Uma prisão que vale ouro

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  • Ivan Dias Marques

Publicado em 6 de outubro de 2017 às 04:14

- Atualizado há um ano

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Extra! Extra! Eis que, pouco mais de um ano depois de finalizado os Jogos Olímpicos do Rio-2016, houve uma correção no quadro de medalhas da competição. O Brasil, que havia terminado  meia-boca, mas honroso (da parte dos atletas) 13º lugar, foi alçado ao 2º posto, atrás apenas dos Estados Unidos.

Nossas sete medalhas douradas, conquistadas com muito suor por nossos atletas do futebol, vôlei, vôlei de praia, atletismo, judô, boxe e vela, se transformaram em 39 ouros! Assim, num pulo maior do que os do saudoso Adhemar Ferreira da Silva, ficamos  apenas a sete dos ianques e batemos nosso recorde em Jogos Olímpicos.

As medalhas foram encontradas na casa do (por pouco tempo, espero) presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman. Assim como a Jules Rimet, tinham sido derretidas e transformadas em 16 barras de ouro com 1 kg, cada. Espertinho, Nuzman tentou juntar o valor delas, cerca de R$ 2 milhões, a seu patrimônio, numa retificação do Imposto de Renda, junto aos quase R$ 500 mil também apreendidos em sua casa pela Polícia Federal. Mais uma vez, agora falando sério, está provado que nossos dirigentes, além de ladrões, são caras de pau. Nenhuma surpresa quanto a isso.

Toda vez que um dirigente do quilate – sem piada com o ouro – de Nuzman é preso, confirmamos nossa predisposição de sermos otários. Eu fico imaginando como se sente o atleta que se prepara, abre mão da família, dos amigos, de alguns prazeres da vida (por que não?) para competir, ser taxado de amarelão quando perde e, agora, fica sabendo que o presidente do COB teve seu patrimônio aumentado em 457%.

Vale lembrar que, pra variar, toda essa farra só fica entre eles mesmos, já que o orçamento do Ministério do Esporte, como lembramos nesta coluna, deve diminuir 87% em 2018, se comparado ao deste ano. Mas garanto que nenhum cartola terá seu salário diminuído em tal período.

A Polícia Federal ainda encontrou mais evidências das maracutaias na casa de Nuzman quando o prendeu. Foi a segunda visita da PF ao (espero que por pouco tempo) presidente do COB em sua residência. O que só prova que, além de ladrões e caras de pau, alguns dos nossos dirigentes só são inteligentes na hora de armar esquemas fraudulentos. As provas estão por aí. Basta investigar um pouquinho que todo mundo vai ser grampeado.

Pra completar o serviço, a foto dos “bens” apreendidos no apartamento de propriedade do ex-presidente do COB André Richer e apontado como um dos parceiros de Nuzman. Só me lembro de ver uma imagem com relógios importados, dinheiro e armas nas prisões de elementos de alta periculosidade, o que não deixa de ser mais um título para o atual (espero que por pouco tempo) presidente do COB.

Nunca é demais ressaltar que a prisão de Nuzman é devido à suspeita de compra de votos para que o Rio fosse escolhido como sede olímpica. E, claro, se a PF levar ao pé da letra o bordão “follow the money” (siga o dinheiro), do docudrama All the President’s Man (1976), que contava alguns dos detalhes do escândalo de Watergate, nos EUA, vai faltar cela pra tanto cartola e ângulo fotográfico para tanto dinheiro apreendido.

Ao menos, temos algum legado da Olimpíada. Na Cadeia Pública José Frederico Marques,  Nuzman e Leonardo Gryner, seu braço-direito e também preso pela PF, vão dormir em colchões usados pelos atletas no Rio-2016. Que tenham péssimos sonhos.

Ivan Dias Marques é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras