Veja 5 lições de quem é 'pão-duro' e repense sua relação com o dinheiro

É possível deixar de ser tão mão-aberta e ficar com as contas folgadas

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  • Priscila Natividade

Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 05:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustração: Morgana Miranda/ CORREIO

Tio Patinhas, mão-fechada, mão de vaca, unha de fome, pão-duro. Estereótipos à parte, o fato é que ele nunca vai gastar a mais do que ganha e por isso tem muito a ensinar a quem, por outro lado, é mão aberta até demais. Os financeiramente organizados não vivem no aperto, investem, se planejam e passam longe da dor de cabeça que dá quando o orçamento do mês fecha no vermelho. Heróis? Talvez. O CORREIO conversou com alguns destes canguinhas assumidos e listou, pelo menos, cinco lições importantes para quem precisa fazer as pazes com o dinheiro (veja abaixo).

São histórias de pessoas que desenvolveram o hábito de economizar, acompanhar seus gastos, adequar seu padrão de vida, frear os impulsos de consumo e, acima de tudo, se planejar. “O pão-duro pode ensinar ao gastador descontrolado a importância do planejamento e de realizar cortes de gastos desnecessários, principalmente aqueles pequenos  que passam despercebidos, mas na verdade são como um furo no balde”, destaca o educador financeiro da Dsop, Allan Andrade.

Fica aqui também a dica da superintendente de Educação e Informações Técnicas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Ana Leoni: “ Todo mundo que chegou ao primeiro milhão começou economizando o primeiro real. E mudar não significa se privar, mas saber priorizar o que é mais relevante”, acrescenta.  

AS CINCO LIÇÕES DE UM PÃO-DURO ASSUMIDO

1. Gaste menos do que a sua renda

O economista e contador Diego Fan Ribeiro começou a controlar o seu dinheiro ainda na adolescência, desde o dia que seu pai deu um cartão com o dinheiro que era a conta certa do lanche e do cinema, nada além disso. “Foi um hábito que me ensinou a ser regrado. É melhor ser chamado de pão-duro do que ser intitulado de pródigo, gastador. Se saio é tudo controlado. Bebo água e como em casa, faço meu sanduiche. Sempre fiz comida em casa. Se você não cozinha, no Youtube tem muitas receitas práticas, afinal de contas você economiza muito mais”.

Cada centavo economizado vai para a reserva financeira. “O que eu economizo vai para meu futuro e o que invisto é para trazer um retorno financeiro melhor lá na frente”, afirma Ribeiro. Para ele, as lições de economia só funcionam se você torná-las um hábito.“Tudo na vida é um hábito. É preciso você exercitar e fazer repetidamente pelo menos por 90 dias até se tornar um hábito. Comece repensando no que está gastando. Tenha metas claras também do que você quer fazer com seu dinheiro”, aconselha.  2. Centavos que valem centenas O publicitário Renato Fernandes pensa que nem a galinha que certa vez encontrou um milho no meio do caminho e conseguiu transformar ele em um bolo:“É poupando centavos que se economiza uma centena. Procuro pegar aquele produto no mercado que é 20 centavinhos mais barato e tal. Porque no mês a gente compra mais de 500 pequenas coisinhas. Quando você faz a conta, já dá 100 reais sem precisar abrir mão de absolutamente nada”, afirma.Ele segue a mesma linha quando o argumento é ‘mas só custa isso’... “Digo não às compras pequenas. Sabia que corridas de R$ 10 no Uber podiam somar R$ 600 no cartão? Faço disso quase um mantra”. Para a vida financeira mais leve e o bolso mais cheio, a estratégia é fazer uma lista com todos os gastos.

“É fazer uma lista com o que você imagina que vai gastar e ir alterando ao longo do mês. Tipo assim: Almoço: R$ 400. Fim de semana: R$ 600. Passou uma semana, já corrige o almoço pra  R$ 300 e fim de semana pra R$450. Gastei menos? Ótimo! Gastei mais? Essa diferença vai ter que sair de outro item na lista”.

3. Não se encante com o consumismo Ele não compra presente de Natal, nem mesmo no Dia dos Namorados. E se for comprar alguma coisa, só no mês de janeiro que é mais favorável as promoções. A grana que seria investida nos presentes, no entanto, vai para uma reserva financeira que mantêm com a esposa. Esta é a estratégia do funcionário público Fábio Matos para viajar, pelo menos, uma vez por ano.“É tudo planejado. A gente tem esse acordo e aí tudo que gastaríamos com roupas e com presentes depositamos na reserva e depois convertemos em um retorno com um maior valor agregado, como uma viagem, por exemplo”, conta.Ele garante que não é tão fácil quanto parece resistir as tentações diárias de uma vitrine ou um notificação de uma oferta na tela do computador, mas a recompensa final vale o esforço.

“É uma batalha você lutar contra os seus desejos. Mas todo ano conheço um lugar novo, com pessoas novas e experiências novas. Coisas que eu nunca imaginei que conheceria até estabelecer isso como prioridade. No final, a economia compensa. E muito”, afirma.

4. Sonhos a curto, médio e longo prazo   Para a arquiteta Camila Passos, o segredo para tomar a decisão certa em relação ao dinheiro está na prioridade aos sonhos, ao invés de vontades momentâneas.“Dessa forma, não sinto que estou ‘deixando de viver’ para economizar, mas sim que estou economizando para viver o que realmente quero mais pra frente”.Outra lição é aprender a dizer não - para os outros e principalmente para você mesmo. “Saí várias vezes com meus amigos sem consumir nada para poder economizar, foi quando comecei a ser chamada de canguinha. Não vou gastar meu dinheiro numa festa que não quero ir de verdade, num restaurante caro que não me interessa tanto, em ir comer na rua todo dia porque o pessoal do trabalho vai”, completa a arquiteta, que tem um projeto muito bem definido para o seu dinheiro:

“Eu me recuso a comprar algo que já não esteja na minha lista. Mesmo que o preço esteja muito bom, eu vou saber que não quero isso de verdade, ou já estaria lá antes”. Se bater uma vontade de gastar, ela volta até a lista dos sonhos. “Darei um jeito de respeitar o que foi definido”, finaliza. 

5. Boas decisões “Quando somos organizados financeiramente o dinheiro passa a ser o servo e não o mestre”. Este é o segredo da educadora financeira comportamental, Meire Cardeal, que sempre guardou dinheiro desde o primeiro salário.“Aprendi com a minha mãe, Maria Carmen e minha tia Maria Cleonice,  que me ensinaram que quem guarda tem. O pão duro ele consegue a autonomia, liberdade, independência financeira”, afirma.Ela só saía com o dinheiro certinho na bolsa. Aprendeu a cuidar do cabelo sozinha para economizar com o salão de beleza. As roupas para o filho eram bem maiores para que ele as usasse por anos. “No Natal sempre dei para as pessoas mais próximas, coisas minhas, seminovas, e com papel de presente usado, pois que sempre guardo todas as embalagens dos presentes que ganho e também embalagens que as pessoas desprezam”.

Estratégias que junto com o controle semanal, fazem a diferença. “Isso ajuda a ter em mente as despesas já incorridas versus a receita a receber e o quanto ainda pode ser gasto. Sou uma mão-fechada, mas que vivo bem a vida. Todos podem”.