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Uma equipe que já é campeã


 

  • Miro Palma

Publicado em 02/11/2018 às 05:00:00
Atualizado em 19/04/2023 às 02:40:05
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Esta coluna seria totalmente diferente do que é agora. Eu já rascunhava umas linhas tortas quando uma notícia me transportou para o dia 25 de novembro de 2007. Eu estava na antiga Fonte Nova ao lado do meu pai, assistindo a um empate por 0x0 entre Bahia e Vila Nova, pela Série C. No final do segundo do tempo daquele jogo, eu vi uma confusão ao lado de onde eu sentei na arquibancada. De repente, aparecem policiais militares pedindo que todos se afastassem. Segundo eles, tudo não passava de uma briga. Sem surpresa, segui a orientação e saí de lá sem saber que uma das piores tragédias do futebol brasileiro tinha acontecido a poucos metros de distância. Só quando saí da Fonte Nova, descobri que pessoas haviam caído da arquibancada quando parte dela cedeu. Sete morreram.

Pouco antes de completar dez anos desta data, nossa equipe de esporte daqui do CORREIO, da qual esse que vos escreve faz parte, resolveu fazer uma série de reportagens para mostrar o caminho de esquecimento e negligência trilhado por essa história. Uma Década de Silêncio foi publicada em 25 de novembro de 2017. O nome já diz tudo: silêncio. Tratamos do abandono e da indiferença que cada uma das vítimas e suas famílias viveram ao longo desta década. Tanto pela Justiça, que foi incapaz de responsabilizar os culpados, passando pelo time, o Bahia, que pouco fez para honrar a memória dessas pessoas, e terminando na torcida, eu, você e todos os outros que amam esse esporte.

Ontem, no primeiro dia do mês de novembro, nossa equipe recebeu a notícia de que essa série de reportagens está como finalista do Prêmio Petrobras de Jornalismo, na categoria Esporte. Uma alegria. Ter o trabalho reconhecido entre seus pares é gratificante. Chegar à final de um prêmio como esse é ir além das expectativas. Mas toda essa empolgação me fez refletir sobre o dia 25, sobre as sete vítimas fatais dessa tragédia e sobre os quase 11 anos que se passaram. Em meio a essa equação, eu pensei em como chegamos até aqui. Fazer jornalismo é contar histórias. Nem sempre - ou na maioria das vezes - essas histórias são positivas. No entanto, é aí que o jornalismo se mostra mais importante. É, justamente, quando precisamos desvelar as mazelas do nosso cotidiano, que geralmente são colocadas para debaixo do tapete, que percebemos o valor dessa atividade.

O que acontece é que, na editoria de Esporte, lidamos com paixão, com alegria, com vitórias. Temos um arsenal de bons momentos para contar a todos. Sejam de triunfos ou derrotas, o esporte sempre nos mostra que há algo positivo para se celebrar. Tá aí um dos ingredientes que mais gosto neste universo. Porém, somos jornalistas antes de tudo. Então, não se esqueça que estamos atentos, estamos vigilantes. Não importa o cenário, não subestime o nosso crivo. E aos meus amigos, Herbem Gramacho, Ivan Dias Marques, Daniela Leone, Fernanda Varela, Bruno Queiroz, Gabriel Rodrigues e Vitor Villar, independentemente de qualquer resultado, eu já sou muito grato pela companhia no dia a dia desta profissão. Fica fácil jogar em um time de craques.

Para finalizar, apenas uma coisa: Márcia Santos Cruz, Jadson Celestino Araújo Silva, Milena Vasques Palmeira, Djalma Lima Santos, Anísio Marques Neto, Midiã Andrade Santos e Joselito Lima Júnior, nós nunca esqueceremos.  

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras