Um recanto em tempos de Copa

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  • Da Redação

Publicado em 14 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Tenho um grande amigo chamado Flávio que, junto com sua companheira, Pam, está de casa (relativamente) nova. O apartamento, que com frequência é invadido por uma horda bárbara – leia-se amigos e amigas nossos -, já foi até alçado à categoria de Complexo Lúdico-Desportivo da Galera. Faz jus ao termo.

Calhou de vir à Copa do Mundo e o recanto, claro, virou parada obrigatória. Mas, observe bem, não estou falando das reuniões usuais para jogos da Seleção Brasileira. Leve a sério, por favor, quando falo parada obrigatória.

Nos jogos mais fracos e pouco atrativos da primeira fase, lá estava uma equipe de plantão, com o quorum variando a depender da capacidade de cada um ziguiar o seu trabalho.

A coisa ganhou tamanha proporção que, algumas vezes, cheguei ao local crente de que veria o jogo apenas com os anfitriões, mas fui invariavelmente surpreendido pela presença de outros amigos que não só lá já estavam como burlaram os respectivos afazeres antes de mim. Exemplos.   

Serviço acumulado, dispensa esvaziando, pouca atenção ao relacionamento, dissertação do mestrado em segundo plano, cerveja desmedida em dias úteis. Estes são alguns fatos personificados frente à TV do apartamento FlaPam (assim também apelidamos) durante o torneio da Fifa, que infelizmente acaba amanhã, obrigando todo mundo a tomar vergonha na cara.

No dia em que o Brasil foi eliminado pela Bélgica, o complexo lotou. O churrasco começou antes do jogo matinal e, em respeito à pátria, só foi suspenso quando a Seleção Brasileira entrou em campo. Após a derrota, a churrasqueira foi entupida novamente, afinal de contas, é bem melhor lidar com as desilusões de barriga cheia.

Nisso, chamou atenção de todos o sofrimento do dono da casa. Como se tivesse perdido o ar, andava de um lado para o outro, olhar vago, cabelos desgrenhados, volta e meia um gesto de negação com a cabeça.

Cá com meus botões, acho que sua maior tristeza não era a eliminação do Brasil em si. A bem da verdade, sinto que o âmago do lamento residia no risco de que tal eliminação abrandasse a chama dos encontros acendida pela Copa e que seu lar deixasse, de uma hora para outra, de ser invadido por visitas tão espaçosas e bagunceiras. No auge do sofrimento, ele misturou as copas e proferiu com alarde a frase que abalou nossos corações: “Se o Bahia não ganhar esse título amanhã, eu vou me afogaaar nessa piscina!”.

Como se sabe, o Sampaio Corrêa faturou o Nordestão dentro da Fonte Nova e, na alvorada do domingo, minha única preocupação era saber se Flavinho estava bem. Estava. Graças a Pam, óbvio!

Vieram as semifinais e, antes de França e Bélgica, ele questionou: “E esse jogo?”. Sem poder driblar o trabalho, não fui. No dia seguinte, idem, com o agravante de que fiquei estatelado em frente ao computador, refém de um editor que estava no Rio de Janeiro e poderia pedir ajustes numa reportagem. Nem ele pediu nem eu fui ao complexo. Quem falou que a vida é justa?

Fato é que amanhã tem final de Copa. Ninguém combinou nada nem comunicou aos donos da casa, mas tenho uma leve sensação de que iremos todos ao complexo FlaPam. Pelo sim, pelo não, o casal agora já está avisado.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.