Vadão, Emily Lima e o machismo na seleção brasileira feminina

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  • Miro Palma

Publicado em 12 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Aparentemente, é preciso ser homem para se manter por mais tempo treinando a seleção brasileira feminina de futebol. Digo isso diante do atual cenário do técnico Vadão: depois de perder por 1x0 para a Escócia, 20ª no ranking da Fifa, e amargar a nona derrota consecutiva, ele permanece inabalável no comando do time. Um ano e meio antes, a CBF demitiu, após curtos dez meses de trabalho, a técnica Emily Lima. A primeira mulher a assumir o comando da equipe feminina saiu com um saldo muito melhor do que o do atual treinador: em 13 jogos, foram sete vitórias, um empate e cinco derrotas. 

Aí você pode falar: “Cinco revezes derrubariam muito técnico por aí, especialmente de times masculinos”. E nove, nem se fala, não é mesmo? No entanto, contrariando até a nossa cultura do futebol baseada em resultados imediatos, a CBF mantém Vadão mesmo com a pior sequência da história da seleção feminina. A última vitória em jogos oficiais foi em julho do ano passado, diante do Japão, por 2x1. 

Daqui a pouco menos de dois meses, no dia 9 de junho, a seleção estreia na Copa do Mundo da França em partida contra a Jamaica. E pelo discurso do coordenador do futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, Vadão segue para o Mundial.  “A confiança que possa melhorar e o trabalho que faz, a proximidade da Copa e tudo que já observou aliado à sua experiência como treinador. Não considero o desempenho tão ruim, e sim os resultados”, disse Marco Aurélio em entrevista ao blog Dibradoras, do Uol. 

Aí voltamos mais uma vez há um ano e meio atrás e tentamos encontrar essa mesma paciência, tolerância e fé no trabalho desempenhado por Emily Lima e em sua experiência como treinadora - passou pelas seleções de base e foi vice-campeã da Copa do Brasil com o São José. Porém, não encontramos. 

Depois de quebrar uma dinastia masculina no comando da seleção feminina que durou 30 anos, ela não conseguiu nem um ano para fazer o seu trabalho. Mesmo com os protestos contra a sua saída, mesmo com uma carta assinada por 24 das 26 atletas da época pedindo a sua permanência, mesmo com as manifestações públicas de Marta, a melhor jogadora do mundo, e da baiana Formiga, jogadora que mais vezes vestiu a camisa do Brasil, contrárias à decisão, mesmo com a saída de Cristiane, maior artilheira do futebol brasileiro em Jogos Olímpicos, em protesto. Nada disso foi suficiente para segurar o cargo de uma mulher no futebol brasileiro.

E não me venha falar em mimimi. É um fato. Não só o futebol masculino é um ambiente machista. Por mais paradoxal que seja, o feminino também é. As mulheres podem até jogar, mas quem comanda são homens. E, pelo visto, homens que não estão muito preocupados com o desenvolvimento da modalidade, visto que algumas das possíveis motivações especuladas sobre a saída de Emily foram que dirigentes se incomodavam com sua necessidade em definir um calendário de jogos, a escolha por adversárias mais qualificadas para enfrentar e o espaço que dava às revelações. 

Não sei se tão cedo veremos outra técnica encabeçando a seleção de futebol feminino. E também nas de vôlei, basquete, futsal, handebol. Todas também comandadas por homens. Mas, se tem um lugar onde essa revolução pela igualdade merece começar, é nos espaços que pertencem a elas.

Miro Palma é jornalista e subeditor de Esporte.