Um Domingo solar

Por Aninha Franco

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Publicado em 27 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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 Dizer o que nesta Trilha do sábado que antecede o Domingo Bolsonaro x Haddad? Que seja solar para espantar o mau cheiro político, a estreiteza do pensamento, a democracia embolorada que, por mais democrática que seja, nunca é realmente democrática no Brasil.

Não se sabe o que os candidatos farão a partir de segunda-feira, nem Bolsonaro, nem Haddad, porque eles não falaram de projetos. Eles fizeram sequências intermináveis de acusações e ataques e agressões, físicas inclusive, como se duas gangues disputassem o poder para governar o país. Uma das gangues vencerá e nós seremos governados democraticamente. E parece que é isso.

Passado domingo, os três poderes da República brasileira funcionarão com seus privilégios imperiais, suas frotas de carros, suas verbas para correio, seus cartões corporativos ilimitados, suas passagens e contratações de centenas de assessores. Vinte e cinco mil cargos de confiança do governo federal serão extintos, serão preenchidos por humanos “confiáveis” do novo poder ou continuarão preenchidos por aqueles que os ocupam. Se Bolsonaro vencer, como indicam as pesquisas, uma máquina que o PT montou com seus aliados nos últimos 16 anos será desmontada.

Brasília deve estar em chamas. 

O legislativo rejuvenesceu no primeiro turno, e a impressão é que haverá governo e oposição no Congresso independente do resultado de amanhã. Governo e oposição sempre fazem bem às democracias. Mas desse rejuvenescimento nós só saberemos, na prática, nos próximos meses. Ou se será apenas mais do mesmo dos últimos anos.

A juventude do Judiciário – Sérgio Moro, Polícia Federal, Ministério Público – depende muito do resultado de domingo. Todo o combate à corrupção instalado no país a partir de 2014 pode arrefecer ou crescer dependendo de quem saia vitorioso. O Poder Judiciário, que deveria fiscalizar e controlar os Poderes Executivo e Legislativo, pode perder suas ferramentas se os dois se unirem para isso.

De tudo, aquilo que parece vivo, novo e repleto de vontades neste Brasil velho e nada original é sua sociedade, a que sempre pareceu omissa, a que durante séculos permaneceu calada diante das excrescências dos seus governantes.

Para observá-la melhor, essas Trilhas entrarão de férias neste espaço.  

Aninha Franco é escritora e pensadora