Uneb faz eleição para nova reitoria, que cuidará de orçamento de R$ 500 mi

Votação ocorre no próximo dia 3; último debate entre os três nomes na disputa ocorre nesta terça, no Cabula

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 25 de setembro de 2017 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Reprodução/Divulgação

A uma semana de definir quem irá comandar a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que conta com orçamento anual de cerca de R$ 500 milhões, a entidade promove, nesta terça-feira (26), o último debate entre os três nomes na disputa. O encontro, no Teatro Uneb, no bairro do Cabula, em Salvador, entre 17h e 20h, será uma das chances derradeiras de os candidatos apresentarem suas propostas, antes da eleição marcada para próximo dia 3.

Concorrem ao cargo de reitor e vice, respectivamente, José Bites de Carvalho (que tenta a reeleição) e Marcelo Duarte Dantas de Ávila, da chapa “Somos todos Uneb”; Valdélio Santos Silva e Márcia Guena dos Santos, da “Novos caminhos para a Uneb”; e Carla Liane Nascimento Santos e Joabson Lima Figueiredo (“Uneb com a nossa cara”). Quem vencer a corrida comandará a instituição entre 2018 e 2021.

Na eleição, podem votar os 27.616 alunos, 2.267 professores e 1.395 funcionários. Para chegar ao escore obtido pelas chapas é feita uma soma referente à votação de cada categoria. Exemplo: número de votos do candidato por professores/número total de professores votantes – o mesmo com estudantes e funcionários, multiplicado por 100/3. As aulas não serão interrompidas durante o processo de escolha.

Os nomes, após a votação, compõem uma lista tríplice para escolha e nomeação do reitor e vice-reitor, por parte do governador Rui Costa (PT). Como vão para a lista os nomes dos candidatos que obtiverem o maior número de votos e só há três chapas, todos comporão a lista. José Bites de Carvalho, Carla Liane Nascimento Santos e Valdélio Santos Silva estão na disputa (Foto: Reprodução/Divulgação) Origem e estrutura atual Com 34 anos de existência, a Uneb, cuja origem remonta ao antigo Centro de Formação Técnica da Bahia (Ceteba), tem 29 departamentos, mais de 150 opções de cursos presenciais e à distância, e está presente em 19 territórios de identidade da Bahia. São, ao todo, 24 campi, na capital e no interior, e um campus avançado, em Canudos.

Foi a primeira universidade da Bahia a implantar, em 2002, uma política de ações afirmativas e cotas raciais em suas seleções de graduação. Hoje, a Uneb conta com 8.903 estudantes negros e 234 indígenas.

Clima da disputa Os debates para eleição de reitor e vice começaram no campus de Ipiaú, em 27 de agosto. No dia 5 deste mês teve outro encontro em Jacobina, além de Juazeiro, no dia 13, e Brumado, no último dia 19. Eles têm sido marcados por ataques à atual gestão de José Bites, acusado ser centralizador, motivo pelo qual a vice-reitora Carla Liane, que é doutora em Ciências Sociais, diz ter rachado com Bites.“A atual gestão apresentou um projeto em 2013 que previa o diálogo e a participação permanente com todos os setores, e que nós faríamos uma transformação na universidade, para atendimento das demandas sociais. Entretanto, acabou ficando muito centralizada na pessoa do reitor, com um modelo de gestão extremamente centralizado”, afirmou Carla Liane.“Também tivemos reformas que burocratrizaram a universidade. Então, ao invés de termos uma gestão acadêmica, tivemos uma gestão tecnicista. Não tive espaço para participar como co-gestora”, completou a candidata.

Para superar este problema, ela propõe um maior diálogo não só com a comunidade acadêmica, mas também com a comunidade externa, por meio da criação de conselhos populares territoriais, que vão dialogar com movimentos sociais de cada território. Ela faz ainda a defesa da autonomia universitária, com estratégias de sustentabilidade no que se refere à captação de recursos para aumentar os investimentos em pesquisa, compra de equipamentos, construção de laboratórios etc., tendo em vista que apenas 5,2% do orçamento atual, de R$ 501,3 milhões, são para este fim – o orçamento de 2015 foi de R$ 486,6 milhões, o de 2016, R$ 493,7 milhões.

