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Eduardo Athayde
Publicado em 28 de junho de 2018 às 09:16
- Atualizado há um ano
Quando o diretor da Universidade de Berkeley, na Califórnia, visitou o lago de Pedra do Cavalo, a convite do WWI-Worldwatch Institute, despertou mentes científicas, empresariais e inovadoras, que alimentam fundos de investimentos de Berkeley, para o que chamou de oásis hídrico do semiárido brasileiro, pensando nas possibilidades de articulações da Região Metropolitana de Feira de Santana (RMFS), o Silicon Valley e aquela universidade pública americana.
Posicionada, isoladamente, como quinta maior economia do planeta, a Califórnia declarou-se oficialmente como "Estado Verde", legalmente comprometido com a preservação e o desenvolvimento sustentável e investe pesado em inovação, ciência e tecnologia para movimentar o seu PIB de 2,5 trilhões de dólares. O Vale do Silício, berço mundial de tecnologia, que abriga cerca de 15 mil startups, empregando mais de 2 milhões de pessoas, continua a produzir e a exportar suas criações como fez com Apple, Google, Uber, Facebook, Instagram e tantas outras.
O PIB feirense de 11 bilhões de reais, se for irrigado com conhecimento e recursos californianos e de outros centros de pesquisa, pode ser impulsionado com expertises novas, estimulando a migração de colônias de startups para inovar na gestão e no desenvolvimento estratégico desse oásis hídrico que abastece cerca de 5 milhões de pessoas.
Pedra do Cavalo, que banha a RMFS e faz brilhar olhos do mundo, é formado pelo represamento do Rio Paraguaçu, maior rio baiano (600 km) e o Rio Jacuipe, e banha dez municípios, Conceição de Feira, Antônio Cardoso, Cabaceiras do Paraguaçu, Cachoeira, Feira de Santana, Governador Mangabeira, Muritiba, Santo Estevão, São Felix e São Gonçalo dos Campos; um corpo hídrico de 186 km2, com uma Área de Proteção Ambiental (APA), Unidade de Conservação de uso sustentável, definida pela legislação federal e estadual. Um paraíso para os inovadores ideais de sustentabilidade californianos.
Parcerias com o Silicon Valley Organization, que reúne a nata da gente inovadora, está no radar, assim como a Associação Nacional de Águas Rurais, maior associação de usuários de água e esgoto dos EUA, com mais de 31.000 membros nos diferentes estados e oferece assistência técnica às comunidades rurais, estimulando poderosas redes de micro e pequenas empresas. Parceria local com o Sebrae pode aportar experiencias novas de interesse das comunidades.
Em recente visita à Bahia, o embaixador de Israel, Yossi Shelley, também mostrou interesse em articulação do potencial da região de Pedra do Cavalo com o instituto agrícola israelense Volcani [www.agri.gov.il], um dos mais respeitados do mundo. Abrigando atualmente cerca de 3 mil startups, com apoio do governo israelense e de 300 multinacionais, desértico e árido, Israel obtém 85% de sua água através da dessalinização (em 2020 serão 95%), a um custo de US$ 0,50 por mil litros, para o abastecimento da sua população de 8.9 milhões de habitantes, seus 200 mil hectares com 14 mil fazendas irrigadas, e mais de mil complexos industriais.
Elevada a Vila de Santana dos Olhos d'Água, em 1832; passando a Cidade Comercial de Feira de Santana, em 1873; batizada por Rui Barbosa como Princesinha do Sertão, em 1919; e hoje com um alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM/ONU - 0,712), Feria é a maior, mais rica cidade e capital do semiárido brasileiro - um status que não pode passar despercebido.
Tendo adotado oficialmente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, Feira tem novos caminhos articulando-se com o mundo novo e usando sua força em seu favor. A utopia concreta de um centro de pesquisa da Universidade de Pedra do Cavalo gera gravidade para atrair rapidamente as ondas disruptivas da inovação que invadem os quatro cantos do mundo.
*Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil. [email protected]