Ufba inaugura 'tesourômetro' para denunciar cortes de verbas

Painel lançado durante congresso contabiliza redução nas verbas para o desenvolvimento da ciência

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  • Milena Hildete

Publicado em 17 de outubro de 2017 às 04:00

- Atualizado há um ano

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Inauguração do tesourôumetro ocorreu no final da tarde desta segunda-feira  (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Em dois anos, as universidades e organizações de pesquisa científica do Brasil deixaram de receber mais de R$ 12 bilhões de verba. Isso significa uma perda de R$ 500 mil por hora. Para expor a crise orçamentária, a Universidade Federal da Bahia (Ufba) inaugurou nesta segunda-feira (16) o “tesourômetro”, um painel eletrônico que mede, em tempo real, os cortes dos orçamentos das instituições de ensino superior públicas e na ciência. A estreia do contador ocorreu durante a abertura do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da universidade, que vai até esta quarta.

O equipamento estima as perdas a partir das previsões de cortes no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), previstos para as universidades federais e para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Na Bahia, a instalação do tesourômetro é fruto de uma parceria da Ufba com a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) e faz parte da campanha Conhecimento Sem Cortes, realizada por cientistas, estudantes, professores, pesquisadores e técnicos. O contador está funcionando na frente da Reitoria da instituição, no bairro do Canela, em Salvador.

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“O tesourômetro é um alerta para mostrar o que está sendo reduzido de investimento para a ciência do país. É importante que ele seja instalado em vários locais para que a comunidade tenha consciência da gravidade da redução desse orçamento”, afirmou o reitor da universidade, João Carlos Salles, durante a abertura do congresso.

 Luta  Este ano, a redução do orçamento do governo federal na Ufba já chega a R$ 20,5 milhões. De acordo o reitor, desse valor, R$ 15,8 milhões são do orçamento previsto para custeio e, caso não seja liberado, a universidade poderá iniciar 2018 com dificuldades para pagar despesas como energia e água, além de limpeza e manutenção dos campi. O orçamento anual da Ufba, este ano, é de pouco mais de R$ 1,4 bilhão - a maior parte já comprometida com pessoal e encargos.“Estamos conseguindo regularizar o orçamento da universidade, mas estamos lutando para que o contingenciamento, que ainda existe, não se mantenha. A nossa expectativa é que esse dinheiro seja liberado até o ano que vem”, afirmou o reitor.No mês passado, o MEC chegou a liberar parte das verbas, requeridas por universidades e institutos federais de todo o país, da ordem de R$ 1 bilhão. Desse valor, R$ 47,9 milhões vieram para instituições da Bahia. Além da Ufba, foram contempladas as universidades federais do Recôncavo (UFRB), do Oeste (Ufob) e do Sul (Ufsb), além do Instituto Federal Baiano (IfBaiano) e do Instituto Federal da Bahia (Ifba).

Cerimônia O batuque dos atabaques de 15 alabês deu identidade baiana à cerimônia de abertura do Congresso da Ufba. “Estar aqui é uma vitória do povo e da universidade”, disse o alabê Iuri Passos. Na sequência, integrantes da banda filarmônica da Bahia e do canto-coral da Escola de Música da Ufba (Emus) foram até o centro do salão para saudar o evento. A cerimônia de abertura contou diversas intervenções (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Reitores de diversas universidades federais e parlamentares também participaram da cerimônia. O presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Superior de Ensino (Andifes) e também reitor da Universidade Federal do Pará (Ufpa), Emmanuel Tourinho, foi um dos reitores que participaram da cerimônia. Na ocasião, ele falou sobre o desafio de administrar a universidade no cenário de crise econômica. “De um modo geral, os reitores estão tentando dialogar com o governo para restabelecer os orçamento da universidades e também com a sociedade”, disse.

Centenas de pessoas lotaram a plateia da Reitoria e pareciam estar ali por um motivo: resistir. A estudante do 6º semestre do Bacharelado Interdisciplinar (BI) de Saúde Amanda Paiva, 20 anos, foi uma delas. A jovem vê no congresso uma oportunidade de alertar a sociedade e, principalmente, a comunidade acadêmica sobre a situação de risco da Ufba. “É um processo de mobilização importante, para que os estudantes da universidade entendam a gravidade desses cortes”, diz.  A estudante, que apresenta um trabalho acadêmico pela primeira vez nesta quarta, estava ansiosa. “Eu fiquei surpreendida quando soube que o trabalho foi aceito. Espero que tudo ocorra bem”, comenta. Alunos, professores e convidados lotaram a plateia do salão nobre da reitoria  (Foto: Arisson Marinho /CORREIO) Para o reitor da Ufba, o congresso, que está em sua 2ª edição, também chega como um alerta para a população da universidade. “A intenção é mobilizar todos os esforços. Não pode ser uma questão partidária a defesa da universidade. A defesa é do interesse da sociedade, sobretudo, na Bahia, pois sabemos o papel que a Universidade Federal da Bahia tem para a produção de ciência e cultura”, afirmou Salles.

Como Amanda, o estudante do 3º semestre de Engenharia Elétrica Rodrigo Barbosa, 21, acredita que o congresso vai ser uma ocasião para mostrar os problemas que as universidades brasileiras vêm enfrentando. “Um evento como esse pode elucidar o momento da Ufba”, opinou. O universitário pretende prestigiar todos os dias do Congresso. “Eu quero ver o Fórum Social Mundial (em 2018) e saber o que a universidade está produzindo na minha área”, completou. O evento terá discussões sobre o fórum.