Ufba em 4 anos: reitor João Carlos Salles faz balanço de gestão e planeja futuro

Comunidade acadêmica é formada por 50 mil pessoas

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 4 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO
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Se administrar uma casa com pouca grana já é uma tarefa desafiadora, imagine gerir uma universidade com uma comunidade acadêmica de 50 mil pessoas e com um corte de orçamento de R$ 10 milhões em dois anos? Se a falta de dinheiro foi motivo de dor de cabeça, imagina manter tudo em ordem nesse espaço, incluindo a segurança?

Essa é a missão, pelos próximos quatro anos, do reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles, e do vice-reitor, Paulo Miguez. As prioridades  serão segurança, permanência dos alunos, preservação do conceito de universidade pública e pesquisa. Reitor João Carlos Salles recebeu jornalistas para um café da manhã nesta quarta-feira (3) (Foto: Marina Silva/CORREIO) A ‘cidade’ sob a responsabilidade deles dois tem mais de 300 mil metros quadrados de área construída, 164 prédios em funcionamento e uma ‘população’ de estudantes, professores, técnicos, funcionários terceirizados. Na prática, é mais gente do que a população de mais de 300 dos 417 municípios baianos, segundo dados do IBGE.

Parece uma frase clichê, mas a Ufba é um universo de histórias, possibilidades e, como não poderia deixar de ser, de problemas a serem encarados e resolvidos.

Na manhã desta quarta-feira (3), o reitor João Carlos Salles recebeu jornalistas para um café da manhã em seu gabinete, instalado na Reitoria da Ufba, no Canela. Junto com o  vice-reitor,  o professor Paulo Miguez, Salles apresentou os dados da primeira gestão e falou sobre as expectativas e olhares para os próximos quatro anos.

O encontro também teve a presença de Suani Tavares Rubim Pinho, chefe de gabinete do reitor; o pró-reitor de Planejamento e Orçamento, Eduardo Luiz Andrade Mota; e Mariluce Moura, responsável pelo Edgar Digital, semanário online que cuida da divulgação científica na universidade. Membros da comunicação da Ufba também participaram do bate-papo.

Durante a conversa, o reitor falou sobre a necessidade de melhorar a comunicação com a imprensa, destacou temas como superação das dificuldades e ações futuras.

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Superação Nos últimos dois anos, a Ufba teve um corte de quase R$ 10 milhões em seu orçamento e a previsão para os próximos anos não é otimista. Apesar do cenário, João Carlos Salles se mostra satisfeito com os resultados que a Ufba alcançou nos últimos quatro anos.

A Ufba registrou bons números em diversos indicadores: todos os 13 cursos avaliados pelo último Enade tiveram notas entre 4 e 5. Isso quer dizer que a Ufba tem excelência no ensino. Os resultados também têm ganhado reconhecimento internacional e a Ufba foi apontada como uma das dez melhores universidades brasileiras em um levantamento da revista inglesa Times Higher Education - das mais importantes do mundo.

“Você faz a comparação e percebe que houve, primeiramente, a manutenção da qualidade e mesmo a melhoria da qualidade. Depois de quatro anos muito difíceis, anos em que começamos com restrições orçamentárias pesadas e fortes, conseguimos garantir esse padrão Ufba de qualidade. E nos preparamos agora para enfrentar um cenário que pode ser ainda mais difícil, porque todo mundo sabe que o cenário se afunila na situação econômica e pode ter implicações mais severas no que diz respeito à Universidade Pública”, apontou o reitor.

O número de alunos aumentou tanto na graduação quanto na pós-graduação e os 43.570 estudantes da Ufba também ganharam em qualidade de ensino já que 78% dos professores tem o título de doutorado na universidade baiana. No ano de 2013 a Ufba contava com 69,4% de doutores lecionando em salas e laboratórios. 

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“A Universidade Federal da Bahia se distingue pela qualificação de seus docentes. Se eu mostrar por exemplo um gráfico com a proporção nossa nos últimos quatro anos… nosso percentual de docentes com doutorado aumentou. Até mesmo nossos técnicos, o número de técnicos com pós-graduação aumentou significativamente”, destacou Salles.

