Vença o calor sem estourar o orçamento

Mudança de hábitos e investimentos no plantio de árvores e em telhados verdes ajudam a reduzir o desconforto térmico

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 3 de fevereiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho

Os dias estão quentes e não tem quem ignore isso. Para vencer o desconforto térmico vale tudo: ar condicionado, ventilador, bebidas geladas. O problema é que para fazer a temperatura cair, inevitavelmente, o consumo de energia elétrica tende a subir e o resultado dessa equação, além de salgado para o bolso, não faz nada bem para a saúde energética do País. No entanto, algumas mudanças de hábitos podem ajudar a refrescar o calor e ainda economizar energia.

O gestor de eficiência energética da Coelba Daniel Sarmento explica que os equipamentos que mais consomem são justamente os que geram frio (como o ar condicionado, geladeira, freezers) e calor (chuveiro elétrico, churrasqueiras e ferro de passar, secadores e chapinhas). “Por isso mesmo, o uso desses equipamentos precisa ser moderado e feito de modo muito racional”, esclarece.

No caso do queridinho do verão, o ar condicionado, a orientação do especialista é que a compra leve em consideração o dimensionamento do local onde ele será instalado. Aliado a isso, é importante cuidar da manutenção e limpeza do filtro. “Nesses dias quentes, é importante ajustar a temperatura para o confortável e não para o frio, pois não tem sentido algum ligar o aparelho para minimizar o calor e depois passar a sentir frio”, explica, ressaltando que o ajuste deve ficar em 23º.

A orientação de Sarmento é a de desligar o aparelho depois que o ambiente estiver devidamente refrigerado. “À noite, vale ajustar o temporizador para desligar o aparelho depois de três horas de funcionamento, pois nesse momento o local estará fresco e terá a temperatura menor que a do ambiente para ajudar a ter um sono mais reparador”, explica.

Para os novos aparelhos, vale levar em consideração a presença do selo Procel, que garante o baixo consumo energético.   

Ilha de calor

Pesquisadora e arquiteta do Laboratório de Conforto Ambiental da Universidade Federal da Bahia (Lacam/UFBA), Jussana Nery lembra que conforto térmico não é assunto que se resolve de modo imediato e que muito precisa ser feito na cidade como um todo para garantir a redução da temperatura.

“Historicamente, as construções em Salvador foram realizadas de modo muito aglomerado, fato que dificulta a ventilação de um modo em geral”, explica.

Como se não bastasse, ela ressalta que as áreas verdes da capital, a exemplo do Parque da Cidade e o de Pituaçu, por exemplo, não são suficientes para dar à cidade o conforto ambiental necessário.  “Cerca de 80% da cidade está habitada, fato que dificulta a refrigeração urbana. Temos, ainda, um excesso de pavimentação e muito concreto acumula calor, no entanto, nenhuma dessas questões são de resolução simples ou imediata”, diz.

Segundo a pesquisadora, a situação na capital baiana só não é pior porque a cidade é praticamente uma ilha, tendo a maior parte do seu território banhado pelo mar, mas que cada um pode ajudar de uma forma positiva: implantando telhados, terraços ou muros verdes em suas casas.

“No entanto, é importante que as pessoas saibam que não basta sair plantando nos muros ou telhados, por exemplo, é preciso levar em consideração que plantas também ampliam a umidade que já é grande na cidade. Então, se essa puder ser uma ação orientada é melhor para evitar um problema criando outro”, completa.

Vale salientar que a Prefeitura Municipal disponibiliza orientação para as comunidades interessadas em criar pomares ou hortas urbanas através do Programa Verde Perto (http://www.salvador.ba.gov.br/templates/salvador/filtro_publico_alvo.php?opcao=1)   Nesse período de férias escolares, vale incentivar as brincadeiras e a diversão ao ar livre, retirando a garotada da frente da TV ou  do computador (Foto: Marina Silva) Férias

No período de férias, quando a maioria das pessoas estão em casa, especialmente as crianças, é natural que haja um aumento no consumo, mas as famílias podem e devem incentivar mais atividades ao ar livre, além de limitar o tempo diante do aparelho de TV ou dos eletrônicos.

Quando a escolha do eletrodoméstico gira em torno da refrescância, vale lembrar que os ventiladores podem ser bons aliados no conforto e na economia. No entanto, vale ressaltar que o consumo de energia variará de acordo com o aparelho e sua potência, que fica sinalizado por meio dos watts, quanto maior o número de watts, maior o consumo.

Daniel Sarmento esclarece que, em virtude da abrangência, os ventiladores de teto podem ser melhores que os de chão, mas de qualquer forma, vale a pena avaliar o aparelho em si. 

