Leal [jornalista baiano] e um desenho lindo. 

O que você acha dessa briga judicial envolvendo João? Olha, eu acho que, no fundo, quem causa tudo é ele. Porque ele é complicado. Ele é muito complicado. Caetano fala uma coisa legal: “Se João tivesse o mínimo de juízo, ele estaria muito rico, vivendo bem,  tranquilo, sem precisar de nada”. Mas ele complica tudo, tudo é complicado.

Por exemplo, esse negócio do violão. Até com a gravata. Ele chegava para Edinha, que escolhia a roupa dele: “Edinha, por que essa?”. Edinha falava: “Então deixa eu trocar”. E ele: “Ah, vou com essa mesmo”. (risos) Ele diz uma coisa e volta atrás, é muito complicado. Mas quando ele está sem trabalhar, é a pessoa mais agradável do mundo, mais engraçada, mais inteligente.

É uma delícia ficar com ele quando ele está sem a pressão do trabalho. O interessante é o seguinte: ele conseguiu viver num mundo onde não há segunda, terça, nem quarta, nem uma, duas ou três horas; com tudo fechado. A hora que ele quiser comer, ele come. Estuda oito, nove horas. Ele já tem os canais dele, sejam qualquer dia ou horário: “Fulano, traga uma comida aí pra mim. O bode tá bom?”.

Ele não sabe se é sexta-feira santa, meio-dia, ou se é sete de setembro, meia-noite. Quando tem viagem e show, ele precisa se adaptar ao horário do avião, teatro. Para ele, é a hecatombe universal. Ele adia o máximo. Num dos voos para o Japão, conseguiram um jatinho para levar a gente do Rio para São Paulo, porque ele já havia perdido todos os voos. Foi a única vez que viajei num jatinho particular (risos). A gente já tinha perdido todos os voos, se não fóssemos, íamos perder mais esse. Ele tem muito um negócio de: “Eu não tô preparado”. Muito mesmo. 

Isso é autossabotagem? De alguma maneira, sim. Mas de outra, ele conseguiu, como diz Caetano, fazer tudo isso e construir uma obra fenomenal. É quase um milagre. Seja como for, ele conseguiu. Há dias, desde que eu sai da clínica, o CD dele toca no meu carro. Eu ouço direto, todo dia. Hoje mesmo, eu já ouvi. Eu nem tiro do toca CD do carro.

Foi outra coisa que mudou em você também, depois da depressão? Ouvir mais João Gilberto? Sim, voltar a ouvir João Gilberto. Mas eu sempre voltei a ouvir João Gilberto, mas estou ouvindo longamente. 

Você é um cara religioso e já falou disso algumas vezes. O que é a religião, para você, nesse momento? Agora, eu até diminui um pouco minhas práticas. Eu rezava muito, para várias pessoas. Era um terço para cada pessoa. Depois do acidente eu estou fazendo o mínimo. Depois que uma filha morreu, em 1987, isso cresceu. Já falei para os padres e eles ficam calados, não falam nada. Só rezo um pouco de manhã, de noite e pronto. E vou às missas aos domingos. Lá [Capela Nossa senhora da Vitória, igreja que frequenta] eu tenho até prazer em tocar flauta. O cara que toca violão lá é muito legal. Lá eu gosto de fazer isso, ele tem um jeito bom de tocar violão, canta suave.

Mas o que a religião é para mim? Deixa eu te dizer: independente de candomblé, catolicismo ou qualquer coisa, eu acredito piamente em Deus. Acredito mais em Deus do que em mim. Meu irmão pintor define o que Deus é para mim: Deus é consciência da energia. Lindo esse nome, né? E ele nem é religioso. Porque tudo é energia. E a consciência disso é Deus. Isso, para mim, é certo. Mas, a religião cumpre, para mim, o papel que sempre cumpriu. Eu me afastei um pouco da religião por uma questão logística: é o negócio dos velhinhos do shopping. Eu não quero me obrigar a fazer as coisas, tantas coisas. Eu rezava, acendia vela, limpava planta. Era muita coisa. Cortei para não ficar nessa pressão. Percebi isso depois que saí da clínica.

Uma vez, enquanto eu estava me preparando para entrar no palco, com Gilberto Gil, chegou um cara dizendo: “Rapidamente, diga uma coisa aqui rápido". Eu fiz: “Temos que fazer o melhor para sair dessa para melhor”. Aí todo mundo ficou assim [surpreso]. Saiu na hora: “Temos que fazer o melhor para sair dessa para melhor”. Gil também ficou assim, piscou o olho. Não foi planejado não. Eu penso isso mesmo.

Outra coisa que eu tenho certeza absoluta é que nossa vida não começou aqui, o espermatozoide e o óvulo não fizeram a gente e nem terminou aqui. Smetak também pensava assim e me influenciou nesse sentido. Outra certeza é: a depender da forma como você caminha nessa passagem, você vai transcender bem ou mal.

Ah e recomendo um filme, já que estamos falando de religião. Você tem Netflix?

Tenho. Olha PK. Só tem uma coisa chata, logo no início tem um romance, um interlúdio passado em Bruge, que é chato para caramba. Mas vença isso que você verá que filme! Primeiro, os números musicais são maravilhosos. Depois, o argumento do filme: é um cara de outro planeta... rapaz (risos)... só você vendo. É maravilhoso. Um espetáculo.

É inevitável não lembrar sempre que você escolheu duas carreiras aparentemente muito diferentes. Como isso aconteceu? Ou não é nada disso? A medicina e a música são semelhantes para você?  Eu também nem sei te responder como isso começou. Na verdade, sei, pragmaticamente. Na Medicina, meu estágio opcional foi, por coincidência, em Medicina Legal. Nem sabia que eu seria médico legista. Eu consegui porque a paraninfa da turma era diretora da turma.

Passei o verão aqui, fazendo o estágio, me formei em Medicina e voltei para o Rio de Janeiro. Lá, eu estava indo muito bem. Eu estudava muito saxofone e flauta. Estudava umas seis horas por dia e tocava de noite. A última temporada no Rio foi com Caras e Bocas, de Gal Costa. Minha primeira mulher começou a não gostar, a gente já tinha um filho pequeno e ela decidiu voltar para Salvador. Eu errei aí brabo. Eu sempre me recrimino por isso, porque eu já estava sendo chamado para trabalho fora dos baianos. Com os baianos - Gal, Caetano, Betânia e Gil, estávamos juntos.

Eu seria o primeiro branco da Banda Black Rio e ia participar do A Cor do Som. Mas eu entrei numa depressão, de outro tipo, porque eu queria ficar com meu filho. Aí eu voltei para a Bahia e não adiantou em nada, porque meu casamento já estava mal. Eu tinha uma vizinha que era casada com um médico, meu colega, que estava no último ano de medicina e ia prestar o concurso para o Nina. Ela me disse: “Tuzé, venha estudar comigo”. Foi quando eu comecei a estudar com ela.

Flauta eu já estava estudando muito. Aí tiveram dois concursos, o da Sinfônica da Ufba e do Nina e eu passei nos dois. Encontrei Greice, nessa época, que foi a salvação da vida, maravilhoso, em novembro de 1980. Só para Europa, já fui mais de 16 vezes; para o Japão, com João Gilberto, eu fui duas vezes. Então, eu fui ficando aqui.

Música e Medicina não são tão diferentes. Inclusive, eu não sei exatamente onde, mas Smetak fala: "música, matemática e medicina é um triângulo". E uma coisa muito antiga, uma série dessas interplanetárias que nem fez sucesso. Um cara era médico-músico e curava as pessoas com um diapasão bem grandão, bonitão. Encostava na pessoa e a pessoa ficava boa. Acho que música e medicina são vibrações. Tem uma carreira que é a Musicoterapia. Música é terapia, leva a gente para muitos lugares. Muitos, muitos lugares. Tenho várias músicas favoritas para me levar para vários lugares. No Brasil, tem Desafinado (João Gilberto), tem um chorinho chamado Ingênuo, é lindo (assobia a melodia). Uma das maiores emoções da minha vida foi quando eu toquei isso com um regional. Eu estudava a música, sabia. Mas quando eu toquei, fiquei tão arrepiado. Até agora eu sinto aquela coisa. Essa música é linda. [...] Fazendo alguns solos na Orquestra eu já passei por algumas emoções parecidas. 

O que te faz arrepiar?   Várias coisas. Não sou difícil de arrepiar não. 