“Vamos criar uma secretaria só para captação de recursos”, disse Liane, que pretende, com isso, impulsionar a pesquisa e interiorizar a pós-graduação strictu sensu.

Mirando o interior Na busca pela reeleição, o reitor José Bites, que é mestre em Geologia, disse que pretende ampliar o acesso ao ensino de graduação e pós-graduação nos campi da Uneb.“Vamos trabalhar para o fortalecimento da graduação no interior. Precisamos interiorizar o mestrado e o doutorado. Nessa gestão, passamos a oferecer, nos últimos três anos, programas específicos de doutorados para qualificação de professores da Uneb. É um programa de outras universidades, que foram oferecidos nos campi de Caetité, Guanambi, Santo Antônio de Jesus e Juazeiro”, declarou José Bites.Ele fez questão de informar que a entrevista estava sendo dada do lado do seu vice Marcelo Duarte.

Numa autoavaliação da gestão, o reitor lembrou que encontrou uma Uneb com dívidas de R$ 22 milhões – ele ficou de informar em quanto estava a dívida atual, mas isso não ocorreu. “Pegamos uma série de obras não acabadas e dívidas de bolsas de estudantes não pagas. Mas resolvemos tudo, sanamos o atrasado”, disse, destacando em seguida que fará uma “permanente defesa da autonomia da universidade, garantindo a sustentabilidade por meio de outros recursos”. Bites negou também que sua gestão foi centralizadora.

“Na nossa gestão, fizemos a reestruturação da área administrativa, criamos estruturas que pudessem garantir transparência e lisura no trato com os gastos públicos. Criamos uma secretaria especial de licitação, contratos e convênios que permitisse um acompanhamento de perto de recursos de captados, e que também incentiva a captação de recursos”, afirmou o reitor, criticado por não ter entregue nenhum restaurante universitário (RU). A Uneb é a única instituição de ensino superior pública da Bahia que não tem um RU. 

“Não concluímos a obra porque houve um problema na fundação, problemas técnicos, o que nos obrigou a fazer uma nova licitação para contratação de uma outra empresa. O processo de licitação está em cursos e será aberto logo em breve”, afirmou ele. A vice-reitora Carla Liane disse que a empresa contratada para construir o restaurante faliu.

De acordo com a assessoria da instituição, além do RU do Campus I (Salvador) já estar “em processo de construção”, “nos campi II (Alagoinhas) e III (Juazeiro), comissões já foram constituídas para elaborar uma proposta de RU para as unidades”.

Bites afirma que, em compensação, no quesito assistência estudantil, houve avanços, “com a construção das residências universitárias de Serrinha e Guanambi, e com outras para construir” - neste caso, ele não especificou em quais cidades.

Estudante como prioridade Doutor em Antropologia, o candidato Valdélio Santos Silva, diretor do Departamento de Educação da Uneb no Campus I, em Salvador, tem mirado em sua campanha os estudantes, para os quais possui uma série de ações voltadas para a permanência na academia.“Queremos reforçar a assistência estudantil, pois tem muita gente que começa, mas não conclui o curso, e é preciso mais investimentos em outras atividades esportivas, de cultura e lazer dentro da universidade”, comentou Valdélio Santos Silva.O candidato diz que deseja fazer o ano de 2018 o da assistência estudantil: “Para conseguir isso, vamos usar o orçamento com prioridade maior neste setor. O nosso principal objetivo dentro de uma universidade é formar. Se a gente não destina um percentual significativo para esse tipo de assistência, vamos esvaziar os nossos cursos porque nossos alunos não vão conseguir concluir a graduação. Precisamos fazer ações conjuntas com o Governo do Estado, como bolsas, estágios, incentivos à pesquisa que permita ter um número significativo de monitores dentro da universidade. Ações como essa serão uma forma de complementação de renda do nosso discente.”

Sobre a atual gestão, ele também critica a centralização de poder. “O que ocorreu ao longo desses anos foi uma enorme frustração. José Bites de Carvalho é muito concentrador de poder. É ele que praticamente tomava todas as decisões, sobretudo de orçamento da universidade para manutenção, equipamentos e as compras que deveriam ser feitas. Essa concentração de poder repercutiu na própria gestão dele, cujos assessores não tinham independência de tomar as decisões sem falar com ele", afirmou Valdélio. "Ele teve uma equipe muito fraca, que não atendeu às demandas administrativas e acadêmicas, como pós-graduação e a pesquisa e a extensão. Nessa gestão, a Uneb não deu um passo adiante neste quesito”, complementou.

