Veja dicas para quem quer viver de música no verão

Estação do ano é uma boa oportunidade para quem atua na área se destacar no mercado

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  • Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/ CORREIO

O Brasil tem aproximadamente 800 mil músicos profissionais, incluindo desde fenômenos como o cantor Wesley Safadão, que durante o ano passado fez uma média de 26 shows por mês, cobrando R$ 500 mil por apresentação, até aquele violinista clássico que toca no Centro de Salvador, de sol a sol,  em busca de uns trocados atirados sobre o case de seu instrumento por pessoas que admiraram o seu trabalho.

Mas em um lugar como a capital baiana, que em 2015 recebeu da Unesco o título de Cidade da Música, quais os atalhos para quem quer buscar o caminho que vai dar no sol? Além da recém –iniciada temporada de Verão, que abre oportunidades no mundo do axé,  a Bahia tem outras portas  de entrada para o sucesso, como  as festas juninas, para quem toca forró. E experiências recentes mostram que é possível viver de música em novas áreas que estão sendo abertas, como fazer trilha sonora para games, no caso específico de compositores.

Com mais de 25 anos de atuação no rock, o produtor Rogério Big Bross é a maior referência soteropolitana em música alternativa e acompanha de perto a história de bandas baianas de heavy metal que sobrevivem da música, não apenas com seus shows na capital e em diferentes cidades do interior  (como Catu, por exemplo), mas também da venda de produtos associados ao nome dos artistas, que ajudam a fazer uma grana extra. Camisas, bottons e até cervejas artesanais servem como uma grana extra para ajudar a manter a atividade principal, nem sempre lucrativa, que é tocar nos bares e casas noturnas.

Divulgação

Mas Big vê um novo caminho para os músicos: as plataformas digitais. “Há artistas como Irmão Carlos, que estão estourando graças à divulgação em canais da internet”, ressalta o produtor,  que alerta para a necessidade de se investir dinheiro nisso.  “Saímos das gravadoras majors para plataformas como Spotify e Youtube, mas apesar da massificação da internet é ilusão apostar em divulgação gratuita”, afirma Big.

Se a relação com os canais de distribuição continua tão complicada quanto na época dos LPs, o produtor vê uma mudança importante na estratégia. “Para quem quer ter seu trabalho conhecido pelo público é melhor lançar uma música de cada vez, e depois consolidar um álbum, do que apostar no formato antigo”, afirma.

Diferencial

Graças a um filme dos Irmãos Coen Oh, Brother, Where art thou, a Bahia ganhou um músico especialista em banjo de cinco cordas. “Acho que foi a primeira vez que ouvi bluegrass (música tradicional dos Estados Unidos).  “A sonoridade toda me chamou a atenção”, diz Vitor Rios, o Gigito, provavelmente o único baiano a tocar esse instrumento aqui  mesmo no estado.

Membro da banda Muddy Town e parceiro em um projeto paralelo com o  baixista Daniel Iannini, Gigito aproveita também a sua singularidade para gravar com  artistas de outros gêneros. Sempre que alguém precisa de um banjo de cinco cordas, lá está ele.

Uma estratégia que Gigito usou para divulgar a sua música foi produzir 80 CDs e levar para os shows e vendê-los diretamente ao público após a exibição. “Em pouco tempo, vendemos quase tudo”, conta o banjista, que é formado em Composição pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Daniel Iannini, por sua vez, abraçou o baixo meio por acaso. Músico desde a adolescência, ele tocava violão em algumas bandas de amigos, até que um dia faltou um baixista e perguntaram  se ele não topava o desafio. Acabou se apaixonando e hoje divide o tempo entre o curso de Direito na Ufba e a agenda de shows por bares de Salvador e em viagens ao interior.

“A advocacia pode me dar uma segurança financeira, mas o que e quero mesmo é viver de música”, diz Iannini.  Mas além de shows e venda de CDs, o mercado profissional para músicos se ampliou com a gravação de jingles publicitários e, mais recentemente, a composição de trilhas sonoras para jogos. Em alguns casos, dá para ganhar uma nota. 

O CAMINHO PARA VIVER DE MÚSICA

Tharcisio Vaz, compositor  “Eu sempre gostei  de jogos. Quando era criança e ia ao escritório de meu pai, aos 5 anos, eu ficava usando o computador dele, um 386, para brincar. Depois que me formei  em Composição pela Ufba, fui fazer um intercâmbio no exterior, e conversando com amigos, percebi que havia espaço para ganhar dinheiro fazendo trilha sonora para jogos. Em 2012, participei de um concurso e fiquei em primeiro lugar. Depois descobri o Bind (Bahia Indie Games Developers), um coletivo de mais de 300 donos de estúdios, desenvolvedores de games e entusiastas da área. É um grupo que tem o objetivo de promover a troca de conhecimento e a criação de redes.  Além de fazer trilhas sonoras, com o que é possível ter uma boa remuneração,  comecei a desenvolver meus próprios projetos, o que financeiramente é ainda melhor porque eu sou idealizador. Recentemente, lancei um audiogame chamado Breu, em que o protagonista do jogo , Marco, é cego. Eu inseri na casa dele um som de tatear, assim, toda vez que ele interage com um móvel soa esse sinal, que serve para guiar o jogador, como se ele estivesse procurando o local correto para colocar a mão. Propositalmente, todos os sons de Breu são exagerados. Para orientar o jogador.  Tenho meu próprio estúdio e descobri um caminho novo para viver de música".

DICAS

Diferencial  Há muita gente com talento, mas nem todo mundo vai ser um ídolo pop. Se você tem interesse em seguir carreira musical estude muito e, acima de tudo, seja ousado buscando curiosidades sobre outros instrumentos que não conhece e novas técnicas vocais para surpreender a todos, inclusive os colegas de profissão. Quanto maior for o seu diferencial, mais chances de ser chamado para tocar com outros artistas.

Profissionalismo  Em 2017, Lady Gaga cancelou a sua vinda ao Rock and Rio porque não estava disposta. Ela pode. Mas enquanto você batalha um lugar ao sol, vá a cada apresentação em barzinho que conseguir. Não aparecer em um compromisso pode ser prejudicial a sua carreira.

Remuneração   A maioria dos bares com música ao vivo cobra um couvert e repassa parcial ou integralmente o valor arrecadado para os artistas. Para evitar desconfianças, algumas bandas escolhem um amigo de confiança que fica na portaria cuidando dos ingressos. E há bares que trabalham com o esquema do baldinho, em que cada cliente contribui voluntariamente para pagar a atração.

Shows gratuitos Uma das maiores reclamações dos músicos é que quem contrata não quer pagar e acha que está fazendo um favor ao dar vitrine. Avalie quando é estratégico aceitar tocar sem receber para estar exposto a um público que vale a pena. Se for se apresentar por cachê fixo, o importante é não estabelecer um valor muito baixo para o seu cachê, porque você vai ter dificuldade em cobrar mais depois. Faça uma média de quanto as outras bandas cobram. Se não for possível receber o preço que você estabeleceu para o seu trabalho, talvez seja melhor cantar de graça, se compensar.

Perseverança   Busque os produtores de feiras de bairro e festivais e praças públicas da cidade; Esses eventos normalmente têm uma pessoa responsável pela seleção dos artistas que vão se apresentar, a chamada curadoria.

Pé no chão  Antes de querer sonhar com participação em grandes eventos, veja se você já está atraindo público suficiente para os shows que faz. Não adianta subir de patamar artificialmente se não tem quem vá ao festival para te ver.

Divulgação  As plataformas digitais e redes sociais são, claro, ótimas ferramentas de divulgação, mas a não ser que seu vídeo caia nas graças dos internautas e viralize porque é engraçadinho, provavelmente você vai precisar pagar para que as plataformas coloquem seu trabalho à disposição de uma audiência maior.