As geladeiras também precisam de um cuidado especial nesse período. O representante da Coelba esclarece que para manter a temperatura fria a geladeira consome muita energia, especialmente se precisar trocar calor com o ambiente. Por isso mesmo evite o abre e fecha constante. “Geladeira não é lugar de pensar na vida, logo, só abra quando for pegar alguma coisa ou colocar algum alimento”, diz.

O especialista faz questão de lembrar que, para o bom funcionamento, o aparelho necessitará de manutenção periódica, especialmente no que diz respeito às borrachas de vedação que devem ser trocadas para não ressecarem para evitar a perda de temperatura.   

Hábitos e saúde

O verão pede que um dos hábitos mais comuns no final de semana ganhe outros dias da semana.

Se vai fazer churrasco, deixe a churrasqueira elétrica guardada e opte pelas que usam o gás ou o carvão. “As churrasqueiras elétricas possuem um consumo altíssimo e podem se tornar um vilão no final do mês”, explica Sarmento. 

No mais, é fundamental lembrar que nenhum equipamento deve permanecer ligado se ninguém estiver usando. Sempre que possível, invista nas lâmpadas de led que geram uma economia de 40% no consumo quando comparada com as tradicionais. 

O calor não é apenas uma ameaça para economia doméstica. Só para se ter uma ideia, de acordo com um dado publicado na revista The Lancet Countdown, a capacidade de transmissão do vírus da dengue global em 2016, levando em conta que ela é influenciada por umidade, chuva e temperatura, foi a mais alta já registrada: subiu 9,1% para o Aedes aegypti e 11,1% para o Aedes albopictus (tipo silvestre) em relação ao ano anterior.

Embora o estudo não se debruce especificamente sobre essas questões, é importante salientar que o calor também dilata os vasos provocando uma sobrecarga na circulação sanguínea. Temperaturas mais altas ampliam os riscos de alergias e erisipela, infecção na pele provocada pelo aumento de bactérias e que pode provocar alterações dos vasos linfáticos. Venda de aparelhos para reduzir o calor bate recordes nesse verão. Para não estourar o orçamento, conheça bem o produto que será adquirido (Foto: Evandro Veiga) Recordes

Na última terça-feira, dia 22, o site de vendas OLX registrou a venda de 59 ventiladores e aparelhos de ar condicionado por hora. Naquele dia, as cidades de Brasília (DF), Goiânia (GO) e Campo Grande (MT) atingiram a temperatura mais quente do ano, com 31,4°C, 35,8°C e 36,7°C, respectivamente. O aumento da temperatura fez com que as vendas crescessem 15% nos primeiros 20 dias de janeiro em relação ao mesmo período do ano passado.

O calor é tanto que a venda de ar condicionado nesse início de 2019 foi  até 3,5 vezes maior que a de ventiladores. Na mesma época, mais de 62 mil unidades desses eletrodomésticos foram anunciadas na OLX e a quantidade de vendedores desses itens subiu 26% na comparação com o mesmo período do ano passado. Os estados que tiveram a melhor performance de venda desses dois eletrodomésticos nos 20 primeiros dias do ano foram Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Alagoas.

Já os que registraram mais anúncios foram São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas. Como não dá para ter um ar condicionado portátil e pessoal, e tão pouco andar carregando gelo na cabeça, o ideal é manter o corpo hidratado, fazer refeições leves, não esquecer o protetor solar e lembrar que a redução da temperatura global é uma responsabilidade coletiva (Foto: Betto Jr) Cabeça de geloSempre que for comprar um aparelho de ar condicionado, verifique o dimensionamento do local onde ele será instalado e a capacidade de refrigeração do aparelho; Ventiladores de teto ou solo podem ser bem eficientes, mas também é necessário verificar o consumo para não pesar na conta de luz; Verifique se a borracha da geladeira está vedando direito. Do contrário, efetue a troca; Evite abrir e fechar a geladeira todo o tempo; Fuja das chrrasqueiras elétricas no verão. Troque pelas churrasqueiras à gás ou carvão; Se hidrate bem, use roupas leves, repelentes, chapéus e bonés, pois o calor também afeta a saúde; Incentive as brincadeiras ao ar livre com as crianças, mas não se esqueça de protegê-las com bonés, chapéus, protetor solar e roupa anti UV; Não desmate. Busque plantar árvores na sua rua ou condomínio; Se for possível, chame os vizinhos para que eles plantem também. Jardins, hortas ou pomares comunitários são opções eficientes contra o calor e ainda podem promover uma melhora na alimentação