Uma luz para a lagoa

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Publicado em 6 de maio de 2018 às 09:17

- Atualizado há um ano

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Domingo passado, uma reportagem de capa publicada pelo CORREIO retratava o apogeu do abandono que afeta um dos seus mais famosos cartões-postais. Imortalizada nos versos de compositores como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Chico César, a Lagoa do Abaeté agoniza em sua crescente solidão, resultado do esquecimento por parte das autoridades que deveriam zelar por ela. A saber, o governo do estado, através da Secretaria de Meio Ambiente.

Uma década após a morte de Caymmi, pioneiro em poetizar a beleza e o misticismo daquele conjunto formado por águas escuras rodeadas de dunas brancas como as nuvens, os turistas sumiram de lá. Desde 2007, os ônibus lotados de visitantes que desembarcavam quase diariamente nos arredores da lagoa retiraram o Abaeté da rota, afugentados pelo histórico de assaltos, a reboque de um policiamento que se mostra incapaz de conter a criminalidade.  De modo mais traumático e intenso do que ocorre também em outros pontos da cidade igualmente afetados pela insegurança, a fuga de turistas da Lagoa do Abaeté é filha do descaso e do completo desinteresse em um patrimônio natural que integra o mapa de grandes símbolos de Salvador. Nem a gigantesca fama e nem o potencial turístico já consolidado parecem suficientes para sensibilizar o poder público estadual sobre a urgência em revitalizar o espaço encravado no coração da histórica Itapuã.

Se tais atributos ainda não conseguiram mover aqueles que detêm a tutela sobre a Lagoa do Abaeté, os aspectos humanos deveriam servir como mola propulsora. Num cuidadoso trabalho de apuração jornalística, o CORREIO ouviu relatos de comerciantes, moradores e lideranças comunitárias que não escondem a tristeza pelo esvaziamento do espaço, desde 1993 protegido pela criação do Parque Metropolitano do Abaeté.

Não sem razão, lamentam a crise que atingiu um sem-número de pessoas, cuja sobrevivência é atrelada ao turismo e ao movimento de moradores de outros cantos da cidade, antes atraídos pela efervescência cultural e pelas possibilidades de lazer em volta da lagoa. Na década de 1990, viveram a pujança do Abaeté, catapultada por uma agenda extensa de atividades, que incluía shows de astros da MPB, manifestações da cultura tradicional e apresentação de orquestras, além do seu outrora badalado centro comercial, com lojas, bares e quiosques sempre cheios nos fins de semana.

Não sem motivo, a comunidade local se queixa da perda gradativa de visibilidade do Abaeté, hoje praticamente deserto, salvo por raras iniciativas de moradores do bairro. Caso das Ganhadeiras de Itapuã, para quem a lagoa, mais que um lugar de beleza ímpar e fonte de diversão, é parte da alma dos que nela um dia se banharam e fonte de inspiração para sucessivas gerações.