Nacionalmente, a Ufba também aumentou seu prestígio. Ainda neste ano, foi apontada no Ranking Universitário Folha (RUF) como a 14ª melhor do Brasil entre 196 universidades brasileiras avaliadas pelo levantamento. A Ufba subiu uma posição quando comparada aos dados de 2017.

A Ufba obteve 87,16 de nota entre 100 pontos possíveis. Neste levantamento são avaliadas a qualidade de ensino, percepção do mercado de trabalho, inovação, pesquisa acadêmica e internacionalização. 

Segurança Segundo o reitor, a segurança será prioridade. Ele foi enfático ao dizer que “a segurança é um problema”, mas que não deve ser tratada de qualquer maneira. Segundo ele, existe uma metodologia de segurança que é muito efetiva e conta com um investimento anual de R$ 20 milhões.

O vice-reitor, Paulo Miguez, citou que a Ufba é “uma cidade dentro de uma cidade” e, por conta disso, os problemas precisam ser enxergados com cautela, para que não haja uma espetacularização nos casos de violência que acontecem em suas dependências. 

“Temos contato permanente com a Polícia Militar, que tem o projeto da Ronda Universitária. Eles têm muita clareza de que a situação da Ufba não se compara a nenhuma outra comunidade com 50 mil pessoas no estado. Não dá para comparar. Eu perguntei: ‘Major, qual a situação no entorno da Ufba? Rio Vermelho, Ondina, Federação...’ e ele me respondeu ‘Professor, não há comparação. [A Ufba] É uma ilha de segurança pra nós’. Mas, quando acontece um problema aqui dentro ganha uma dimensão que você corre o risco de criar pânico”, disse Miguez.

Segundo ele, a Ufba conta com um efetivo de 596 câmeras e mais de 900 postos de trabalho envolvidos com segurança, entre vigilantes, seguranças e porteiros. “É fácil você chegar numa universidade privada e garantir 0% qualquer ocorrência de crime porque você tem uma porta que vai dizer quem entra e não entra. Aqui, entramos todos!”, declarou Miguez.

Tanto para Paulo Miguez quanto para João Carlos Salles, o modelo de segurança adotado pela Ufba faz parte de um conceito que as universidades públicas precisam adotar para continuar existindo como um espaço livre e aberto. “Nosso método de segurança é o acolhimento, o reconhecimento. Isso são pontos fundamentais. Não é suspeita, 'baculejo' e agressão. E esse método, acreditem, funciona”, pontuou João Carlos Salles.

Assistência Segundo Paulo Miguez, o acesso hoje à universidade ainda é complicado, mas é “muito mais fácil graças às políticas afirmativas implementadas no país”. Por outro lado, a grande preocupação é permanecer na universidade durante todo o período, seja de graduação ou pós graduação.

Pró-reitor de Planejamento e Orçamento, Eduardo Luiz Andrade Mota informou que pelo menos 30% dos alunos da Ufba encontram-se em situação de vulnerabilidade e dependem de ações da própria universidade para se manter. Hoje, eles contam com restaurante universitário, residência, Buzufba, além de auxílio para compra de material escolar. 

A crise econômica agrava a necessidade de políticas estudantis, segundo Mota. O professor afirmou que a crise leva desemprego para os familiares do corpo discente e que isso pode ter impactos diretos na permanência desses alunos nas salas de aula e laboratórios da Ufba. 

“Tudo isso gera reações na pessoa. Pode ficar deprimido, some da universidade, abandona o curso e pode, inclusive, ter reações violentas. Quando você vai ver a situação de vida dessas pessoas, percebe-se que estavam Às vezes até no limiar da própria sobrevivência.” - disse o pró-reitor.

Os preocupações com permanência ainda vão além. A Ufba conta com diversos serviços de atendimento na área de saúde, a exemplo do PsiU, programa de atendimento psicológico oferecido pela Ufba que dobrou a quantidade de atendimentos desde que foi lançado em maio de 2017. Os números já ultrapassaram os 800 atendimentos particulares.

*Com supervisão da editora Clarissa Pacheco