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Categorias não declaram apoios Diretor do Sindicato dos Servidores em Educação de Terceiro Grau do Estado da Bahia (Sintest), Firmino Júlio de Oliveira Filho informou que a categoria, de maneira geral, não está declarando publicamente o apoio a nenhum candidato e que o sindicato está apenas dando orientações sobre como avaliar melhor as propostas de cada um.

“Dentre as nossas demandas, estão a questão salarial, pois um salário de um técnico hoje na Uneb, para 40 horas de trabalho semanal, é de menos de R$ 800. Com gratificações, ele acaba recebendo mais, o que vai, a depender do cargo que ocupa, para mais de R$ 2 mil a R$ 3 mil. Porém, quando se aposenta, é com esse salário, que é uma coisa absurda. Essa é a nossa principal luta”, disse o sindicalista.

Diretor da Associação de Docentes da Uneb (Aduneb), Milton Pinheiro declarou que a categoria também não apoia abertamente candidato algum. “A Uneb tem sido desmantelada pelo governo, e a atual gestão não tem defendido a autonomia da universidade. Não tem comunicação com o professor, cujos direitos trabalhistas não vem sendo respeitados”, criticou.

O CORREIO tentou ouvir o Diretório Central dos Estudantes (DCE) sobre a eleição e avaliação da gestão atual, porém as chamadas no telefone do setor na Uneb não foram atendidas.

Quem são os vices O professor Marcelo Ávila, mestre em Ensino, é vice de José Bites, e na Uneb é pró-reitor de Administração. Iniciou a carreira política na academia em 1978, como secretário de ­finanças do Diretório Acadêmico do curso de Química da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e, entre 1983 e 1984, coordenou o Diretório Acadêmico de Matemática da mesma instituição.

Foi pró-reitor de Administração da Uneb entre 1987 e 1989 e da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) entre 1990 a 1991. Em 2010, contribuiu para a implantação da pró-reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (PGDP) da Uneb, onde atuou para a realização de cinco concursos públicos para docentes e para o maior concurso para servidores técnico-administrativos da instituição.

O professor Joabson Figueiredo, candidato a vice-reitor na chapa de Carla Liane, tem quase 20 anos de carreira docente. Começou atuando como professor na rede municipal de Santo Amaro, Conceição do Jacuípe, Amélia Rodrigues, aos 19 anos. Graduado em Letras, atualmente faz doutorado em Literatura e Cultura na Ufba. Foi professor visitante da Uneb (campus XXIII) e atualmente é professor efetivo no campus de Irecê.

Pesquisador em Literatura baiana, coordena projeto de pesquisa sobre literatura feita da Bahia. Faz parte da comissão executiva e editorial da Revista Seara Virtual, foi coeditor da Revista Literatura e Diversidade Cultural, e coordenador do Núcleo de Pesquisa e Extensão da Uneb, nos campi XXIII e XVI.

Márcia Guena é candidata a vice na chapa encabeçada por Valdélio. Sempre estudou em escolas públicas e fez seu segundo grau na antiga Escola Técnica Federal da Bahia (atual Ifba), onde estudou Química. Ingressou no bacharelado em Química da Ufba e logo depois foi para a Universidade de São Paulo (USP), ingressando também em Química, para logo descobrir sua verdadeira vocação, o Jornalismo, na mesma universidade.

Publicou o livro “Arquivo do Horror. Documentos Secretos da Ditadura de Stroessner”, e defendeu a dissertação de mestrado sobre a Operação Condor, uma conexão entre as polícias políticas do Cone Sul da América Latina. Transitando entre o mercado de trabalho e a academia, voltou a atuar como jornalista até ingressar no doutorado em História na Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, onde defendeu a tese, em espanhol, “Afrobrasileños em lucha: histórias de la resistência a la ditadura militar en Brasil (1964-1985)”, em 2013. Um de seus entrevistados foi justamente o professor Valdélio Silva, por sua luta durante a ditadura.