Sua música, em geral, e esses momentos de emoção dialogam com os momentos de mais agravamento do seu “estado de mal humor”, a depressão? Por exemplo, na música Orientação, você fala que há na “alma da gente, um lugar, um porto bom, é preciso seguir o farol”. Existe esse diálogo? Bom, na verdade, não. Essa música, por exemplo, foi feita ali [aponta para o terraço do apartamento]. Eu estava fazendo uma música péssima, longa, longa, longa. No intervalo, eu comecei a brincar e fiz essa rapidamente. A outra longa eu deixei para lá (risos). E, hoje, eu tenho tocado muito pouco. Ontem eu toquei uma música muito antiga porque lembrei de Caymmi: na música porque tinha algo de Maracangalha; na letra porque traz algo de “O que é que a baiana tem?”. Mas é muito pouco.

No IML, você lidava com a morte diretamente. O que a morte significava/significa pra você? Em outros momentos, você falou do corpo de um morto como um "mamão" (risos)?  Pois é, eu já falei várias vezes essa história. Pois é. A morte é ir para outro lugar, não sei. Agora, o corpo da gente é igual a um mamão, igual a um cachorro morto na rua. Greice mesmo não gosta nem de ver. Mas, Greice, isso aí parece um mamão podre: caiu, ficou. Uma vez eu fui no Nina, ainda estava fazendo estágio, e um cara, sabendo que eu era religioso, me falou: tá vendo o corpo aí? Cadê, você tá dizendo que tem alma, cadê a alma? Eu fiz assim: “Rapaz, isso daí é o piano, o pianista já se picou. Ele deixou o piano e já foi”. Ele ficou me encarando”. Os únicos momentos de mal-estar que tive no IML foi quando chegaram duas pessoas mortas conhecidas minhas. Mas eu apenas pedi para outro legista fazer. 

Você ganhou o Prêmio Caymmi com Novas Aventuras no País do som, em 2015. Pensa em retomar?  Eu estou trabalhando em um disco, que está quase no fim. Também quero voltar a estudar um pequeno show, que muita chama de Meteorango, porque a última música é Meteorango. Mas desde o prêmio Caymmi, eu comecei a me sabotar. Os meninos até ficaram de grilo comigo, por causa disso. Era pra eu continuar, não é? Mas comecei a me sabotar: baixa autoestima, não queria dizer que aquilo era legal, não aceitando uma coisa boa. O meu analista sempre fala isso: “você não aceita, aceite coisa boa sua”. Foi uma falha, eu tinha que ter mantido esse show.

Mas você tem vontade de retomar? Tenho, mas sei que é uma produção complicada. E nisso já tem um pouco de autossabotagem. Tem tanta coisa boa daquele show.

O que te ajuda nos momentos mais difíceis? Como é seu tratamento? Atualmente, o que me faz sentir bem é ficar em casa lendo ou vendo um filme. Nadando também. Chega um ponto que fica cansativo, mas é bom. Comecei por causa de Greice [Greice Carvalho, esposa], ela nadava como método. Depois, há uns 15 anos, eu comecei meu próprio método. Eu nado de um modo que ninguém nada: todo mundo diz que é errado, que eu não uso perna, todo mundo tenta me ensinar.

Uma amiga minha, Babi [campeã brasileira de Body Boarding] diz que isso não é nadar, que é ser uma água viva. Eu respondo: “pois eu estou água-vivendo”, meu estilo é esse. Greice parou e eu continuei. Hoje, enquanto nado, eu fico pensando coisa para escrever.

Eu sempre estou com angústia ou com ansiedade. Mas ultimamente está cada vez melhor. Ontem [quarta-feira], me deitei na beira da água, e não senti nada: “de um drible só, eu tirei os dois zagueiros: angústia e ansiedade; e fiquei de cara para o gol, sol, que nem um jacaré”. Comecei esse texto assim, me senti identificado com todos os seres.

O mar sempre foi importante na minha vida, muito. Uma coisa engraçada no mar, é que eu não tenho medo. Outro dia mesmo eu peguei uma correnteza brutal e eu disse: “eu vou sair no braço”. Vi que tinha uns três ou quatro barquinhos de pescador. Pensei: bom, se eu não conseguir eu grito socorro. E eu cheguei, consegui chegar, foi difícil. A correnteza me puxava para as pedras e para fora da Baía, numa diagonal. Eu tendo que nadar no sentido oposto e para dentro da Baía. Ali nas pedras junto do Yacht Clube da Bahia. Se eu puder diariamente, eu vou diariamente. (Foto: Marina Silva/CORREIO) E estou me exercitando para não ficar me cobrando. Por exemplo, se alguém fica me perguntando: “poxa, mas você não vai para o concerto?”; eu respondo: “não, não vou”. O exercício é dizer que não quero ir. Uma coisa que conversei com meu analista, e que ele achou engraçado, foi: na classe baixa, você tem nas pracinhas, uns senhores jogando dominó; nas classes média e alta, tem sempre os senhores nos cafés do shopping. Eu sempre tive um pouco de inveja. Pois agora estou querendo um pouco ser isso. (risos). Além do mais, eu não sou muito bom em dominó.

Caetano falou sobre você, no curta da TV Cultura: “Quando o Brasil souber olhar para si mesmo melhor, verá adequadamente o que é que Tuzé oferece.” O que esse Tuzé, que passou por esse momento de descoberta tão marcante, oferece? E o que o Brasil oferece a Tuzé?    Você sabe que eu não sabia disso? Sabe por que? Porra, até deu vontade de chorar [voz emocionada]. Quando Dani [Daniel Augusto, diretor no Canal Curta!] fez a entrevista com Caetano, eu não fiquei na hora. Ele foi com Caetano para um lugar e eu fiquei na sala. Quando Dani acabou que eu saí. Porra, menina. Porra, eu não sabia disso, se eu soubesse disso um pouco antes. Se bem que, por outro lado, estou contente, é maravilhoso, mas tem uma leve malandragem no bom sentido da palavra. Aqui, na Bahia, existia um concerto de músicos não muito bons no terreiro. Teve um famoso violinista alemão que tocou aqui no Iceia. Aí, quando acabou o concerto, o professor disse: “vou levar para você ver o concerto do terreiro”. O alemão deve ter ficado apavorado. Aí o alemão: “eu nunca vi nada igual”. Isso aí é um pouco amplo, se você for ver assim. Eu posso dizer: "No dia que o Brasil souber olhar para si mesmo, verá adequadamente o que Fernanda oferece”; “verá adequadamente o que é o porteiro do prédio vale”. Ele tem uma frase linda, Caetano: "o Brasil ainda não merece a Bossa Nova". Tem algo parecido, talvez. O Brasil ainda não chegou ao nível da Bossa Nova. Porra... tô sabendo agora. 

Veja onde buscar ajuda:

FSBA O Serviço Escola de Psicologia Stella de Faro, da Faculdade Social da Bahia, oferece atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e aos sábados das 8h às 12h. O agendamento é feito por meio de ligação. Inicialmente, o paciente fica numa lista de espera e é chamado para três acolhimentos gratuitos em grupo. Depois, as consultas tornam-se individuais e semanais. O preço varia de R$ 10 a R$ 150 e é acertado diretamente no serviço.  Telefone: (71) 4009-2937 Endereço: Rua Senta Púa, nº 191 - Ondina - Atrás do Colégio ISBA, ao Lado do Prédio de Fisioterapia da Faculdade Social da Bahia. 

Faculdade Ruy Barbosa  O Núcleo Integrado de Saúde (NIS) abre novas vagas para atendimento psicológico gratuito a partir desta segunda-feira (13). É necessário se inscrever por telefone e esperar o retorno dos profissionais para agendamento de triagem. O serviço é presta de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h, e aos sábados, das 08h às 12h.  Telefone: (71) 3205-1745 Endereço: Rua Theodomiro Baptista, n°422 – Rio Vermelho

Unime de Lauro de Freitas A instituição oferece atendimento psicoterápico para crianças, adolescentes e adultos. O serviço gratuito é realizado de segunda a quinta, das 08h às 12h e das 14h às 18h. Os atendimentos podem ser agendados por telefone ou presencialmente.

Telefone:3378-8310 Endereço: Avenida Luís Tarquínio Pontes, 600, Centro - Lauro de Freitas (BA)

Universidade Federal da Bahia  Na Ufba, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, também é possível conseguiu ajuda psicológica. É necessário ligar para agendar consulta.  Telefone: 3235-4589 Endereço: Campus São Lázaro, Rua Aristides Novis, 197 - Estrada de São Lázaro. 

Bahiana de Medicina  A Faculdade Bahiana de Medicina disponibiliza atendimento psicológico de variadas linhas por baixo custo. A triagem custa R$ 35 e cada sessão R$ 40. As vagas para atendimento gratuito estão fechadas. A marcação ocorre por telefone.  Telefone: 3276-8259 Endereço: Av. Dom João VI n° 275 – Brotas. Tel.: 3276-8259 Cadastro por telefone em janeiro e em junho. Não é cobrada taxa.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier e da editora Mariana Rios